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Planeta Eu

A metáfora e o garoto problema Ouço histórias sobre “adolescentes e jovens problema”, os que são expulsos das escolas

17/06/2015



Ouço histórias sobre “adolescentes e jovens problema”, os que são expulsos das escolas. Eu escolhi outro caminho na escola e na vida: o da adaptação, ser boazinha para que gostem de mim, para não atrapalhar, para ninguém me criticar. Já essa meninada tem escolhido o caminho de enxergar as incoerências do sistema, da família e colocar o dedo na ferida. "Por que tenho que obedecer as autoridades que não ganharam o meu respeito?", eles parecem dizer com seus comportamentos atrevidos. Não seguem as regras.

Por que escolheram esse caminho difícil? Em geral, tem a ver com muita tensão na família, vontade de chutar o pau da barraca, stress permanente que eles realimentam, e, suponho, provar a teoria que o meio que vivem vai elaborando sobre eles: que são difíceis, problemáticos... Acreditaram um dia nessa lorota e a perpetuam.

Por que é lorota, se realmente aprontam? Porque dependendo do contexto, do olhar, aquele aprontar perde muito da sua força. Lembro de, numa palestra, ouvir a Madalena Freire contar de um menino que jogava bolinhas de papel enquanto ela dava aula. Em vez de mandá-lo para fora e assim intensificar a sua chaga de ser o garoto problema, ela sugeriu que a classe toda fizesse com ele aviões de papel.” Aquela atividade em grupo estreitou os laços entre todos, e o garoto perdeu o atrativo de olhar a professora como inimiga.

Um rapaz me contou que também já tinha aprontado muito e numa festa participou de uma briga, estava apanhando de muitos e, de repente, ele conseguiu dar um soco em alguém que estava em cima dele. Era um policial que tinha conseguido afastar todos os outros rapazes. O policial era um valentão e ficou muito irado com o soco e deixou o rapaz com as mãos algemadas no carro da polícia. Lá ele conseguiu, com muita dificuldade, tirar o celular do bolso e ligou para o pai que não atendeu. Nisso, o policial voltou, e, ao ver o celular, começou a xingar e bater. Por sorte, tudo isso ficou gravado na caixa de mensagem do pai, que chorou quando ouviu, ao acordar de manhã. A família se uniu para transcrever a gravação e graças a um acordo que fizeram, ele não foi preso por três anos, que era a pena que pegaria por ser reincidente.

Se o pai apenas tivesse recebido a notícia: “seu filho está detido porque brigou numa festa”, não teria condições de sentir o que o filho sentiu, como quando ouviu a gravação. Esse rapaz é de outro estado do Brasil. Ao vir para São Paulo, veio sem todo o seu histórico e quem o conhece jamais pode supor que ele foi um garoto problema. Aqui ele é muito querido, pois é uma pessoa maravilhosa. A máscara do desajustado não é mais necessária.

Esses rótulos são extremamente danosos e mais ainda quando os pais compram esse produto. Um dos meus filhos teve um problema e estava com muito medo de si próprio, não conseguia mais dormir sozinho (estou colocando no masculino, mas não é necessariamente meu filho, quero assim proteger a identidade do filho com quem realmente aconteceu isso). E, certo dia, ele estava conversando comigo, chorando, em pânico e me disse: “você está com medo que eu fique louco”. Eu respondi a verdade: “Estou!” No mesmo momento senti, com minha mão, sua perna se enrijecer e ele disse: “Se você, que é minha mãe, pensa isso então é verdade que eu vou enlouquecer mesmo!”. Olhando dentro de mim, eu disse de novo a verdade: “Quem pensa isso é o meu medo, você bem sabe, eu sou catastrófica! O que está acontecendo com você faz parte da vida, você não vai ficar louco. Isso vai passar, é momentâneo e resposta ao estresse que está te acontecendo”. Sua perna relaxou e eu senti que tinha dado o encaminhamento correto e verdadeiro. Ele pesquisou e entendeu o que estava acontecendo com ele. Dormi em seu quarto até que ele se sentisse seguro novamente e pronto! Passou! E já faz bastante tempo!

Disse isso para minha amiga que estava desesperada, com medo de o filho estar enlouquecendo. Crença e praga de mãe, meu Deus! Que poder! Ela tinha criado uma imagem: que ela e o filho estavam na beira do abismo e era muito escuro e que eles estavam prestes a cair ali. Ao ouvi-la, lembrei então de um pequeno texto de José Ortega y Gasset: “A metáfora talvez seja uma das mais proveitosas potencialidades do homem. Sua eficácia beira a magia, e parece um instrumento para a criação que Deus esqueceu dentro de uma de suas criaturas quando a fez”.

