13/03/2025
Por Ana Alcantara
SG: Conte sobre o Marcos Nena na política?
MN: Na minha carreira, foram três mandatos consecutivos como vereador, duas presidências da Câmara, e antes de chegar no transporte, eu fui do Desenvolvimento social e também do Trabalho e Emprego. Fui eleito a primeira vez na primeira gestão do prefeito Carlão Camargo. Comecei em 2008, 2009... já faz uns 16 anos nessa tonada.
SG: A pasta do Trânsito e Mobilidade tem grandes desafios. Quais os maiores?
MN: Sou movido por desafios e gosto de mobilidade. A cidade sofreu uma mudança no zoneamento nos últimos tempos, muito pesada. Muitos caminhões dentro da cidade e a questão do transporte público. As nossas principais vias estão em zona de uso misto. Tem comércio, galpões e residências em uma mesma via. Como no caso da São Camilo e da estrada do Capuava. Ficamos com tudo junto numa mesma via. E foi tudo de uma gestão que nós estamos dando sequência ao ato contínuo da administração pública. Vamos procurar agora readequar tudo isso e dar fluidez.
SG: O novo Plano Diretor faz muito sentido nesse momento então?
MN: Faz totalmente sentido. Lembrando que o problema não é só a verticalização. Vou dar um exemplo. O valor do metro quadrado nas margens da Raposo tem o valor X. Esse mesmo metro quadrado em uma outra via tem o valor menor Y. Acaba que os comércios, casas e galpões , se concentram nas ruas com imóveis de menor valor. Nós temos um grande desafio, readequar o zoneamento. A cidade teve um boom imobiliário, precisou ter, se desenvolver. Cotia não é a única cidade com problemas de mobilidade.
SG: Então é uma questão estadual?
MN: A grande São Paulo, na sua essência, lá em 1939 foi desenhada para ter rodovias. Se você falar da região oeste, você vai falar da Castelo Branco, Raposo Tavares, Régis, Anhanguera, Bandeirantes, expandindo para Dutra, Trabalhadores e fechar com a Anchieta. (Enquanto fala Nena desenha uma espécie de Sol, onde os raios são as rodovias citadas). Exatamente o círculo da grande São Paulo. Mas é que nós temos um olhar fixo para Cotia. Se você pegar hoje a Régis e a Dutra, elas estão enfrentando o mesmo problema. Todas as rodovias que chegam à capital estão com o mesmo problema. Excesso de veículos e pouca oferta de transporte público.
SG: Vamos falar de transporte público, então?
MN: Recentemente, a Folha de São Paulo trouxe a matéria reportando que as pessoas estão utilizando cada vez menos o transporte público e mais o transporte individual. O transporte de duas rodas foi outro boom no Brasil comercial. Acabou sendo uma opção da mobilidade para essas pessoas. Precisamos levar a questão para o CONISUD e CIOESTE para que os municípios pensem juntos em soluções.
SG: Já que falamos em transporte público, e a Danúbio? E os ônibus sucateados?
MN: O contrato foi prorrogado por mais três anos. A nova legislação estadual coloca que a frota precisa ter no máximo dez anos. Eles atuaram no passado com mais de dez anos. Até novembro, dezembro, eles rodaram com ônibus bem sucateados. Fizeram cabalmente o uso da lei. Enquanto não estava regulamentado, eles tocaram. Aquela brincadeira de torcer até o bagaço. O transporte público não é um assunto da varinha mágica. Porém, precisa ser enfrentado e nós estamos enfrentando. Seguindo a nova legislação, fazendo a troca dos ônibus para que tenham ar-condicionado, ponto Wi-Fi, atendimento mais humanizado. A frota precisa dar um atendimento melhor. Nós estamos agora para regulamentar a questão do direito do cidadão, do usuário, fazer a reclamação fora da ouvidoria do município, ter a conexão direta com a empresa. Estamos agora exigindo a transparência das linhas, informando no site todas essas mudanças e criação de outros canais de comunicação. Teremos fiscais também nos finais de semana.
