14/08/2012
Estou voltando de viagem. A sensação é de que o paraquedas não abriu, mas também ainda não cheguei ao chão. Estou em suspenso, sem saber se é possível voltar para a vida de antes ou se vou ficar quieta assim como estou para sempre.
Viajar é tirar férias de mim porque em lugares desconhecidos não me reconheço nos meus hábitos. Novas portas para abrir, chuveiros com jeitos diferentes de lidar. Outros sons para as palavras.
Viajar é oportunidade para relembrar que o mundo é vasto, que sou vasta. Muito maior que meus hábitos repetitivos, cerceadores. Há outras rotas para eu percorrer e elas partem de uma visão ampliada de mim.
Isso era muito claro quando eu estava fora, agora é só quase uma anotação que fiz no celular para não esquecer.
Estou com uma impressão muito forte de que voltar é afunilamento. Como no nascimento. Do vasto, do amplo para o específico.
Voltar é entrar de novo na roupa que visto aqui. Reassumir escolhas. Construí ao longo da vida uma casa de crenças e é ela que habito.
Transparente no dia a dia, super visível depois de passar um bom tempo fora. Continuo nela? Faço reformas?
Passei a borracha ao pegar o avião e agora o que vou escrever, que história vou contar? O que faço de mim, com o que me ocupo, que guardiã vou ser da vida que reencontro ao voltar?
A quarentena que as mães cumpriam antigamente quando nascia um bebê era sábia. Tempo para a mãe voltar da viagem da gravidez e do parto e mais ainda para o bebê que vindo de longe entra num mundo que vai dizer para ele quem ele é.
Ao voltar o carinho que encontro me diz que deixei boas sementes. Os convites que recebo me lembram que fiz uma trajetória com empenho. Desse jeito vou me reconhecendo, o para quedas vai abrindo. Começo a aterrizar e vem vindo a vontade de falar do que encontrei de ótimo na Europa: transporte público!
Quero poder andar sem carro pelo meu bairro, ir ao mercado! As pessoas que trabalham por aqui tem que andar distâncias enormes. É vergonhoso para os adolescentes terem que ser choferados pelas mamães para lá e para cá.
Querido Secretário de Transportes de Cotia, o senhor não quer fazer diferença? Se debruçar sobre o seu município e desenhar sobre ele caminhos lindos de liberdade para os seus habitantes?
Essa seria uma política carinhosa, fraterna, justa. Aprendi a amar o tram (o bondinho) de Basel na Suiça. No ponto estava lá um luminoso dizendo que ele chegaria em dois ou seis ou oito minutos. E chegava... e me levava, trazia.
Por que não aqui? Garanto que somos tão bacanas quanto os suíços! No mínimo!