11/05/2006
Um cumpadi meu, meu querido conterrâneo, foi um belo dia fazer um passeio pela capital de São Paulo. Isso se deu naquela época dos boleros, lá pros anos 50 ou 60.
Muito bem: caminhava o dito cujo pela rua das Palmeiras, onde existia a famosa Rádio Nacional, quando, ao passar pela porta, se depara com uma multidão pronta para entrar no auditório onde se anunciava uma apresentação do então grande astro da música mexicana, Pedro Vargas, que fazia um enorme sucesso com todos os seus discos lançados no Brasil. Isso na forma de 78 rotações, a famosa ``bolacha preta´´ na época de ouro do disco.
Só para se ter uma idéia, os títulos apelativos das músicas do Pedro Vargas – e de outro cantor mexicano famoso na época, o saudoso Gregório Barros - eram
Mais ou menos assim: ``Perfídia´´, ``Pecadora´´, ``Hipócrita´´. Tudo na base do xingamento, do pejorativo, que era o que o povão que consumia disco gostava.
Pois bem: o meu cumpadi vê anunciado ali o grande cantor e resolve não deixar passar em branco a oportunidade única de assisti-lo, só para depois contar vantagem lá na minha terrinha.
Compra o ingresso, se abanca num bom lugar e assiste prazerosamente ao mexicano desfiar um rosário de umas 20 canções do seu repertório. Claro que, como é de praxe entre os artistas, ele deixou para o final os grandes sucessos, para atender os pedidos do público.
CANTOR (para o público) – Aora ustedes podem pedir lãs canciones que quieram.
Bastou isso para o pessoal do auditório começar uma gritaria, todos ao mesmo tempo.
FÃ – Perfídia!
OUTRO – Hipócrita!
OUTRO – Pecadora!
OUTRO – Malvada!
A gritaria ia por esse caminho quando o meu cumpadi achou-se no direito de também xingar. E no berro:
CUMPADI (gritando) – Ladrão... sem-vergonha... cafageste... ordinário... fio duma égua...
Naturalmente, foi expulso da Rádio Nacional... o meu cumpadi.