SG: Uma das promessas de campanha foi Tarifa Zero. Como está essa articulação?
MN: Nesses próximos 3 anos, mesmo com esse contrato, o prefeito tem uma determinação de implantar a tarifa zero aos finais de semana.
SG: E quais as prioridades?
MN: Executar o plano de governo. Não podemos negar a proposta nossa. Não é justo. Nem com a sociedade, nem conosco. É uma mudança estrutural muito forte. Temos o problema do trânsito e do transporte público, que é o meu gargalo. Já que eles (Danúbio) apertam, a gente aperta também. Porque eu disse, vamos focar nas obrigações. É o ponto de partida.
SG: Você veio das gestões do Carlão, do Rogério, e agora está na gestão Formiga. Você fica confortável em falar sobre as diferenças que você está vendo?
MN: Cada uma viveu o seu tempo. Cada gestor tem o seu estilo, a sua personalidade. E as três são distintas. Eu trago aqui um recado do coração do nosso atual prefeito. “Melhorar o transporte público.” Acabou de publicitar o decreto de 2019, implementando a tarifa municipal do Jardim Japão de Caucaia até Cotia. É muita coragem. Esse é coração. É a política para a ponta, para o cidadão ser beneficiado. O município tem que ser beneficiado. A administração pública precisa devolver à municipalidade o que é de direito dela.
SG: Agora vamos falar da Nova Raposo? A Eco Rodovias ainda não assinou o contrato, o que você está achando disso tudo?
MN: Você acha que eles vão deixar a grande São Paulo saber? Não vão adiantar pra nós. Primeiro eles vão garantir o que eles almejam. Depois vão discutir conosco. A mobilidade interna, o prefeito não vai abrir mão. Nós não estamos dispostos a fechar nossas vias para favorecer a Nova Raposo. Nós estamos aqui focados em interligar bairros. É a chamada mobilidade interna. A determinação do prefeito é trabalhar a mobilidade interna. A partir da semana que vem, eu tenho um engenheiro aqui para começarmos a desenhar a cidade e planejar. Eu quero começar falando sobre a questão do retorno do quilômetro 23. Aquela mão inglesa, naquela ocasião, se fazia necessário. Nós éramos uma população ali de 200 mil habitantes. Somos hoje uma população de 300 mil. Precisa lembrar que por aquela mesma via passa hoje quem vem de Carapicuíba, de Jandira, parte de Barueri, parte de Vagem Grande Paulista e a cidade de Cotia. Não é só o fluxo do The Square e Dona Deola. Pessoas vêm de Osasco, para fugir até do retorno do Carrefour, no km17, cortando pela Santa Isabel.
SG: Qual a proposta?
MN: Precisamos discutir, se for o caso, em Audiência Pública. Pela manhã, no horário de pico, para dar fluidez, nós vamos forçar a utilizar a Zurique, Marcélia e a Estrada da Aldeia. Eu preciso pensar na mobilidade do transporte público. Segundo ponto: A rua Adib Auada (atrás do Shopping da Granja). Nós ali estamos com mão única, somente descendo, quando nós estamos na contramão da necessidade. Vamos levar isso, a proposta de mão dupla a frente, tirando pelo menos mil veículos diários da Rodovia Raposo Tavares, fazendo com que, na hora do rush, não precise passar pelo retorno do 23. Para quem vai para Recanto Suave, tem a opção ainda de ter acesso dentro do bairro, saindo ali pela Antiga Água Pluma, ou, se for necessário, pela Estrada do Espigão.
SG: O projeto do DER tinha uma proposta parecida né? A cidade gastou cerca de 6 milhões. Como está isso?
MN: Exatamente. Ali veio a questão João Dória que afirmou que prosseguiria, mas não continuou. Agora, quando eu for discutir a mobilidade interna da Nova Raposo, nós vamos tentar implantá-lo. Já mudaram o projeto Lote Nova Raposo por causa das manifestações e tudo mais. E vão ter mais mudanças ainda.
SG: Sabemos que é plano do Governo do Estado povoar ainda mais essa região. Como você enxerga isso?
