03/10/2019
Por Mônica Krausz
A simulação dos procedimentos e debates realizados na ONU é parte do projeto Modelo das Nações Unidas para a Educação realizada por instituições de ensino no Brasil. São ações nas quais estudantes do Fundamental ao Ensino Médio vivem situações de negociações diplomáticas, típicas dos mais importantes organismos internacionais.
Seus benefícios pedagógicos são múltiplos. Independentemente da carreira que os estudantes seguirão no futuro, o foco do programa está no exercício do falar, ouvir, defender ideias, avaliar o posicionamento do outro etc. As simulações de debates entre representantes de diferentes nações não são exatamente uma novidade. Existem desde que surgiu o primeiro curso superior de Relações Internacionais na Universidade de Gales, em 1919. Mas a prática atual em escolas do Ensino Fundamental e Médio tem sido cada vez mais utilizada, e com resultados surpreendentes.
Nos dias 23 e 24 de setembro, os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental ao 3º do Ensino Médio da Escola Granja Viana estiveram envolvidos na realização do 2º Fórum Estudantil da EGV, simulando reuniões da Organização das Nações Unidas. Mais de 100 alunos e 20 professores envolvidos em um grande evento de dois dias de debates, busca de soluções e acordos. Segundo Solange Souza, coordenadora do Ensino Fundamental e Médio da EGV, o evento foi resultado de um trimestre de pesquisas, quando os alunos do 8º ano ao 2º do Ensino Médio tiveram de escolher entre três temas propostos pelos professores e um país para representar e defender. Já os alunos do 3º ano Ensino Médio ficaram responsáveis pela coordenação e organização dos debates, enquanto uma parcela de alunos de todas as turmas ainda se dedicou à Sala de Imprensa. Um trabalho de verticalização do ensino, no qual os alunos de diferentes idades também aprendem a interagir e colaborar para que tudo dê certo.
Pelo vídeo acima, podemos ver que até na forma de se vestir para o evento, as turmas capricharam! “Eles realmente simulam o formato das reuniões dos Comitês da ONU”, conta Solange. Os alunos se dividiram em três comitês: Refugiados, Uso ou não de energia atômica e Epidemias e Pandemias – a volta de doenças que já estavam erradicadas. “Trabalhar com esses três assuntos tem uma abrangência de conteúdos objetivos que é fundamental, pois envolve todas as áreas do conhecimento: as áreas de humanas (história, geografia), ciências da natureza e linguagens”, explica. “Um dos grandes objetivos da nossa educação hoje é esta desfragmentação do saber. Não trabalhar por disciplinas, mas sim pelo fenômeno, pelo assunto e pelos debates da atualidade.”
Alguns estudantes tiveram, inclusive, que representar países com os quais tinham pouca familiaridade inicialmente. “Aí ainda entra um exercício de empatia, pois o aluno terá de representar uma nação que tem posicionamentos com os quais ele não concorda, mas precisa entender para poder representá-lo sob a ótica daquele povo, e não do seu próprio ponto de vista’, conta.
Para Solange, o trabalho é uma prática de reflexão, de diálogo com argumentos, de respeito ao ponto de vista do outro, de posicionamento ético em relação ao outro e ao mundo, de cooperação, de resolução de conflitos. E traz grandes surpresas: algumas vezes, alunos que participam pouco em sala de aula, neste novo espaço se posicionam muito bem. Depois do evento, a reflexão sobre os debates e posicionamentos apresentados ainda continua em sala de aula, agora também com a participação dos professores, pois, até então, a apresentação de cada aluno era puramente autoral, ou seja, sem qualquer interferência deles.
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