05/04/2023
Como o curso era sobre Gestão Escolar, seria muito mais fácil Antonio relatar sobre sua experiência na Jardins de Monet. Mas ele preferiu a Neurologia e pela ousadia na escolha do tema, durante o processo houve até troca de orientadores. Na verdade, o tema não era assim tão novo: atrás dele, tem quase 20 anos de pesquisa por conta da busca da melhor educação para sua filha, citada, aliás, na monografia.
Apresentada na última sessão online (as seguintes foram presenciais por conta da diminuição da pandemia), a monografia foi aprovada. Duas semanas depois, Antonio recebeu uma ligação. Perguntaram se tudo bem outra banca examinar para uma eventual publicação científica. Foram quatro bancas examinadoras específicas. No final de 2022, aceita, resumida e escrita de uma forma editorial, foi publicada (veja AQUI) na Revista E&S, uma publicação seriada, não periódica, de caráter técnico-científico, vinculada à PECEGE, uma associação que tem como propósito compartilhar conhecimento de qualidade para melhorar a realidade das pessoas.
Um pouco sobre Neurociência
Nascemos com algo perto de 90 bilhões de neurônios. Com o tempo, na medida em que a pessoa recebe estímulos de aprendizagem e desenvolvimento, o cérebro passa a reconhecer quais conexões têm sido mais utilizadas. E reforça esses circuitos na forma de memória. Os recursos que não são utilizados vão sendo desativados. É a chamada poda neural. Quando criança, a primeira poda neural acontece aos 2 anos – se a criança tem afinidade e estímulo em questões de espacialidade e equilíbrio, por exemplo, sua formação neural o deixará provavelmente mais apto para as matérias “exatas”, diz Antonio. A segunda poda é aos 07 anos, depois entre 12 e 14 e a última é aos 25. Depois, o processo de aprendizado e adaptação se dão através da plasticidade neural.
Realização de Sonhos
Perguntado como, mesmo muito tempo depois de suas podas neurais, Antonio mudou radicalmente sua vida e destino profissional (até os 50 anos trabalhava em uma grande empresa internacional do setor aéreo – veja AQUI), ele começa a responder falando que, hoje em dia, já está em busca da realização de mais um sonho: Antonio está cursando a Escola Panamericana de Artes. Por que um sonho? Aos 9 anos, ele queria muito e conseguiu uma vaga na Escola pública de Artes em Osasco, apesar das poucas vagas. Mas não conseguiu seguir em frente no desenvolvimento da sua aptidão para arte.
Foco nos objetivos
Antonio é o oitavo filho de uma mãe então com 40 e pai com 45 anos. Analfabetos funcionais, se preocupavam na formação do caráter, da dignidade, da cidadania. Passou no Senai, em caldeiraria e arranjou um estágio na então poderosa Voight – não quis. Perdeu o pai aos 25, que aliás nunca perguntou se ele passou de ano. A mãe, sim, era preocupada, mas não perguntava sobre o conteúdo que Antonio estudava. Uma das pessoas mais inteligentes que ele conheceu, ele diz. “Nascida em 1927, minha mãe era tudo, era quem levava a casa nas costas”. Exemplifica com a história de um dos irmãos, falecido aos 35, homossexual, que certa vez chegou em casa com um amigo com 20 e poucos, expulso de seu lar por ter saído do armário. A família o recebeu, com muito respeito e nunca perguntou absolutamente nada. Virou da família.
Jardins de Monet
A abertura da escola foi com esta concepção, na qual ele acredita. (veja matéria AQUI) Tem dado resultado. A escola está no 4º ano de existência, sendo que 2020 foi o primeiro ano de fato completo. Atualmente com 152 alunos, aprovação de quase 200 alunos e feedback extremamente positivo das famílias, inclusive das 10 crianças com Transtorno de Espectro Autista (TEA).
“É possível se observar as características das crianças, sejam elas consideradas como qualidades ou como limitações. As limitações devem ser tratadas com estímulos e não com privações.”, costuma dizer.
“O respeito, atenção e autonomia devem ser experimentados o tempo todo por bebês e crianças. Estímulos como dar uma fruta inteira na mão de uma criança, ao invés de pedaços cortados e processados podem estimular vários sentidos simultaneamente.”
“As profissões mais tradicionais não devem ser consideradas como calhas obrigatórias para a formação. Ninguém precisa ser doutor. Isto é uma consequência e não uma obrigação.”
Na escola, Antonio diz perceber cada aluno. Rindo, diz que apronta com todos mas é respeitado. Em situações-limite, nunca utiliza o castigo: conversa muito, contextualiza, pergunta o que aconteceu antes.
Sobre o futuro
A publicação do artigo o deixa muito feliz, pois agora sabe que parte do seu conhecimento pode ser consultado, está disponível.
E sabe também que acontecerá de ser pintor. Sabe que fará quadros e que irá vendê-los. Sabe da excelência, da humanização no método. Está sempre crescendo. 55 anos e continua.
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