03/03/2016
Preste atenção: somos corpo enquanto “encarnados”, pois vivemos nele e através dele. Mas... de que corpo queremos falar?
Nosso corpo sempre foi visto, entendido e cuidado através da história por diversas culturas, segundo diferentes concepções - filosóficas, antropológicas, políticas, sanitárias etc.
Mesmo no âmbito da fisioterapia, enquanto reequilibramos as cadeias musculares através das posturas de alongamento e fortalecimento, muitos de nós percebem que a composição do corpo vai além do esqueleto, músculos e vísceras. Autores afirmam que somos uma via por onde transitam todas as forças do Universo, pois nosso corpo é composto de átomos, nossa constituição primordial: energia.
Por isso, somos “permeáveis”, o que aliás, é um sinal de saúde.
Ser permeável nos faz entender como fatores externos podem nos afetar. Nesse caso, nosso corpo reage fisicamente e, em resposta, pode se contrair provocando uma tensão muscular ou ainda uma dor de estômago, por exemplo.
O inverso também é verdadeiro: um desconforto, uma preocupação, raiva ou angústia também podem fazer com que parte do nosso corpo se contraia e gere uma dor, pressão alta ou outra alteração fisiológica.
Por outro lado, as alegrias, o amor, a paz de espírito, os alívios também passam pelo nosso corpo físico e geram saúde, equilíbrio e bem estar.
Assim, podemos dizer que o corpo está sujeito tanto a fatores externos (como por exemplo, certas notícias) quanto internos (seu modo de ser, sentir e reagir, suas lembranças, sua história). Quando ocorre algo significativo, o corpo guarda em si as sensações. Conscientemente ou não, as memórias do que nos acontece ficam também nos nossos músculos em forma de contrações exageradas (determinados encurtamentos musculares), relaxamento exacerbado do tônus muscular (como flacidez) ou ainda na forma de alterações da sensibilidade (locais intocáveis ou insensíveis). Desse modo, percebemos o quanto o psíquico permeia nosso corpo.
Mas, o que acontece com o corpo hoje em dia, onde ele se insere?
Nosso corpo, contemporâneo, que vive no Ocidente, ao mesmo tempo em que reflete e guarda sua própria história e jeito de ser, expressa um mundo atual onde há um bombardeio maciço e aleatório de informações, uma época em que coexistem valores ultra tradicionais com ultra modernos.
A velocidade alucinante com que avança a tecnologia faz com que as verdades sejam sempre transitórias, o que nos dá a sensação de nunca estarmos atualizados, gerando por vezes insegurança e desamparo. Assim se estabelece o conceito atual do descartável, tanto na vida cotidiana quanto no âmbito profissional e dos relacionamentos, o que pode levar muitos de nós ao individualismo e à falta da percepção dos nossos reais valores, desejos e assim afetar a capacidade de decisão e adaptabilidade.
Submersos na nossa cultura e sociedade atuais que não favorecem aspectos integrativos, na coexistência de valores tão contraditórios, o corpo reage a esta sobrecarga psíquica resultando em alterações físicas, como desvios posturais e gestuais, um desequilíbrio da função de cadeias musculares que precisarão ser reeducadas.
Pensar o corpo dessa maneira independe se ele está em sofrimento, se somos atletas, bailarinos ou cuidadores, pois o corpo contemporâneo contempla a todos nós!
Consideramos então que apesar dos valores contraditórios e velocidades alucinantes podemos olhar para o nosso corpo de forma integrativa, buscando tratamentos e auto cuidado coerentes com nossos próprios valores, para aprendermos a olhar, acolher e deixar fluir o que nos acontece e assim seguirmos ressurgidos!