01/12/2005
Gosto muito de contar aquele causo do mineirinho que estava desenganado, que ia morrer naquele dia mesmo, segundo os médicos. Toda a cidade sabia que daquela noite ele não passava. E todo mundo já estava a par dos últimos instantes do cumpadi, menos o próprio. É que o dito cujo tava sendo candidato a ``morto enganado´´ . Aqueles que vão embarcar fora do combinado, mas ninguém tem coragem de lhe dizer.
Pois bem. Como ele não sabia da morte próxima, a muié dele é que não era louca de chegar nos seus ouvidos de moribundo e lascar: ``Óia, bem. Ocê hoje num passa da meia noite´´. O que ela fazia, e isso junto com a fiarada toda, era chorar nos cantos da casa, escondida.
Eis que, num determinado momento em que a mulher dele vai pra cozinha arrastando os minino com ela, que era pro pai dormir um pouco antes de dormir duma vez, como se diz, um dos menores da casa, que devia ter uns 4 aninhos, encosta no portal que dava da cozinha pro quarto do doente. Este, ainda acordado e vendo o filhinho ali parado a olhar pra ele com o dedinho indicador na boca, e sentindo no ar um cheirinho gostoso de pão de queijo, pergunta: ``Oh,fio! Tô sentindo um cheirinho de pão de queijo. A mãe tá fazendo pão de queijo, fio? . O mineirinho de 4 anos responde, numa fala arrastada e prolongada: Tááá....´´
E ele, o doente, pede: ``Oh, fio, vai lá pedir pra sua mãe um pão de queijo. Eu quero comer um pão de queijo. Eu gosto muito de pão de queijo, fío´´.
O menino, obedecendo, vai à cozinha e logo volta. Com o dedinho indicador ainda na boca, diz para o pai moribundo: ``A mãe falô que os pão de queijo é só pro velóóóório´´.