14/02/2012
Outro dia, num curso, o professor nos pediu para fecharmos os olhos e que deixássemos vir imagens que respondessem cada um para si próprio as seguintes perguntas: Quem sou? Onde estou? Para onde vou?
Em outros tempos eu teria me visto como mulher, mãe, professora de dança circular, mas depois de ler tanto sobre como o cérebro funciona a imagem que me veio forte foi que sou um organismo vivo. Nada mais do que isso.
Se me descrevo assim, onde estou então? Em nenhum outro lugar senão no aqui e agora.
Para onde vou? Era a próxima pergunta e as respostas poderiam ser: “quero me firmar mais e mais como escritora, construir casas para vender, etc.” Só que me sentindo como um organismo vi que não tinha como projetar um futuro. Planos são peculiares a essa sensação de um Eu que quer percorrer uma trajetória.
Desde esse dia tenho me percebido em muitos momentos apenas como organismo que respira, sente fome, chora ao ver um filme triste, procura outros para estar perto...
Claro que ainda sou a referência do meu mundo particular. É nesse organismo específico que as coisas ressoam e encontram significados e continuo tendo discernimento escolhendo direções a todo instante. Só que desse modo meus movimentos não partem do centro Eu e sim de algo muito complexo, daquilo que a Wikipédia diz que é um organismo: um conjunto de sistemas de órgãos que constituem um ser vivo pluricelular.
E a alma, os corpos sutis? Onde ficam nesta concepção de mim mesma? Suponho que são também sistemas desse organismo. Posso, por exemplo, sentir o impacto da energia de um lugar sobre mim e como o Mistério atiça algo que leva o nome de curiosidade. O abstrato tem tanta realidade quanto órgãos fazendo silenciosos seus trabalhos dentro de mim.
Me ver dessa maneira me afasta da armadilha de me acreditar única e muito ao contrário do que possa parecer me conecta mais ainda com os outros seres que compartilham comigo a experiência de ter um coração batendo, um cérebro que a ciência tem demonstrado ter uma plasticidade impressionante, sentidos que me informam sobre o mundo, etc.
Do que pareço estar me distanciando é da ilusão de que há um timoneiro me guiando lá no topo da minha cabeça cheio de estratégias para tentar fatiar o mundo em conveniente ou não para mim. Meu organismo vive e isto basta para acionar um sentido de preciosidade em relação a tudo e atiçar meu movimento em direção a viver plenamente esse meu tempo finito aqui no nosso belo Planeta. Respiro e isso é quase tudo!