É muito importante se colocar no lugar do outro. Esse filho que a mãe temia estar enlouquecendo por que brigaram muito feio, tinha sido quase expulso dias antes. Não é nada fácil ter uma escola dizendo que você é inadequado. É fácil imaginar, para quem não está envolvido diretamente, como eu, o quanto ele estava angustiado e os limites que a mãe quis colocar não chegaram em bom momento. Ela estava seguindo a agenda dela: preciso domar esse potrinho selvagem (outra metáfora) para que ele se comporte socialmente. A agenda dela não estava levando em consideração o estado de sofrimento em que ele estava. Enfim, não é nada fácil.

O que dá para fazer é prestar atenção nas metáforas. Outro dia alguém me disse: estou num oceano de dor! E se esse oceano se transformar numa poça? Dá para ver a água toda encolhendo! Virou uma poça? Ora, posso pular por cima dela! Não estou falando em negação, estou chamando a atenção para o fato de que as metáforas criam imagens, campos de energia, nos quais começamos a habitar.

Estou com um livro na mão: Disciplina Restaurativa para Escolas. Trabalhos pioneiros que procuram resolver os conflitos através de círculos de conversa com todos os envolvidos. Lindas as histórias. Nelas dá para notar que os atos impróprios, muitas vezes, são causados por impulsos pontuais, que depois a meninada se arrepende e muito. Quando se dá a oportunidade dos vários envolvidos, agressores e vítimas e também as famílias e a comunidade, contarem suas perspectivas sobre o que aconteceu a reparação se torna possível. Reparação, essa palavra tão piedosa. Depois que a tempestade passa sempre é possível se aproximar devagarinho e reparar.

Você tem um filho problema? Procure ampliar sua visão, descobrir suas crenças e metáforas em relação a ele, pesquise sua responsabilidade no que está acontecendo, não se guie pelo medo. Descubra o que você e ele têm a aprender com a situação e aprenda! Perceba se ele não está sendo o catalizador dos problemas familiares, dos escondidos, dos segredos. Procure ajuda. E principalmente ouça o que ele tem a dizer. Ouça quais as metáforas que ele está criando sobre ele e sua vida. As crenças que o guiam. Esclareça o que for possível. Seja parceiro neste processo. O problema é de vocês, e pode não ser chamado de problema, e sim de processo de crescimento e inserção no mundo social. Não é fácil para ninguém. Não foi fácil para você, não está sendo fácil para ele. Não tente consertá-lo, porque ele não é uma mercadoria com defeito. Se puderem, viajem para um lugar com muita natureza, porque ela nos recarrega de boa energia, só vocês dois juntos, para desestressar. Para dormir e acordar a hora que quiserem, e assim ajustar o relógio biológico que costuma estar bagunçado com os horários escolares. Para criar intimidade novamente fiquem no mesmo quarto, deem folga para as cobranças, deixa o moleque ficar na internet quanto quiser... veja o que interessa tanto nesses aparelhos que incomodam tanto os pais... mas, por favor, não siga meus conselhos se eles não fizerem um profundo sentido, porque o que mais importa é ativar a sua própria intuição do que é melhor para o seu filhotinho. Lembra de quando ele era bebê? Essa intuição estava a pleno vapor porque ali o caso era de sobrevivência. Aqui também é: de sobrevivência psíquica!

Livros que ajudam muito:
Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos, de Johm Gottman com Joan de Claire: Aqui tem dicas precisosíssimas e muito eficientes.
Comunicação não violenta, de Marshall Rosemberg: uma delícia de ler, porque o autor, recém falecido, conta dos seus próprios dilemas com os filhos, além de trabalhos ao redor do mundo intermediando conflitos.
Quando os filhos precisam dos pais, de Françoise Dolto: Respondendo perguntas do público na radio francesa, Dolto tem um pensamento extremamente lúcido e original
A criança e seu mundo, de O.W Winnicott. Esse psicanalista escreve de maneira extremamente acessível e seu conceito da “mãe suficientemente boa” é ultra libertador para nós, mães, que costumamos nos sentir muito culpadas.
Disciplina Restaurativa para escolas, de Judy H. Mullet e Lorraine Stutman Amstutz: é um livro técnico, então interessa mais a quem trabalha em escola, mas eu adorei ler as histórias que são contadas também.

Mais uma história! Um filho se drogava e os pais eram ambíguos em relação ao que fazer com ele. Queriam detê-lo, em relação a suas atitudes destrutivas, mas temiam estar reprimindo ou interferindo demais até que conversaram com um ex-viciado, que lhes apresentou uma metáfora que criou a pressão necessária para fazê-los agir. Ele disse: “Há duas balas apontadas para a cabeça de seu filho neste momento. Uma são as drogas, a outra é o álcool. Uma ou outra vai matá-lo... é apenas uma questão de tempo... se vocês não o detiverem agora”. Foram bem sucedidos. Que bom!

Essa história e também a citação de Ortega y Gasset sobre as metáforas estão no livro: Desperte seu gigante interior, de Anthony Robbins. Apesar do preconceito que esse livro me despertou no início, hoje eu o considero fundamental.


Foto : Ligia Vargas


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Jany

Escritora e Focalizadora de Dança Circular no UlaBiná.

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