10/08/2006
Quando morei com meus pais na Granja Viana dos anos 70, a Raposo Tavares era péssima e a São Camilo tinha trechos de terra. Quando comprei meu terreno no início dos anos 80, a duplicação da Raposo já estava quase pronta e a São Camilo já estava asfaltada. Assim ainda se manteve até o final dos anos 90 como um lugar legal para se morar. Perto de São Paulo, sem os incômodos dela e sem a menor interferência das horríveis cidades vizinhas, como Carapicuíba (provavelmente a mais horrível e desagradável de todas) e Cotia, um pouquinho melhor. Granjeiro morava na Granja Viana e pouco se lixava para a porcaria ainda distante. Porque a maioria das pessoas era fugida de São Paulo exatamente pela porcaria que estava se tornando.
Os moradores eram classe média alta, classe média e até baixa vistas por um parâmetro econômico, mas bastante intelectualizada, cheia de artistas, publicitários, fotógrafos e profissionais liberais de excelente cabeça.
Os terrenos eram grandes e com muita preservação ambiental ou pelo menos gente interessada em tal. Existia algo de civilização em um ambiente rural.
Súbita e violentamente na virada do milênio começou a destruição, mudança de leis, incorporadores, predadores e uma classe de pessoas na beira da incivilidade e da arrogância.
O resultado disso é que muita gente que morava na Granja pelas suas qualidades, fugiu daqui nos últimos anos. Quem tinha mais dinheiro foi para algum lugar no exterior em busca de algo extinto por aqui que é cidadania. Quem tinha menos foi mais longe e outros ficaram por saber que não adianta ir mais longe pois o Brasil virou uma fossa enorme. Putrefata e burra por onde quer que se vá.
Assim, em meio a descrença absoluta em qualquer governo e autoridade, e da possibilidade de qualquer mudança benéfica, me restam as saudades de uma Granja mais bela, humana e agradável de se morar. Uma Granja que nos foi roubada indecentemente assim como nossa cidadania.