29/04/2015
Há um centro de prazer no cérebro. É onde a dopamina é produzida. Isso foi descoberto em 1954, quando um professor e um estudante faziam um experimento para aferir o aprendizado em ratinhos, que se movimentavam em labirintos. Quando eles achavam a saída tomavam um choque leve para que voltassem para dentro. Um único ratinho não se incomodava com o choque e voltava sempre, para tomar mais e mais. Dissecaram seu cérebro e perceberam que o eletrodo, que havia sido colocado para o experimento, estava posicionado num lugar onde os choques estimulavam os neurônios da dopamina, que também são liberados quando se fuma um cigarro, numa refeição deliciosa, nas relações sexuais, através da cocaína e algumas outras substâncias. Ao perceberem o que tinha acontecido, esses pesquisadores implantaram deliberadamente eletrodos nessa região do cérebro e colocaram alavancas que liberavam os choques. Os ratinhos, então, as usavam sem parar e não se interessavam pelas alavancas da água e comida.
Isso te parece familiar? A mim sim! Eu, pelo jeito, ao comer chocolate, queijo, refrigerante, aciono o centro de prazer. Agora tenho um bom termômetro para pensar o que é vício ou hábito em mim. É vício aquilo que fico pensando em como vou obter naquele dia, algo que me tira da cadeira, me faz abrir a carteira, sem escolha. Aquilo que me leva a apertar a alavanca repetidamente.
Leio também que dopamina demais deixava os ratinhos frenéticos, correndo em círculos e, de menos, fazia com que ficassem apáticos, desinteressados do que estava em volta. Fino equilíbrio, então, da dopamina para que eu não esteja viciada em algo, mas, ao mesmo tempo, que eu crie condições para que ela seja produzida, para que a vida continue interessante.
Ou seja, sou maestrina do meu corpo. É para isso que preciso olhar e venho olhando. Para fins didáticos eu me percebo preenchida de vários Eus. Esse, por exemplo, que come porcarias, que me faz decidir parar no supermercado, ou abrir a geladeira repetidas vezes, se não fizer isso, desaparece, e, percebo, essa energia não quer “morrer”! Ela quer diariamente acionar a alavanca que produz dopamina. Tem também um outro Eu que sabe que essa atitude está prejudicando meu fígado e se zanga com isso. Pronto! Aí fico oscilando entre uma e outra parte minha. A da alavanca não pede licença nunca, vai em direção ao que quer sem freios. A da recriminação fica me diminuindo, falando mal de mim.
Acredito que essas energias conflitantes me consomem desnecessariamente. Melhor direcionar minha consciência para ver como faço para não ficar como uma boba acionando alavanca sem parar. Pensar em outras maneiras de estimular a dopamina deliberadamente, para que ela esteja sempre presente em doses pequenas, para eu não precisar obedecê-la cegamente.
Um rapaz que trabalha ajudando as pessoas a saírem do vício era, ele próprio, muito viciado, a ponto de roubar a família para conseguir droga. Muito insatisfeito com o que fazia, certo dia, leu numa revista Trip, alguém descrevendo o vício e explicando que ele é uma doença. Desesperado, saiu na rua, no mesmo instante, seguido de sua mãe, foi até a delegacia e disse: estou doente, preciso de ajuda e assim foi se tratar e se curou. Na verdade, é muito difícil que o viciado considere seu vício uma doença porque a substância ou o ato de comer, beber, fumar, consumir cocaína, produz muito prazer.
Enfim, muito por ler a respeito. Como a maconha e o álcool, por exemplo, atuam no cérebro? De qualquer maneira nasci com um instrumento poderoso que é a atenção. Se eu a uso para me ver me relacionando com alavancas, posso, ao menos, ter a escolha de apertá-las ou não. Posso ver o que acontece comigo quando tomo uma decisão ou outra. Posso perceber as consequências dos caminhos que tomo, sem achar que sou passiva em relação as circunstâncias. Posso parar de me enganar, ou de deixar que uma parte minha me engane. Fortalecer esse Eu que enxerga de modo mais amplo. Sei que sonhava muito com carros sem freios. Nunca me machucava mas a aflição era grande. Nos últimos tempos esses sonhos não mais se repetiram e me pego dizendo não, para algumas coisas que me faziam mal. Que surpresa para mim! Um bom efeito colateral do auto conhecimento! Viva a consciência! Essa dama tão elegante!
O Gene de Deus, de Dean Hamer, é o livro de onde extrai a informação sobre a descoberta do centro de prazer no cérebro
Atenção do título me lembrou a música de Arnaldo Antunes:
“Atenção
Essa vida contém cenas explícitas de tédio
Nos intervalos da emoção
Atenção
Quem não gostar que conte outra,
encontre, corra atrás,
enfrente, tente, invente
sua própria versão
Aqui não tem
segunda sessão
Aqui não tem
segunda sessão”