MN: A cidade tem 325 quilômetros quadrados. Ela precisa crescer ainda. A questão industrial também precisa crescer. Nós temos o rodoanel passando no meio da cidade. Tem a duplicação da Bunjiro Nakao, rodovia que escoa toda aquela produção do CEASA, passa pela Raposo. Temos o crescimento daqui para o Porto de Santos, com muita proximidade. Nós temos dentro de Caucaia do Alto, uma linha férrea que liga com o centro-oeste do país, que passa dentro da cidade e está sob responsabilidade inteira do Governo do Estado. Projetos sob trilhos não avançam no Brasil. Nenhum andou. O Furafila do Pita é um bom exemplo. O VLT (Veículo Leve sob Trilhos), ele é bom, mas o impacto dele é a mesma coisa que o da Nova Raposo. O tempo de obras demora do mesmo jeito. Ele leva esse tempo a ser desenvolvido. O metrô fez toda a sondagem com Cotia. Conversando com um técnico na área de mobilidade, que me disse que a extensão até a Henrique Schaumann, saindo do terminal rodoviário de Cotia, até o Sumaré, levará uma hora e trinta. Se a Raposo não tiver trânsito, você vai de metrô ou você vai de carro? Você vai de carro. Se não tiver trânsito? Vai de carro. Ele falou que a forma que fizeram o desenho para ter o volume necessário de 600 a 700 mil usuários por dia, era necessário passar por Cotia, pegar Osasco e daí partir para a capital. A conta já não fecha. Cotia não é prioridade, é longo prazo a questão do metrô. No Lote Nova Raposo, vai constar o canteiro do VLT, mas não constou obrigatoriedade por parte do Governo do Estado fazer. Mas eu entendo que eles estão seguindo uma tendência. O transporte público vai ser cada vez menos utilizado.
SG: Mas isso vai contra a realidade dos extremos climáticos. Só na ligação Cotia – Embu serão cerca de 350 nascentes impactadas. Não se preocupam com a parte ambiental?
MN: A preocupação prioritária é a questão ambiental, mas hoje, Cotia está dentro de um cinturão verde. Se você pega a Régis sentido interior, o lado esquerdo, ele está todo protegido já, para preservar a transposição para a Cantareira que faz parte do Sistema São Lourenço. O fato de ter tido apenas duas audiências públicas da Nova Raposo: Uma no DER com 10 pessoas e outra em Vargem Grande com 40, locais que não pertencem ao Lote Nova Raposo.
SG: Na envergadura do projeto, não houve audiências públicas e divulgação. O que você acha disso?
MN: Eu discordo da forma que eles fizeram e da forma que o governo passado tratou a audiência pública da Nova Raposo. Somos o município mais impactado com a privatização da Rodovia. Ela não poderia ter sido designada. Teria que ter feito essa audiência pública dentro da nossa cidade. E dado ampla publicidade. Para que a sociedade pudesse participar. Eu mesmo soube pela grande imprensa. Quando eles tiveram permissão, de Cotia, para mim, já foi um grande problema.
SG: Tem mais planos para desafogar a Raposo atuando na malha viária da cidade?
MN: O fluxo do Parque Industrial São José é pensado saindo da Rua dos Agrimensores e fazer o trajeto pela rua Isaac Pires, que é popularmente ali a estrada do Pesqueiro Hara. Quando eu tiro todo esse pessoal do São José, eu estou falando da ligação com Portão, Recanto dos Victors, Quinta dos Angicos, Colina de Cotia, Jd. Sandra, São Miguel, Panorama e Petrópolis. Olha que vantagem!
SG: Fazer corredores de ônibus que liguem Cotia ao trem de Itapevi e outro de Cotia para Carapicuíba, não desafogaria ainda mais a Raposo?
MN: A faixa de Cotia a Itapevi está pronta. Paramos aqui no Jardim Mirizola. Andamos menos de 2 quilômetros e temos um ginásio no meio do caminho que pertence a Itapevi, isso teria que ser realizado pelo governo do Estado.
