06/04/2017
Olhos de cuidado!
Ok, você vai oferecer algo e precisa cobrar por isso. Que palavra vai usar para dizer o preço?
Investimento? Essa palavra foi muito usada para workshops e na verdade só dá para saber no final se foi realmente um investimento ou um desperdício. Muitos usam valor, que traz o duplo significado de custo e de relevância. Essas práticas sugerem que colocar preço não é apropriado, que macula de alguma maneira o propósito daquilo que está sendo oferecido.
Agora tem surgido uma nova tendência: colaboração, contribuição espontânea ou sugerida.
O bacana deste movimento é que quem não pode pagar o preço real também pode participar. Vai deixar ali o dinheiro que está podendo despender. E quem tem dinheiro com folga pode pagar na medida da sua gratidão em relação ao que recebeu.
Do lado de quem está oferecendo o trabalho pode acontecer de ficar no prejuízo, afinal o preço real pode não ter sido atingido.
Tem um lugar na Vila Madalena que coloca o preço de custo e pede por volta de 30 por cento a mais para cobrir os custos da operação toda. Também com a intenção de que quem não tem o dinheiro suficiente possa pagar apenas o preço de custo.
O que importa de verdade para mim nesse movimento é que ele me convida a colocar a consciência na transação comercial.
Explico: Estou querendo produzir quadros e percebi que para ter um preço final adequado preciso achatá-lo em algum lugar: nas molduras, no artista ou no meu lucro, ou um pouco em todos. Não posso colocar o preço justo de todos os envolvidos porque não ficará competitivo.
Quando compro algo me preocupo com o preço, não me importa saber se a catadora de mariscos ganha R$ 10 por um dia de trabalho, como vi na televisão outro dia. Ao olhar o prato, ou a roupa na minha frente só consigo enxergar o resultado final.
A colaboração pede um olhar mais amplo. O olhar do cuidado. Se estou recebendo algo e vou decidir quanto pagar, preciso avaliar tudo que está envolvido. Saio do automático. Olho em volta e vejo lâmpadas acesas, empregados trabalhando, o custo que teve para aquilo chegar até ali, o custo do desperdício quando é comida, o valor que aquilo tem pra mim, o quanto que quero que continue acontecendo… enfim… consciência!
Finalmente entendi que dinheiro é apenas a parte visível de um fluxo contínuo. Com a possibilidade da colaboração em vez de pagamento percebi que há muito mais coisas envolvidas nas transações do que apenas números. Estou assim olhando para as pessoas envolvidas e não apenas para os objetos. Meu olhar ganha mais horizontes e vou me tornando assim cuidadora da vida e não mais uma consumidora distraída.