19/11/2009
Por Maluh Duprat
20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Comemorar, celebrar ou refletir? Esta última parece a melhor opção, a mais adequada. Não há como festejar um passado ainda recente e dolorido, de triste memória, que tantas marcas deixou na pele de muitos povos. A escravidão é antológica, acompanha o homem desde sua origem e até hoje ainda é vista em muitos lugares do mundo. Por mais que a ciência e a tecnologia avancem, a cultura humana resiste em anacronismos sem razão e explicação, de indecente brutalidade. Nossa espécie tem muito a evoluir nesse quesito, ainda engatinha nossa pobre "humanidade".
O Brasil, talvez um dos países mais miscigenados do mundo - o que torna riquíssima nossa cultura -, tem hoje a raça branca como uma das minorias da sua população. O "mix" de brancos, indígenas, negros, asiáticos, tantas etnias de tantas raças, reina soberano. Somos hoje um povo de todas as cores. No entanto, não há como esquecer que muito dessa cultura que nos caracteriza, formou-se a custa de muito sangue, suor e dor. O povo negro que a África perdeu para a América, se indispensável se tornou para a construção do país e da nossa identidade cultural, ainda paga um preço muito alto pela forma como foi arrancado de sua raiz. Não apenas na resistência que encontra para sobreviver dignamente num mundo de consciência branca, mas nas marcas inconscientes do seu passado. A luta empreendida com tanta coragem em tempos bem mais cruéis, merece sim ser lembrada e reverenciada como lição de integridade e justiça, para sempre em nossa memória.
O Brasil tem muito a lamentar e redimir-se por passagens tão brutais, mas também muito a agradecer pelo imenso e maravilhoso legado que o negro trouxe para estas terras. A consciência negra é a consciência de quem somos, do que fizemos e do povo que queremos ser.
 | Maluh Duprat é psicóloga clínica, orientadora vocacional e membro do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI), da PUC/SP. |
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