SG: Então precisaria ser um projeto cooperado?
MN: Nós precisamos falar sobre os consórcios. Quando você falou de Itapecerica, Taboão, Embu, Vargem Grande, Juquitiba, falamos de CONISUD. Quando falamos de Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Jandira, Osasco...falamos de CIOESTE. No caso da rua Zurique (paralela a São Camilo), ela está pronta para receber veículos. Isso liga com Carapicuiba, Jandira, Barueri, Osasco. Eu só posso fazer até as divisas. Precisamos levar essa discussão para o consórcio. Eu quero chegar no segundo semestre com essa discussão. Estou te dando a primeira mão. Não há possibilidade de nós falarmos no primeiro semestre. Defendemos 100% os interesses da cidade de Cotia. Nós não estamos dispostos a flexibilizar como aconteceu no governo passado a flexibilização sobre a implantação da Nova Raposo sem audiência pública. Não estamos dispostos a flexibilizar como aconteceu na questão do Geraldo Alckmin enquanto Governador, que dividiu a cidade(2005) sem ter mais alças ou túneis de passagem, tanto para o pedestre como para o usuário e sem colocar sobre a responsabilidade deles o transporte público de massa. Nós não estamos dispostos a abrir a mão disso. A nossa prioridade é contrapartida para a mobilidade interna. A Raposo nós já perdemos parte do poder.
SG: Há outras soluções para mobilidade na cidade?
MN: Precisamos pensar no novo modal de transporte com micro-ônibus, vans, para levar até o terminal, jogar os expressos onde precisa, atender trabalhadores dos condomínios. Temos que redesenhar. É um sofrimento geral.
SG: Agora vamos migrar para o histórico do Marcos Nena. Como entrou na política?
MN: Eu sou evangélico e venho para representar essa classe. Hoje já ganhamos classificação no IBGE. Antes só havia opção de católico, ateu e outras religiões. Então eu entrei nessa luta em 2000. Persistência, muito trabalho e sempre com a preocupação social. Por meio da Igreja entrei nessa porta e hoje consegui, depois de 24 anos, poder servir a todos. Hoje nós temos uma representatividade na Câmara muito forte da liderança comunitária. Pode prestar atenção. A Câmara hoje é composta, como a gente diz, pelo chão de fábrica. Antes era uma elite que ocupava o Poder Legislativo. Hoje é mais popular.
SG: Qual a sua missão?
MN: A minha missão é melhorar a mobilidade cotidiana. Hoje eu tenho dentro desse governo, contribuir com o prefeito Welington Formiga e melhorar essa mobilidade. A nossa prioridade é o transporte público. Já na outra mão, paralelo, trabalhar na mobilidade interna.
SG: Onde você nasceu e por onde andou?
MN: Eu só nasci em São Paulo, vivi em Osasco até os oito anos (1981). Em 1982, cheguei em Cotia e não saio mais. Trabalhei em iniciativa privada, fui assistente financeiro, assistente administrativo. Me formei em Gestão Pública. Sou pai dos gêmeos João Marcos e Marcos Vinicius com minha esposa Elaine que é pedagoga.
SG: Tem alguma coisa no seu currículo que você gostaria de destacar?
MN: Olha, quando nós conseguimos resolver a questão da AES Eletropaulo, foi uma vitória. Lembra que tínhamos uma queda de energia aqui em Cotia por volta de 2014? Nós conseguimos solucionar, fizemos as exigências, convoquei a audiência pública em 2010 na Câmara e ali nós começamos a ter um avanço. Trocaram todo cabeamento da Raposo Tavares, fizeram um investimento muito alto pra diminuição da queda de energia. Nessa época eu fui presidente da Câmara e nos destacamos. Contribuímos também com a vinda da ETEC, FATEC e SENAI.
Se você tivesse apenas uma “canetada”, qual seria?
MN: Melhorar 100% o transporte público e se necessário for, criar uma autarquia municipal, criando uma empresa pública para prestarmos um ótimo serviço e implantarmos a tarifa zero.