22/06/2021
No aniversário de 37 anos, Cristina recebeu mais parabéns do que em qualquer outro ano de sua vida, mesmo quando criança. Foi incrível, até pessoas distantes da família tinham se lembrado.
Recebeu muitos presentes, de livros a quadros, de chocolates a cristais, de roupas, brincos e colares até um xale de tricô de sua querida avó. Mas houve um presente de seu marido, que ela apreciou especialmente: um vaso enorme com uma planta rara de flores tão lindas e perfumadas que era impossível não se comover com a visão de tanta beleza.
Essa planta recebeu um cuidado especial, foi colocada em uma área onde batia o sol da manhã e ela podia receber uma brisa fresca, além de ter água pura e terra da melhor qualidade, sempre protegida das pragas e da violência das tempestades. Até mesmo o cachorro, que adorava correr pela casa e o jardim, sempre respeitou esse vaso de uma maneira misteriosa. Ficava horas deitado olhando a planta como se visse sua aura, invisível para os olhos comuns.
Quando a última flor murchou, foi uma tristeza na casa. Quase três anos se passaram sem que a planta florescesse. Cristina e o marido consultaram especialistas, que receitaram fortificantes e adubos importados. E nada. Acabaram aceitando o fato de que aquela planta florescia uma única vez.
O tempo passou e a família entrou em um período de muitos problemas com doenças, negócios ruins, brigas. A atmosfera da casa estava pesada de medo, angústia e tristeza.
Naquele dia inesquecível, Cristina chegou da rua se sentindo muito infeliz. Seu olhar passeou pela casa e se deteve naquela planta estéril. Deu-se conta de que a planta estava no apogeu da força, como se sugasse a energia de vida de todo o ambiente; o verde de suas folhas brilhava sob a luz do sol. Era possível perceber a potência da seiva percorrendo o tronco e os galhos.
Uma revolta enorme explodiu no peito de Cristina; ela não se conteve e, com toda a força de sua raiva, aproximou-se da planta e gritou: “Chega! Sua egoísta ingrata, fizemos tudo por você nestes anos todos, e nada, nem uma única flor você foi capaz de nos dar. A partir de hoje, eu lhe dou trinta dias para começar a florescer ou, então, adeus, irá para o caminhão de lixo!”
Desde aquele momento, os botões foram surgindo timidamente até que, no vigésimo oitavo dia, toda a família acordou com o suave perfume de flores de um colorido e uma beleza indescritíveis. A planta floresceu e floresceu ininterruptamente por mais de um ano. Neste período, milagrosamente, a vida na casa voltou ao normal enquanto a vida da planta se esvaía lentamente.
Quando a planta secou completamente, Cristina, chorando de gratidão e saudade, teve pela primeira vez uma revelação sobre o mistério da vida e da morte e uma verdadeira semente de sol brotou em seu coração, iluminando o seu mundo interior pelo resto de seus dias.
Ela escreveu no diário: “Cada um de nós precisa se desenvolver e florescer como esta planta miraculosa e oferecer bondade e beleza para o mundo ao nosso redor; não podemos envelhecer como crianças mimadas, sugando o melhor da vida sem dar nada em troca.”
Carmem Carvalho e Marian Bleier