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Paia...Assada

O Gato da Madame Vou contar a história de uma madame que vivia muito solitária, no vigésimo andar de um prédio nos jardins, em São Paulo

09/09/2005



Vou contar a história de uma madame que vivia muito solitária, no vigésimo andar de um prédio nos jardins, em São Paulo. Era uma madame muito bonita, que gostava de conforto, e por isso morava num belísso apartamento de ampla salas e grandes suítes. Mas, apesar de ser uma mulher muito rica e coisa e tal, a dita cuja vivia sozinha naquele espaço. Como acontece com tanta gente por aí, é ou não é?
Ah, mas eu ia contar causo de bicho e tô aqui falando de uma madame. Naturalmente vocês pensam que eu me atrapalhei ou me esqueci do fio da meada, mas não é nada disso. Acontece que o causo começa assim mesmo, pois tal madame tinha um gatinho. Lindo que só vendo. Desses que nem parecem de verdade, de tão formoso. Tudo nele era majestoso. Agora, o que impressionava a madame eram os olhos azuis e a expressão de quem entende tudo o que se passa e o que se fala. O que às vezes deve ser verdade e a gente nem se toca. Pois a tal madame se impressionava tanto com o olhar do lindo bichano que achava que só faltava mesmo ele falar. E não é que, acreditando mesmo nisso, a dita cuja deu de conversar o dia inteiro com o gatinho, achando que este método usado para fazer papagaio aprender a falar de tanto a gente repetir era o que tinha que ser feito. E elas sempre terminava as aulas com o gato na insistência: “ Fala, meu bichano, fala...”
O bichano, diante dessas insistências diárias, sempre lhe respondia com um longo...miauuuuuuu. Sempre com olhar azul fixo em sua dona, atal madame dos Jardins. Aquela que vivia solitária com o nosso personagem por companhia.
Mas – sempre tem um mas, como dizia o saudoso amigo Plínio Marcos – eis que o belo dia, logo de manhãzinha, antes que a madame pudesse recomeçar a sua aula de fazer o bicho falar, o dito cujo bicho olha para a madame e diz, bem claramente, até devagar, de um jeito categórico: “Dona, fuja que este prédio vai cair”.
Tal não foi a surpresa de o bicho falar que a dona saiu desembestada gritando no corredor do seu andar, que era o vigésimo: “ Meu gato falou...meu gato falou...Venham ver!”.
E o gatinho ainda insistiu num berro: “Dona! Eu to avisando que este prédio vai cair!”.
Como ela não deu nem bola para o aviso, o bichano – que como todos outros gatos tem essas premonições – deu um belo salto lá de cima e pumba, caiu na rua, para apreciar junto a multidão, estarrecida, aquele belo edifício ir desmoronando até ficar um monte de tranqueira. Morreu todo mundo no prédio.
Foi aí que, vendo aquela multidão arrodiada, o nosso bichano, pra surpresa de todos, comentou: “Mas que mulher cretina. Passa mais de um ano insistindo para eu aprender a falar e, quando finalmente falo, ela não presta atenção. Êita!


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Rolando Boldrin

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Conta causos fazendo a gente saborear o modo gostoso de uma boa prosa.

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