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Onda de calor vai durar e pode quebrar recordes

18/02/2025



Neste mês de fevereiro, o Brasil enfrenta uma onda de calor sem precedentes, com temperaturas até 7°C acima da média em várias regiões.

Capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia estão sendo extremamente afetadas, conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Essa situação deve persistir até pelo menos o dia 24 de fevereiro, afetando o clima e a rotina dos brasileiros.

A razão para essa escalada nas temperaturas é um bloqueio atmosférico que se instalou no centro do país. Este fenômeno consiste em sistemas de alta pressão que intensificam a circulação do ar, elevando as temperaturas e dificultando a formação de nuvens de chuva. De acordo com especialistas, para definir uma onda de calor, as temperaturas precisam permanecer 5°C acima da média por um mínimo de cinco dias consecutivos.

Muito calor muito tempo

Uma estufa de calor extremo e prolongado aprisiona a partir desta semana as áreas mais populosas do Brasil. Sudeste, partes do Centro-Oeste, Nordeste e Norte do Paraná devem sofrer com temperaturas até 7°C acima da já elevada média, posto que fevereiro está no auge do verão.

O Sul, que chegou a registrar perto dos 44ºC nos últimos dias, deve ter redução das temperaturas, mas seguirá quente. 

A previsão para os próximos 15 dias, até onde é possível prever com maior margem de acerto, é de muito calor e chuvas abaixo da média, no Sudeste e em partes do Nordeste — afirma o coordenador de operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o meteorologista Marcelo Seluchi.

A onda de calor chama a atenção pela duração e intensidade. Esperam-se temperaturas diárias superiores a 35ºC  medidos na sombra e sensação térmica acima de 50ºC. Nas ruas, sob o sol, a temperatura é bem maior do que a aferida pelas estações meteorológicas, que precisam estar em locais à sombra nas horas mais quentes e com sensores a pelo menos 1,5 metro do solo. 

O Brasil virou uma air fryer

O coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Mudanças Climáticas da USP, Tercio Ambrizzi, observa que essa é a quarta onda de calor do ano que mal começou.

“O calor no Brasil está mais para bolha turbinada por uma air fryer. Temporais podem ser pontuais, como os alertados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), mas não farão nem cosquinha na potência do sistema de alta pressão sobre o país. E as temperaturas elevadas aumentam seu potencial destrutivo, a exemplo do que tem ocorrido em São Paulo”, diz Ambrizzi. 

O sistema de alta pressão atmosférica, ou anticiclone, está estacionado sobre parte da América do Sul — Paraguai e Argentina também fervem. Ele esquenta o ar por compressão. Empurra e comprime o ar para baixo e faz com que esquente. Forma um escudo invisível, ou bloqueio. Trava a atmosfera. Assim, onde está quente permanece quente. Ele também seca o ar e impede a formação de nuvens. Com isso, se retroalimenta. Se não chove, segue esquentando, e porque segue esquentando, não chove. 

“Bloqueios sempre existiram, mas nos últimos anos têm se tornando mais frequentes, com grande impacto para a sociedade” observa Ambrizzi.

Rios de calor

Além disso, explica Marcelo Seluchi, há o transporte de ar da Amazônia, os jatos ou famosos rios voadores, normalmente úmidos. A Amazônia já é naturalmente quente e à medida que esses rios passam pelas tórridas regiões Centro-Oeste e Sudeste, vão secando e aumentando de temperatura. 

Há uma relação entre temperatura e umidade chamada temperatura potencial equivalente. Se parte da umidade é perdida, a temperatura sobe. 

Assim, os rios atmosféricos ficam mais para rios de calor do que para canais de umidade. Trazem muito calor e quase nada de chuva. Como super airfryers, carregam temperaturas típicas de regiões mais quentes, como a Amazônia, para o Sudeste. 

A La Niña está vigente, mas muito fraca

A La Niña, que poderia trazer algum refresco para partes do país, à exceção do Sul, segue como natimorta no Pacífico Equatorial. Seu único impacto até agora tem sido negativo, ao reduzir a chuva no Rio Grande do Sul. E o Atlântico permanece excepcionalmente quente, exportando calor para a América do Sul. 

“O esperado este ano seria uma redução da temperatura dos mares, como costuma ocorrer após um El Niño”, diz Regina Rodrigues, professora de oceanografia e clima da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenadora do grupo que estuda o Atlântico e suas ondas de calor da Organização Meteorológica Mundial (OMM). 

Estima-se que os oceanos absorvam cerca de 90% do excesso de calor. Mas Rodrigues adverte: se a água superficial dos oceanos ficar muito quente, talvez não se misture mais com as camadas frias, como seria normal. E, assim, possam estar deixando de absorver calor. 

A água quente tem densidade menor que a fria e a diferença pode ter chegado a um ponto que não estejam mais se misturando. Com isso, a superfície dos mares segue quente, afetando o clima.

— Se a La Niña não se estabelecer, será muito ruim. Infelizmente, só conseguimos ver um cenário de calor — enfatiza Rodrigues."


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