09/08/2005
Quem nunca ouviu falar em ¨ justiça com as próprias mãos ¨ ? Desde velhos tempos passados até os dias de hoje, ainda existe isso. O causo a seguir é exatamente sobre esse assunto. Aconteceu a muito tempo, lá pros lados da minha terra, que fica perto de Ribeirão Preto. Aquela região é e sempre foi muito rica em fazendas, com grandes plantações e criações de gado.
Nessa época, da qual eu me lembro bem, era muito comum se ouvir falar de roubo de cavalos nas ditas fazendas. Não que hoje não haja mais larápios desses maravilhosos animais, mas naquele tempo uns fazendeiros prejudicados pelos ditos cujos resolveram fazer justiça com as próprias mãos. Eles se reuniram na calada da noite e resolveram o seguinte: o ladrão que fosse apanhado seria levado pra bêra do rio - e isso lá é o que não falta - e, num galho que pendesse para o referido rio seria enforcado, ficando seu corpo dependurado como a servir de banquete pros urubus - que aliás, por lá ta cheio voando no céu azul.
Eis que, de uma empreitada dessas de tocaia, os ditos fazendeiros não pegaram apenas um gatuno de cavalo, não. Mas sim dois de uma vez. Uma dupla de ladrões de cavalos pra ninguém botar defeito. Os ditos cujos já deviam ser donos de uma manada bem grande e agiram há um tempão praquelas bandas.
Entônce, seguindo no causo, foi dito e feito. Uma corda bem grossa no pescoço de cada um deles e a caminhada em grande alvoroço popular ruma à beira do rio mais próximo. Tinha até carrasco contratado pro serviço.
¨ Pindura esse daqui primeiro ¨, disse um dos fazendeiros, com voz de sargentão. ¨Depois a gente pindura o outro. É um de cada vez¨. O carrasco, obedecendo, acha um galho que caía do barranco pras águas e pendura o primeiro. Mas, para surpresa de todos os presentes, o tal galho encontrado estava podre e, com o peso do enforcado, quebra. O ladrão cai nas águas e, desesperado como um grande peixe, escapa numas longas braçadas para a outra margem. Conseqüentemente, cai no mato e se manda Brasil afora.
Como havia mais um ladrão com a corda no pescoço, até que os fazendeiros justiceiros não se importaram muito com a escapada. ¨ Já que um escapou, vamos enforcar bem enforcado este que ficou. Procure outro galho ¨, disse o fazendeiro sargentão para o carrasco.
E toca o carrasco a procurar outro galho para pendurar o segundo ladrão. Nesse momento de expectativa, eis que, uma voz trêmula na garganta, diz o futuro enforcado para o seu carrasco: ¨Moço, por favor! Ache um galho bem firme... porque eu num sei NADÁ, viu?¨
ATENÇÃO
SR. BRASIL, programa de Rolando Boldrin
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