31/01/2025
Por Ana Alcantara
Agitando as estruturas, Ana Paula tirou o sofá do gabinete e colocou no lugar a escuta como ponto de partida para seu mandato, em uma grande mesa de reunião, pois acredita que equipes fazem a diferença. Nesta mesa iniciamos a entrevista:
SG: Conta pra gente como chegou até aqui e seus passos nessa jornada
Ana Paula: Sonhava em ser professora desde pequena. Me formei no magistério aos 18 anos, casei aos 20 anos, tive 4 filhos e meu ex-marido não apoiava meus estudos. Fui voltar a estudar depois de muito tempo. Em 2009 me formei em pedagogia e nesse ano já iniciei uma pós e desde então nunca mais parei de estudar. Aprofundei em formação de professores, área que eu amo! Em 2018, já lecionando no Embu, município que tinha um convênio com o Mackenzie , iniciei meu mestrado sobre “Distúrbios do desenvolvimento”. Em 2022 entrei no doutorado onde estou pesquisando sobre “Problemas emocionais e comportamentais pós Pandemia de crianças de 0 a 5 anos”. Vemos o impacto da Pandemia, uma delas é o uso das telas.
SG: Você concorda com a lei que proíbe uso de celulares nas escolas?
Ana Paula: Acho que não tem que ter mesmo e tudo isso precisa ser bem ponderado. Hoje é um recurso que crianças e jovens usam muito. Todo mundo usa muito. Precisamos montar atividades em que eles tenham acesso a essa tecnologia de forma planejada, monitorada e coordenada.
SG: Voltando ao Embu, como sua carreira se desenvolveu por lá?
Ana Paula: No Embu fui de professora até assessora de gestão pedagógica. Cheguei a ser braço direito do secretário de Educação. Tenho uma carreira de 26 anos na educação do município. Ano passado fui secretária da pasta no Guarujá que me deu uma vasta experiência. Moro no Jd. Petrópolis em Cotia, ir e voltar todos os dias do litoral, ficou inviável e agora estou aqui.
SG: E como aconteceu se tornar Secretária de Cotia?
Ana Paula: Estava numa reunião em outra cidade, Formiga já estava eleito e contei pra ele que sou sua eleitora. Nesse evento ele me convidou para ser Secretária e disse: “Gostei de você, seu currículo pode ajudar na rede, você é moradora, professora.” Aceitei com alegria. E digo mais. Foi em Cotia que iniciei minha carreira de docente concursada em 1998 e meu marido leciona na rede de Cotia há 23 anos. Conhecemos bem a realidade da cidade.
SG: Neste primeiro mês de gestão você conseguiu dar algum passo importante?
Ana Paula: A gente pode sonhar o que a gente quiser, quando começamos a conta-gotas a realizar o sonho. Comecei aqui na Secretaria com acolhimento, a ouvir as pessoas. Trabalhei no RH do Embu com Clima Organizacional e consigo identificar as pessoas que estão machucadas, mal tratadas... o primeiro passo é ouvir essa pessoa para já dar encaminhamentos de reorganização, fluidez no trabalho e fazer intersecção entre os setores. Mudanças simples que fazem a maior diferença no fluxo de trabalho que já estou promovendo.
SG: Me conta de seus sonhos?
Ana Paula: Tenho muitos sonhos. Identificar em crianças pequenas seus grandes potenciais. Fazer um conselho mirim, onde a criança tem voz ativa naquilo que ele pode escolher, colocá-la para participar das decisões. Identificar potencialidades nas crianças, jovens, adultos da EJA(Educação de Jovens e Adultos)
Outro sonho é melhorar o salário dos profissionais da educação. Qual o profissional que trabalha com 30, 40 pessoas ao mesmo tempo, durante um período de tempo tão grande. O salário de professor precisa ser melhor, pois a responsabilidade é enorme. Pode ver que números de afastamento por saúde entre trabalhadores, a docência é a que mais tem casos. A saúde mental dos professores precisa de cuidados. Quero trazer esse projeto para Rede, cuidar de quem cuida. Investir no professor, diminuir a rotatividade e dar mais condições para ele lecionar aqui. Melhorar o salário do professor deixa a profissão e a cidade mais atraente para eles.
Pretendo montar uma grande equipe multidisciplinar com profissionais de pedagogia, psicologia, psicopedagogia, assistente social para darem auxilio à rede. Já estou trabalhando nisso e já temos os profissionais, mas estavam com outras funções. Só falta Assistente Social, profissional que estando presente diminui o impacto na saúde, no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), no Desenvolvimento Social, no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), você mexe em diversas secretarias com uma ação direcionada. O Assistente Social vai até a escola e entende o contexto de forma ampliada. Essa equipe ou essas equipes, quero deixá-las robustas para atender as diferentes “Cotias” dentro de nossa Cidade.
SG: E sobre desafios?
Ana Paula: Educação especial é um desafio pelo fato de Cotia ser uma cidade bem grande e com número alto de deficiência. Hoje temos muitos instrumentos para fazer o rastreio e entender o diagnóstico. Quanto mais cedo faz o diagnóstico, melhor a vida adulta será.
Outra questão bem desafiadora são escolas sucateadas precisando de muita, muita manutenção. Vamos fazendo aos poucos e com planejamento. Peguei uma secretaria que falta o básico: Professor e Infraestrutura. Não havia planejamento. Agora teremos e já estou fazendo. Quando a gente planeja, a gente consegue, inclusive a longo prazo. O governo Federal inclusive exige isso de nós.
SG: Quais são suas prioridades?
Ana Paula: Professor em sala de aula HOJE.
SG: Você está lendo alguma coisa?
Ana Paula: (gargalhada) É o que mais faço por conta do doutorado. Leio bastante sobre Transtorno do Espectro Autista . Sou uma apaixonada pela educação especial. Eles têm potenciais diferentes que precisam ser entendidos e ressaltados. Educação em período Integral é outro tema de pesquisa, inclusive lendo sobre iniciativas inspiradoras e que deram certo em outros municípios.
SG: Alguma coisa importante que as pessoas saibam sobre você?
Ana Paula: Sou apaixonada pelos seres humanos. Tento sempre identificar o melhor de cada um. Ninguém sabe o que essa pessoa que faz algo ruim, passou ou passa em sua infância. Ali está a consequência do que essa pessoa viveu. Amo o Desenvolvimento Humano.
SG: Se pudesse dar apenas uma “canetada”, qual seria?
Ana Paula: Queria mudar a Vida de qualquer criança no mundo. Acabar com Guerra! Isso é inadmissível e inacreditável nos dias de hoje. Dar direito à criança ao que ela tem direito, VIVER!