25/10/2017
Se você tem fome, levanta e vai em busca. Sede também. E quanto ao sexo?
Quando adolescente, via uma grávida e pensava: “Ela fez sexo e todo mundo finge que não sabe.” As mocinhas grávidas definitivamente não engoliram melancias.
Sexo era o que me movia a beijar sem língua e de olhos abertos, como me ensinou meu primeiro namorado. Vexame com o segundo!
Na igreja o menino virou pra trás, sem me conhecer, e me disse: “Eles estão casando para se beijar!”
Minhas amigas alemãs andavam nuas na frente dos seus pais, para minha surpresa.
O sexo não se encontra na geladeira, nem no galão de água. Precisa do outro. Precisa ir em direção ao outro.
Também pode ser feito sozinho. Minha muito jovem amiga me conta que se masturba todos os dias, com uma nota de preocupação na voz. Para apaziguá-la digo: “Todos se masturbam todos os dias!”
Foi falar isso e desandei a me perguntar: A minha avó, quando idosa, também? Aquele professor? A mulher da quitanda? O palestrante estrangeiro? Todos? Todos! Ao menos uma vez na vida! Ou não?… Há possivelmente os que não. E por que não?
Penso que sexo é como comer e beber. O corpo pede, implora, exige e tem preferências. As mais variadas!
Quando escolhe alguém e vai em sua direção, nem tudo são rosas! Não, não… Muitas vezes o escolhido em questão não quer, não corresponde. Haja estratégia para fazer o outro cair no laço, nos braços…
Um olha de cá, outro olha de lá… um dá um match, o outro dá de volta…Tinder, amigos em comum, na rua, o acaso, no trabalho…
“Você acha que Don e ela transaram? O menino pergunta para seu irmão, falando de sua mãe recém separada de seu pai. O irmão responde: “não quero pensar sobre isso”. O menino de 12 anos continua: “Imagine o pau de Don na boca dela. Acha que eles fazem isso? Acha que ela faz sexo anal com Don?” O irmão responde: “Pare, ok? Isso é nojento.” Diálogo do filme A Lula e a Baleia, de Noah Baumbach.
Pois é, nas separações não tem mais como ignorar que os pais fazem sexo. No casamento tradicional até que dá… Papai e mamãe no quarto? Apenas talvez um clássico papai e mamãe e não se pensa muito nisso.
Quando alguém me conta que tal pessoa é homossexual não tem como eu não pensar nela fazendo sexo. Nem que seja por um segundo. Será que é por isso que tem tanta gente contra o homossexualismo? Porque desperta imagens de sexo na mente? E ao querer repudiar o que está na mente, repudia o outro?
Por que as pessoas se importam tanto com o sexo que as outras pessoas fazem? Galinha, Vaca, Piranha, Garanhão… Sem royalties para os animais!
Por que os palavrões são todos relacionados à sexo?
Por que temos que tapar os piu pius, as pia pias e adjacências?
Pode tirar a roupa, ficar de biquini, mas esconda!
Esconda os lugares onde o prazer é mais intenso, os lugares usados para fazer sexo, os lugares onde acontece também a excreção. Por onde o corpo se limpa. O lugar onde se cria vida! Onde se amamenta…
Esconda! E revele quando for para vender cerveja!
Queremos ver os outros fazendo o tão escondido sexo, por isso vai de vento em popa a impressionante e super cruel indústria da pornografia, que não poupa crianças, entre muitos outros graves desrespeitos.
Um casal de amigos achou acertado mostrar para seus filhos de cerca de 12 anos (filha dela/ filho dele) que eles faziam sexo. Deixaram a porta aberta. Os meninos entraram, olharam, olharam de novo e foram embora viver suas vidas. De vez em quando encontro a menina dessa história que hoje é adulta, muito produtiva, ajuizada e tranquila. Só para constar…
Um amigo disse que ficava nu na frente de sua filha bem pequena porque achava bom que ela crescesse achando natural a nudez. Um dia ela começou a pesquisar o corpo do pai e colocou o pênis dele na boca. Ele disse que ficou muito tenso, pensando o que seria apropriado fazer. Enquanto ele se debatia em dúvida, ela logo foi fazer outras pesquisas.
Um homem de dentro de um carro pediu uma informação. Eu com 14 anos, feliz por ter colocado a blusa para dentro da saia da escola pela primeira vez, para ficar bonita, fui responder. Na verdade ele só queria me mostrar seu pênis flácido, branco com veias vermelhas. Foi o primeiro que eu vi. Cai na arapuca!
“Eu vivi 29 anos como homem para a sociedade e, nesse período todo nunca tocaram no meu corpo sem meu consentimento. E, de repente, a partir do momento que me veem andar como Amara em público, nas ruas, no metro, ônibus, isso passa a ser uma experiência de ter que lidar com o assédio, com mãos que tocam em mim, com bocas que chegam no meu ouvido e dizem coisas muito baixas, obscenas e invasivas” (Amara Moira em entrevista para a Revista TPM).
Por causa desse contexto esquisito que perpetuamos em relação ao sexo quanto sofrimento é causado: Arapuca, repressão, perseguição, exibicionismo, estupro, opressão, abuso, assédio…
O sexo que é fluido, espontâneo, natural, quando passa pelo filtro dos nossos costumes malucos fica engasgado, represado, mal direcionado, sôfrego, aflito …
Já imaginou se fosse complicado assim com a comida? Se tivéssemos que andar com a boca tapada? E não pudéssemos ser vegetarianos num mundo de carnívoros e vice e versa?
“Sabe quando você abraça seus amigos, quando seus corações se encontram?” - disse um avô à sua neta e continuou: “Não é um momento de doçura? Bem, existe algo ainda mais doce. Quando dois adultos se abraçam de uma maneira especial, suas almas conseguem se encontrar." (As Bênçãos do meu avô/ Rachel Naomi Remen)
Pulsão sexual, encontro de almas, assim ou assado… Que o sexo possa ser sol em nossas vidas, que não esteja associado a tanta deturpação. Cada um de nós é guardião da beleza dessa chama.
A comida é sagrada e nos mantém vivos, a água é sagrada e nos mantém vivos. O sexo é sagrado e nos trouxe para a vida.