08/12/2008
Eles vão chegando de mansinho e vão nos conquistando. São sagüis, ouriços, capivaras, ratões do banhado, gaviões, tucanos, biguás, saruês, esquilos e muitos outros. Para nós, granjeiros, costuma ser motivo de alegria e até espanto ver a aproximação de animais silvestres circulando à vontade em nossos jardins, entrando em nossas casas e comendo nas nossas mãos. No entanto, este é um motivo para preocupação. A invasão existe, mas não é dos bichos. É nossa! A alegria que eles nos proporcionam é resultado de um fato muito triste.
Cada vez mais, a Granja está aterrando várzeas e perdendo os seus remanescentes de mata nativa. E os animais, o seu habitat. Isto acaba sendo a principal motivação para a sua aproximação. O desmatamento os força a buscar novos locais para viver e novas fontes de alimentos. É só conversar com os veterinários da região, com a Defesa Civil e com o Corpo de Bombeiros. Diariamente, eles atendem animais vítimas da urbanidade.
No sábado, 9 de novembro, eu fui testemunha de um fato triste. Um grupo de 10 sagüis morreu atropelado, um a um, na Raposo Tavares, no km 23,5. Acuados no canteiro entre a rodovia e a marginal do centro comercial, eles tentavam retornar para o outro lado. Alguns comerciantes, como o proprietário da floricultura Brasil´s Garden, Everaldo Mendes, tentaram de todas as formas resgatá-los para levá-los de volta à Vila Viana (que recentemente sofreu um grande desmatamento).
Como não conseguiram, chamaram a Polícia Rodoviária e o DER para que parassem a Raposo para que os animais fossem espantados para o lado de lá. Uma operação que duraria poucos minutos. Nada! A resposta era a mesma: "não temos viatura disponível..." e "não podemos parar a Raposo...". Para as pessoas que acompanharam o episódio, assim como para Everaldo (que ainda sofreu uma mordida no dedo), restou assistir a triste cena de ver os animais serem todos atropelados.
Este é um caso para reflexão. Vivemos num ambiente onde animais também gostam de viver. O ser humano faz parte da natureza e natureza e cidade se complementam. Mas é preciso que haja equilíbrio. Para o bem dos animais e para o nosso próprio bem. Afinal, saímos de São Paulo em busca de qualidade de vida. Só que estamos transformando a Granja em algo que quisemos deixar para trás.
Angela Miranda, jornalista, Geógrafa e moradora da Granja Viana há mais de 20 anos. |