05/03/2025
A horta é um cultivo. É um mexer e
remexer a terra numa atividade diária. Nesse revolver, enterra-se no berço uma
pequena semente, regada com cuidado. São esses os nutrientes essenciais que ela
necessita: a terra, a água e a exposição ao sol e ao amor. Com esse cuidado,
logo nasce um pequeno broto. Ainda curvado, como se os pés e a cabeça ainda
preferissem o escuro.
Em pouco tempo, seu caule se ergue direção
da luz. Duas folhas o equilibram e captam os raios do sol, espalmadas como se
fossem braços agradecendo e se iluminando com os alimentos da vida. No escuro da
terra, a planta cresce rapidamente sem que se veja, buscando sustentação entre os
sais que escorrem pela terra úmida.
Quem planta observa, dia após dia,
presente de corpo e alma, com os pés fincados no chão, na solidez da terra.
Como se nesse enraizamento, também colhesse da mãe o sustento da vida sã e
equilibrada. Pelos dedos, fluem trocas energéticas. Com as mãos cuidadosas, nos
colocamos na presença divina, unificando à natureza.
A planta cresce no seu tempo,
respeitando o ritmo do seu próprio desenvolvimento. Basta-lhe alimento e tempo.
Todo o respeito a ela é merecido. Assim, todos os dias, meu corpo pacientemente
lhe traz água e amor. Nutre a terra de restos de frutas, afrouxa o solo para
oxigenar o seu chão e garantir que ela não tenha sede.
A beleza do tempo, traduzida em
paciência, revela-se nos olhos: no surgimento das folhas que dançam com o vento,
no pouso delicado dos insetos coloridos. As Joaninhas são mais lindas. Outros bichos,
ainda que estranhos, também são necessários. Borboletas passeiam, repousando
aqui e ali. A horta é um jardim vivo, onde folhas, pequenos frutos e legumes se
entrelaçam em harmonia.
Cultivar a horta é, no fundo,
cultivar a si mesmo. Colocar a semente é permitir-se renascer a cada novo gesto
de plantar. Aguardar o tempo é exercitar a paciência, ser capaz de esperar sem
a pressa da chegada.
E, no entanto, me pergunto: sou eu
quem cultiva a horta ou é a horta quem me cultiva? No chão em que piso, caminho
e vivo, ela me acompanha - sussurrando para que eu siga adiante. Me ensina a
dar os passos, errantes ou firmes, mas sempre para frente. No cultivo do meu
tempo, instante por instante.