17/11/2005
Conheci muito bem o Pantanal, esta região maravilhosa e única de um país assim chamado Brasil. No fim dos anos 80, em sociedade com dois cidadãos italianos, tive uma pequena granja de 45 hectares com três enormes lagos perto da cidade de Miranda, no Mato Grosso do Sul, onde se dizia ser a porta do Pantanal.
Foi o primeiro criatório de jacarés autorizado pelo Ibama em todo o Brasil. Tudo legalizado e supervisionado. Nos lagos ficavam as matrizes, de onde os ovos eram retirados na época certa e colocados em incubadoras. Depois da eclosão, uma porcentagem era devolvida à natureza e outra era colocada em galpões apropriados, onde os animais eram criados até um ano de idade, aproximadamente, e depois abatidos para o comércio de peles. Todas as peles eram numeradas e recebiam um lacre de controle. Embora eu deteste esta atividade de criação de animais para abate, acreditava que ao implementá-la estava protegendo os animais de serem abatidos na natureza e sem controle.
Alguns anos depois, saí da sociedade em virtude de divergências quanto ao conceito de criar, concomitantemente, outras espécies de animais, como capivaras, pacas e até serpentes. Os sócios não queriam otimizar o espaço e o conceito.
Sei que hoje a granja como criatório não existe mais e sei também que esse pequeno espaço de terra estava à venda. Na última vez em que estive no Pantanal, em 1995, pude ver ainda muitos lugares intocados e com baixa densidade demográfica, incluindo aí os entornos da Serra da Bodoquena e a região de Bonito. Situação esta que sei mudada com o avanço das fazendas de gado, de culturas várias, desmatamento e permanente matança e captura de animais de várias espécies, destacando-se os felinos e as aves ornamentais, quebrando a cadeia natural de todas as espécies da flora e da fauna.
Vejo agora com profundo nojo e desprezo a intenção de se fazer usinas de álcool e culturas extensivas de cana-de-açúcar nesta região única e divina, confirmando a imensa e interminável estupidez de nossos governantes.
Simplesmente, a ignorância, o atraso e as intenções maléficas daqueles que sustentamos com nosso suor e estresse chegaram ao seu nível mais baixo, demonstrando que é ridículo persistir neste modelo brasiliense de política vil e irresponsável.
Por que os governadores, especialmente os da região sul do País, não tomam a decisão de romper com Brasília e com o Governo Federal, não aceitando mais o nível de extorsão de nossas riquezas e produção, dizendo basta a esse modelo centralizador, incompetente e inútil que somente causa danos a todos? Os estados têm de ter mais autonomia e poder legislativo sobre as questões próprias de sua economia. Do modo como estão, as estruturas de governo estaduais e as assembléias legislativas são dispendiosas demais e ineficazes, sendo mais um criadouro de animais políticos bagaceiros, estes sim, jamais ameaçados de extinção.
A política brasileira e toda a nação, em seu círculo vicioso e pernicioso, feita de pessoas atrasadas, mentirosas e cínicas ― não nos esquecendo da ignorância, mãe de todos os males ― caminha para o imenso lamaçal anunciado onde as últimas reservas de beleza e orgulho serão submersas por esse material barrento produzido pelos vermes de nossa República. E ainda comemoram o dia! Quando ouço o trecho daquela marchinha carnavalesca que diz
“De um povo heróico o brado retumbante
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte”
em um primeiro momento, dou risada, por ser hilário, mas na seqüência sempre me resta a tristeza, pois nos mostra como somos pretensiosos e mal-informados. Lindo país de alienados.
O colunista estará escrevendo as próximas colunas de algum lugar da Europa, uma vez que, afortunadamente, estará participando de duas exposições no velho continente.