13/10/2005
Ah, quando me lembro dos padres da minha terra, dá até vontade de contar aquela do padre dorminhoco. Dizia-se que ele era tão dorminhoco que tinha até contratado, há muitos anos, um menino, um rapazinho, só para acorda-lo de manhãzinha, hora da primeira missa, que era a das seis. Então o tal contratado acordava o padre às cinco horas da madrugada, que era pra dar tempo de tomar banho, tomar café...etc...etc...etc...
Mas - sempre tem um mas - o tal menino contratado já estava mocinho, no ponto de procurar um serviço decente (ou, perdão, um trabalho de maior futuro), pois aquele de acordar padreco não lhe oferecia mais do que uns trocadinhos como gorgeta do cura.
Assim feito, assim aconteceu, e o padre teve forçosamente que procurar outro menino. E deu na sua procura com um caipirinha daqueles bem sabidos lá da minha terra.
A tarefa dele era muito simples, lhe explicava o padreco no dia da combinação para o primeiro dia de trabalho.
PADRE – Olha, meu filho. É muito fácil o que você vai fazer. Mas não pode falhar, pois tenho que estar pronto para a missa das seis e os nossos queridos fiéis não gostam de atraso. Sua função vai ser apenas esta: às cinco horas da manhã, você bate na janela do meu quartinho e diz apenas esta palavras: `` Acorda, sêo padre. São cinco horas da manhã....o dia está bonito e o café já está à mesa´´.
E assim foi! No primeiro dia, o menino bate na janela do padre.
MENINO – Sêo vigário! São cinco horas da minhã...O dia tá bunito e o café tá na mesa.
PADRE – (para surpresa do menino, o vigário responde pausadamente) – Já sei, meu filho. Os anjos me disseram.
O menino fica encabulado, é claro. Pois se os anjos já lhe avisaram, pra que serviria então o seu trabalho de todos os dias acordar o bom padre? Mas, como estava contratado, e era o seu primeiro dia...vá lá. Na outra manhãzinha, lá estava ele à janela do padre.
MENINO – Sêo vigário! Já são cinco horas da manhã, o dia tá uma belezura e o café tá servido na mesa.
PADRE (respondendo num tom automático) – Já sei, meu filho. Os anjos me disseram.
Pois bem. Assim se seguiram as manhãs até completar aproximadamente uns dez dias com o mesmo ritual. ``Sêo vigário! São cinco horas da manhã... o dia tá bunito... o café tá na mesa.´´ E a resposta igual, do padreco: ``Já sei, meu filho, os anjos já me disseram´´.
Até que um belo dia, o diálogo foi assim:
MENINO – Sêo vigário! Já são cinco horas da manhã, o dia tá bunito e o café já tá na mesa.
PADRE – Já sei, meu filho. Os anjos me disseram.
MENINO (completa, pela primeira vez) – Já disséro, uma pinóia. São oito horas da manhã...ta chuvenu uma barbaridade...e hoje num é café, é chocolate.
Tá na cara que o menino foi mandado embora desse serviço sem futuro. É ou não é?