TELEFONE E WHATSAPP 9 8266 8541 | Quem Somos | Anuncie Já | Fale Conosco              
sitedagranja
| Newsletter

ASSINE NOSSA
NEWSLETTER

Receba nosso informativo semanal


Aceito os termos do site.


| Anuncie | Notificações

Modo de Ver

Reflexos de um transtorno induzido Sou artista plástico

26/01/2006



Sou artista plástico. Moro em uma casa que demorei 10 anos para construir, em um terreno comprado em 1981, época em que a Granja Viana era longe e interessante.
Levo uma vida simples; tanto eu como minha mulher trabalhamos. Tive oportunidade de estudar em boas escolas e fiz uma boa faculdade. Morei em cinco países diferentes ao longo de minha vida. Exerci diversas atividades profissionais e ocupei cargos de responsabilidade. Mas hoje em dia meu tipo de trabalho me proporciona intermináveis horas de análises, pensamentos e reflexões. Minha função é criar e colocar em telas e objetos minha visão das coisas e do mundo. Trabalho muito em meu ateliê. Não me apego a horários, rotinas, leio bastante, assisto à televisão criticamente e tenho uma vida social reduzidíssima. Quando consigo fazer alguma exposição, muito me alegra; se for fora do Brasil, mais ainda. Minha parte das despesas da casa depende de minha sorte de vender algum trabalho, o que consigo razoavelmente. Mas nos últimos anos os ganhos são insuficientes para suprir minhas necessidades, uma vez que o custo de vida subiu muitíssimo e estes são meus únicos rendimentos. Assim que, obviamente, as dívidas aparecem e o que pode ser postergado, infelizmente o é. Ultimamente mais e mais.
Basicamente evito o sistema o quanto posso e isso me proporciona certo distanciamento da massacrante formatação a que todos somos submetidos incessantemente através de todos os meios de comunicação e seus diversos arautos e profetas. E fica muito difícil de aceitar a maneira como este País está sendo conduzido e vivido pelas pessoas de um modo geral. Uma aceitação e uma passividade assustadora, com toda sorte de violências, desmandos e cinismo por que somos obrigados a passar.
O transtorno induzido a que me refiro no título pode ser melhor entendido ao se ler minha coluna anterior chamada Blitz, na qual relato ainda trêmulo uma experiência que para a maioria das pessoas pode parecer banal, mas que para mim ainda continua a ser traumatizante. Relato a seguir os dias após o fato.
Terça-feira, 10h45 da noite: parado por uma blitz da Polícia Militar.
Terça-feira, 11h50 da noite: chego em minha casa, depois de ter conseguido uma carona no meio da São Camilo. Tive sorte.
Quarta-feira: vou ao despachante e peço a regularização dos documentos. Serão necessárias pelo menos 24 horas.
Quinta-feira: vou ao Ciretran de Cotia, onde sou informado das seguintes operações a serem feitas:
1) escrever um formulário cujo modelo estava afixado na parede, assiná-lo e reconhecer firma (repare que eles não têm um formulário e eu tenho que reconhecer firma para liberar um carro que é meu, apresentando documentos provando isso);
2) ir à Nossa Caixa e pagar uma Taxa de Revistoria;
3) xerox do CIC e RG e da Taxa de Revistoria.
Quinta-feira, 15h40: vou à Nossa Caixa e pago a Taxa de Revistoria no valor de 76 reais.
Sexta-feira, 10h00 da manhã: cartório, onde em 20 minutos tenho minha firma reconhecida. Munido de tudo isso, retorno ao Ciretran, onde será produzido um ofício, que será, então, encaminhado ao delegado para que o assine autorizando a liberação. Faltava, ainda, um xerox do auto de infração, que obtenho em uma papelaria próxima.
Sexta-feira, 14h30: finalmente recebo o alvará de soltura do veículo.
Tendo percorrido esse calvário asqueroso, burocrático e ineficiente, vou ao Pátio Municipal de Veículos Apreendidos, onde devo pagar 200 reais de taxa de pátio, mais 20 reais por dia de apreensão. Desembolso mais 360 reais. Et voilá, c’est fini.
Em 15 dias devo apresentar meu carro para outra revistoria no Ciretran de Carapicuíba, pois a chapa é deste famoso município e, se não o fizer, constará bloqueio e o calvário provavelmente recomeçaria.
E posso retornar ao trânsito caótico, desordenado e perigoso por ruas cheias de lombadas e buracos, radares fotográficos inconstitucionais e desonestos, tais como as autoridades que os colocam.
Durante estes dias encontrei várias pessoas nas diversas filas que enfrentei: gente que estava fazendo as mesmas coisas de ônibus, gente sem dinheiro para pegar ônibus, e, portanto, tendo de fazer tudo a pé, em situações desesperadoras. E são dezenas todos os dias, somente no município de Cotia, sustentando imensas máquinas burocráticas com sangue, suor e lágrimas.
Claro que todo o dinheiro arrecadado (e aqui eu falo não somente deste caso mas de todo o imenso montante que se arrecada em todo o País) vai ser dissipado entre as diversas máfias governamentais, amparadas por sua ganância, insensatez e impunidade, e tudo continuará como sempre foi. Ninguém quer saber e aqueles que poderiam e deveriam fazer algo para mudar o estado das coisas não o fazem: por omissão, covardia, incompetência ou simplesmente por fazerem parte disso tudo. A burocracia e a ineficiência continuam enormes e são as lombadas figurativas do crescimento. Para não desfilar uma lista de "otoridades", faço uma pergunta: AONDE ESTÁ A PROCURADORIA DO ESTADO?
Nas próximas eleições votarei em branco ou nulo, pois, mesmo na tentação de achar que alguém mereça o meu voto, tenho certeza de que nada vai mudar e a única maneira de não legitimar esta palhaçada é votando contra todos. Se eu não fosse obrigado, talvez repensasse…


Veja mais

País de Iluminados
Sumpalo
Bushada
Pantomina Brasileira
Sem Adversários
Lesma Lerda
O País do Tudo Bem
Corrupção virulenta
Infindável Desperdício
Estratégias de Manipulação
Patricia Kaufmann
Dívida Externa
Ressaca Eleitoral
GUCCI - O império do novo luxo completa 85 anos
Fernando Ribeiro
Isabelle Ribot
Elaine Gomes
Artistas em uma civilização de consumo e desperdício
Canalhices
Você Escolhe

 




Pesquisar




X

































© SITE DA GRANJA. TELEFONE E WHATSAPP 9 8266 8541 INFO@GRANJAVIANA.COM.BR