03/08/2006
Logo mais a maquete enquadrada na janelinha do avião será Barcelona, depois Espanha e a Europa. Se eu ampliar mais a escala provavelmente estarei no avião errado... Cruzo o oceano Atlântico de volta para meus sabiás e de volta ao impávido colosso, seja lá o que isso for.
Não tenho mais dias aqui, tenho horas e minutos, umas míseras duas voltas dos ponteiros. 6 meses ficaram no espelhinho retrovisor, mostrando o meu passado, nunca à frente, sempre do meu lado. As avenidas e ruas que eu escolhi, as praças e bancos, gramados e pontes. Essa cidade já sou eu, cada esquina, cada bar, cada ponto turístico e cada ponto de interrogação.
Ela foi o ar que respirei, a força da gravidade que me segurou e o céu que me cobriu. Barcelona foi minha mãe, Gaudi foi meu pai e Pablo Picasso um primo distante. O Parc Guel foi meu quintal, Barceloneta minha piscina. Futebol na Ciudadella aos domingos e toda quarta às 9 horas na Plaza Universitat. O mapa companheiro virou minha mão, mais precisamente a palma dela.
Foi aqui que construí minha segunda família, um quebra cabeça, um mapa mundi. Um pouco Dali, um pouco daqui, um pouco muito do que eu precisava. Vi o mundo dentro de uma única cidade, vivi 24 horas na rua: eu vi de tudo!
Trabalhei muito até desejar ardentemente a ordinária sexta-feira, descansei tanto que não via a hora de uma segunda. Ganhei meu primeiro salário e liguei pra minha mãe chorando para contar, não o dinheiro, mas a recompensa. Acordei cedo, peguei metrô, ônibus, baldeação, greve e manifestação. Eu fui mais um na multidão que se aglomera em busca de assento.
Suei, sujei o pé, pisei descalço, fui culto e burro, errei e pedi desculpa. Conversei com as pombas e com a lua. Fui santo e louco, criança e velho, o paradoxo entre o antes, o outrora, a noite e o dia. Atrevo-me até a dizer que cresci. Melhor não, atrevimento demais. Eu não sou mais o mesmo e ponto.
Barcelona fica para trás em algum canto, um canto de mim que já não sabe mais aonde se guardar.