23/05/2012
Estou interessada no ciúme, em tentar entendê-lo.
Fui criada com a informação de que os homens traem e também algumas mulheres, como minha tia, casada, cujos filhos teriam outros pais que não o marido.
Meu pai, segundo minha mãe, teria tido casos com secretárias e um tio, dizia ela, tinha outra família em outra cidade.
Minha mãe também via muito sexo em tudo: nas roupas curtas das minhas amigas que poderiam provocar meu pai, nos pés que se procuravam em baixo das mesas nas reuniões de famílias.
Para mim tudo isso era muito assustador. Já meu pai dizia que o ciúme da minha mãe era pura fantasia e me relatava situações que me faziam acreditar nele.
Não que o assunto infidelidade fosse um assunto aberto na família. Eram confidências que um e outro me faziam e me pesavam.
Em certo momento ali decidi que minha mãe realmente exagerava, mas já estava entranhada em mim uma grande desconfiança em relação aos homens.
Sem nenhuma consciência fiz por isso uma escolha: Entre trair e ser traído, fiquei com a primeira!
Eu só sabia terminar um namoro começando outro na surdina e ficando um tempo com vida dupla. Claro que deixei muita gente chateada comigo pelo caminho.
Não tinha coragem de dizer: “estou interessada em outra pessoa! Sou muito curiosa, preciso andar!”
Achava que ia magoar e ao mesmo tempo não me freava e quando tinha ciúmes, meu Deus! Que exagerada eu era!
Ficava enlouquecida, desesperada como minha mãe com seus ataques.
Para complicar meu pai dizia que a única coisa que realmente importava numa mulher era a beleza!
Bom, o mundo está cheio de mulheres bonitas! Muitas festas ficaram agoniantes por causa disso.
Hoje em dia quando sinto ciúmes aprendi a apreciar! lá vem mais uma oportunidade de me conhecer. digo isso com esta calma agora mas basta sentir para eu ficar muito muito brava e com vontade de fugir desta emoçåo, mas vou
treinando...
Outro dia resolvi aplicar um raciocínio: Se imaginar a pessoa que eu gosto gostando de outras pessoas me dá ciúme será que não é por eu quero gostar de outras pessoas?
Fez sentido e mais ainda quando eu percebi que não é exatamente que quero gostar, mas mais que isso: morro de culpa de vir a gostar. De voltar a trair e me sentir muito mal com isso!
Se não posso gandaiar, que ciúme dá imaginar que o outro possa! Como se estivesse acontecendo uma festa para a qual eu não fui convidada.
O que sei de verdade é que o ciúme quando chega turva o olhar, o bom senso, envenena e traz consigo a raiva, tristeza, vingança.
Ele vira o Senhor do Castelo. Ninguém mais manda ali!
Posso tentar destruí-lo usando sabedoria budista, meditação, terapia, conhecer meu passado, racionalização, o que for, mas na verdade, o que me parece mais apropriado fazer é deixá-lo existir naqueles momentos intensos em que ele aparece.
Reine soberano! Me queima por dentro e vá quando puder!
Que eu não faça mal para ninguém nestes momentos. Que quem for o alvo possa aguentar a explosão sem levar a sério.
A idéia é não me dividir, nem lutar contra essa força, ou querer fugir. Aguentar o tranco. Como chuva forte, uma hora passa. Ufa!