09/03/2020
Mais uma história da Série “Contos do Despertar” do Grupo Gurdjieff Granja Viana
Como sempre fazia ao acordar pela manhã, Lili conferiu o whatsapp. Havia uma mensagem de alguém cuja identificação era um círculo com um ponto no centro, que dizia: “Você já contemplou o céu hoje?” Que estranho!... Ela não conhecia ninguém com esse jeito de se comunicar. Sem saber como nem por quê, foi até a janela e ficou, por algum tempo, olhando o céu. Uma brisa fresca brincou com seus cabelos e a luz do sol iluminou-lhe o rosto. Um suspiro longo, gostoso, deu-lhe uma sensação de alívio e um sentimento de ternura.
No dia seguinte, no mesmo horário, lá estava outra pergunta: “Você já caminhou sentindo a sola dos pés no chão?” Isso está parecendo um jogo de autoajuda, pensou. Novamente sua vontade foi guiada por aquela misteriosa sugestão. Deixou o carro na garagem e foi a pé para o trabalho, um trajeto de cerca de uma hora. Quando chegou, seu corpo vibrava de energia, algo tão novo, sólido e potente!
No terceiro dia, no mesmo horário, deparou-se com uma afirmação: “Nesta semana, você contemplará as pessoas mais próximas como se fosse a primeira vez”. Lili assumiu a proposta com renovado interesse, pois se sentia mais tranquila e bem-humorada, coisa rara com seu temperamento muito crítico e exigente. E os dias transcorreram de forma bem diferente. Percebeu que, de fato, sabia pouco sobre as pessoas com as quais convivia, como se um véu de conceitos e julgamentos impedisse um contato real.
Durante meses ela aceitou as misteriosas provocações, sempre interessantes e profundas. A maioria durava um dia, outras, uma semana. Suas vivências algumas vezes eram bem duras, difíceis e decepcionantes; outras vezes, muito agradáveis, divertidas e estimulantes. Agora conhecia um pouco melhor a vida, o mundo e a si mesma, e isso fazia toda a diferença.
De repente as comunicações se interromperam e, por vários meses, ela acordou sem um guia, uma meta, um propósito. Sua vida voltou a ser o que sempre fora, enfadonha e repetitiva. Sentiu um desalento, um abandono tão grande que entrou em depressão.
Onde estava a misteriosa figura que a guiava diariamente? O que fazer agora? Deu-se conta de que nunca havia comentado ou agradecido por aquelas propostas que haviam transformado sua vida em uma aventura tão rica e interessante. Escreveu, então, um longo depoimento expressando sentimentos que pareciam sair do fundo do coração, um misto de gratidão e pedido de ajuda.
No dia seguinte, ela recebeu um mapa com um endereço. Ao subir a longa escada e abrir a porta de um prédio, deparou-se com uma casa antiga e um lindo jardim japonês. Uma recepcionista sorridente a recebeu e encaminhou para um salão cheio de gente que, em silêncio, praticava algo que parecia uma meditação.
Quando Lili entrou, o homem que conduzia a meditação abriu os olhos e, como se já estivesse à sua espera, disse em voz alta: “Bons ventos a trazem!”
Ela sentiu que havia chegado em um lugar muito conhecido que sempre lhe pertencera e que provavelmente nunca mais abandonaria.
Carmem Carvalho e Marian Bleier
Toda quarta-feira, das 19h00 às 20h30, o Grupo se reúne virtualmente para vivenciar os Ensinamentos de Gurdjieff, o grande mestre espiritual, com Marian Bleier e Carmem Carvalho. Os interessados podem comunicar-se através do
E-mail: marianbleier@gmail.com
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