TELEFONE E WHATSAPP 9 8266 8541 | Quem Somos | Anuncie Já | Fale Conosco              
sitedagranja
| Newsletter

ASSINE NOSSA
NEWSLETTER

Receba nosso informativo semanal


Aceito os termos do site.


| Anuncie | Notificações

Conexões Humanas e Saúde Mental

O medo que (o mundo) dá

14/02/2025




Quem não sentiu nos últimos tempos um aperto no peito ao ouvir as notícias do dia? Resultados de eleições mundo afora, crises econômicas, tensões geopolíticas, cada manchete pode soar como um novo alerta, trazendo preocupações, frustração e muito desânimo.


Para quem está mais atento ao mundo e às engrenagens que nos regem pode ser paralisante. Diante do peso da realidade, o impulso de lutar muitas vezes dá lugar à desesperança e à sensação de impotência, que, por sua vez, é solo fértil para o medo.

Então, como seguir vivendo sem se sobrecarregar a ponto de perder a capacidade de agir, mas também sem cair na inconsciência e na negação?

O medo como ferramenta de controle

O medo é uma reação primária, esculpida em nossa biologia para garantir a sobrevivência. Diante de uma ameaça, nosso corpo se prepara para lutar, fugir ou, em alguns casos, congelar. Essa resposta, que foi essencial para nossos ancestrais lidarem com predadores e perigos físicos, hoje se manifesta também diante de ameaças mais abstratas — o colapso climático, instabilidades políticas, crises econômicas.

Com a hiperconectividade atual, essa sensação se intensifica. As notícias chegam a nós em tempo real, muitas vezes sem filtros, misturando fatos e opiniões diversas e disposições emocionais exacerbadas. O resultado é um estado constante de inquietação que se instala no cotidiano.

Se, para alguns, a ignorância pode se apresentar como uma proteção, para quem escolhe seguir atento, o mundo deixa de aparecer como um lugar seguro. A hiperconsciência dos problemas globais e as possíveis implicações dos eventos econômicos, políticos e sociais faz o medo se tornar crônico. Esse estado pode levar a situações como a "paralisia da análise", na qual o excesso de informação bloqueia qualquer ação, ou à "fadiga de combate", que esgota aqueles que tentam resistir incansavelmente.

Se há algo que a história nos ensina, porém, é que o medo e o ódio são ferramentas eficazes de controle social. Governantes autoritários e grupos extremistas sabem que uma população paralisada pela angústia ou tomada pela revolta desordenada é menos propensa a reagir de forma eficaz. Esses estados, ao invés de promoverem mudanças reais, apenas reforçam o ciclo de exaustão e desgaste.

O ponto de virada

Diante disso, o primeiro passo é reconhecer o jogo e não se deixar capturar por ele. O medo pode ser um sinal de alerta legítimo, mas não deve nos impedir de agir.

Assim, algumas estratégias podem ajudar a evitar que a carga emocional excessiva e improdutiva se instale:

 Filtrar as informações: Não é necessário consumir tudo o tempo todo. Escolher fontes confiáveis e estabelecer limites para o fluxo de notícias, segundo, inclusive, a própria capacidade de ação, ajuda a manter a lucidez sem cair na alienação.

-     Transformar angústia em ação: O desespero imobiliza, mas a ação, mesmo que pequena, reorganiza a percepção das nossas capacidades e força. Esta é a primeira medida diante de situações potencialmente traumáticas: começar a reorganizar o mundo que se desestruturou para restabelecer, aos poucos, a confiança em si e na vida, a alegria e a esperança. Assim, engajar-se em projetos locais, criar redes de apoio e fortalecer laços comunitários são formas concretas de contrariar a sensação de impotência.

-   Reconhecer os ciclos da história: As crises parecem definitivas quando estamos imersos nelas, mas ciclos se fecham e sempre há espaço para a reconstrução.

-       Cuidar da saúde emocional: O mundo precisa de pessoas lúcidas e equilibradas para transformá-lo. Assim, pausas e tempo voltado para o autocuidado, incluindo aí práticas como meditação, atividades físicas e mesmo o lazer, são essenciais para evitar o esgotamento mental e recuperar forças para seguir.

A psicologia do medo

É importante perceber ainda se questões mais profundas não estão se aproveitando do momento sensível e de justificativas externas para se manifestar. Muitas vezes, a paralisia diante do mundo está ligada a medos pessoais que já atuavam, mas de maneira mais sutil.

Por exemplo, há quem sempre tenha desejado mudar de país, iniciar um novo projeto ou dar um grande passo na vida, mas que frequentemente também encontre barreiras que parecem intransponíveis. O cenário externo, com suas crises e incertezas, pode oferecer justificativas perfeitas para o adiamento indefinido. Uma crise econômica, a pandemia, uma possível nova ameaça global — a cada fase, um novo motivo surge para justificar a imobilidade. Quando uma razão deixa de ser um obstáculo, outra rapidamente se coloca em seu lugar, sustentando um ciclo de postergação indefinido, baseado, na verdade, em medos pessoais profundos que não são reconhecidos.

Indo além do medo

Com tudo isso, vale lembrar que o próprio ato de não se dobrar ao medo já é um gesto de resistência. O que nos ameaça quer nos ver exaustos e isolados, mas quando criamos conexões e seguimos na construção de algo novo, geramos transformação e fortalecimento, tanto pessoal quanto coletivo.

Reconhecendo os nossos próprios medos e como eles se entrelaçam com as crises do mundo, percebendo que muitas barreiras são projeções internas, ganhamos mais liberdade para agir e interpretar a realidade de forma lúcida, encarando de frente e por completo os desafios que se apresentam e também enxergando além deles.

Se no céu surgem tempestades, é preciso lembrar que há frestas de sol entre as nuvens. Se há brutalidade, também há gestos de coragem e solidariedade que se espalham mundo afora. Ver as flores no caminho é essencial. E definitivamente isso não significa negar as pedras, mas lembrar que elas não são tudo o que há.


Veja mais

Quando o amor termina na meia idade: ele realmente acaba?
Saúde Mental Materna
A Geração Beta Já Começou: O Que Vai Distinguir Os Nascidos De 2025 A 2039?
Ano Novo, vida real: de resoluções a mudanças efetivas
Quem sou – de uma questão existencial à busca frenética por diagnósticos
A sociedade da testosterona deveria se curvar à ocitocina
Ansiedade hoje

 


Iana Ferreira

Apaixonada pelos mistérios da psique e do autoconhecimento, com formação em musicoterapia pela Faculdade Paulista de Artes e em psicologia pela Universidade de São Paulo, USP.
"A palavra, escrita ou falada, também é para mim um grande instrumento e paixão – por tudo que revela e que invariavelmente consegue ocultar."

Site: entretexto.com

Pesquisar




X



































© SITE DA GRANJA. TELEFONE E WHATSAPP 9 8266 8541 INFO@GRANJAVIANA.COM.BR