10/11/2020
No adestramento trabalhamos para ajustar o comportamento do cão. Todo comportamento é iniciado / motivado / impulsionado por uma emoção. Medo é uma emoção de autopreservação, que indica que a situação que o circunda apresenta alguma ameaça ou perigo.
Como os cães têm a audição superpotente, o barulho dos fogos é entendido como perigo e eles se estressam com isso, buscando proteção. Não só os cães como os gatos, aves, roedores, enfim, sejam animais silvestres ou domésticos, toda fauna se estressa com essa tradição.
Alguns animais atingem níveis perigosos de adrenalina e começam a tentar de tudo que possa aliviar aquela situação estressante... quebram portas e janelas para entrar em casa, pulam muros e portões e fogem atordoados, se escondem e passam mal de tanto medo etc.
Os resultados vão desde ferimentos (cortes e arranhões) a atropelamentos, afogamentos, desaparecimento do animal ou até mesmo convulsões e ataques cardíacos.
Estamos em novembro e temos mais ou menos um mês até as festas de fim de ano e devemos começar a nos preocupar com a situação do nosso pet que tem medo dos fogos de artifício. Quanto antes nos prepararmos, o ambiente e o animalzinho, melhor!
Por exemplo, o ideal é educar desde filhote, fazendo o animal entrar em contato com diferentes tipos de cães, humanos, lugares, situações, sons etc., assim eles naturalizam o som dos fogos de artifício ou dos rojões em dia de jogo de futebol, entendem que é um som incômodo, mas que não oferece um perigo real.
Mas se o animal cresceu e você percebe que ele demonstra um medo de leve a moderado nessas situações, coloque para tocar sons de fogos de artifício (você encontra com facilidade e gratuito na internet) no ambiente que ele se alimenta, enquanto ele se alimenta.
Comece o quanto antes conseguir, por exemplo, desde o começo do ano se preparando para as festas ao final dele. No início, o volume deve ser o mais baixo possível, e ao longo dos meses, vá aumentando o volume, gradativamente, conforme for percebendo que o cão se alimenta com tranquilidade naquela altura de som.
Respeite o limite do animal: se ele demonstrar assustado ou com medo, volte a abaixar o volume do som. Você também pode colocar o som de fogos em momentos que o cão está relaxado e ao colocar brinque, treine, vá passear, dê petisco, faça muito carinho nele... enfim, coisas que você sabe que ele gosta e que o relaxa e deixa feliz.
Assim tentamos atingir o objetivo de relacionar o som a coisas boas e felizes.
Lembrete importante: quanto antes você começar as mudanças na rotina do cão para dessensibilizá-lo do barulho dos fogos, melhor. Comportamento exige um tempo para que o animal entenda e realmente mude de fato sua reação aquele estímulo auditivo assustador.
Nos casos de medo intenso, se faz necessário medicação junto ao trabalho comportamental. Pontuo que procure um adestrador sério e um médico veterinário comportamentalista para que eles façam o diagnóstico do cão, ou seja, descobrir se esse medo é tratável através de adestramento ou se serão necessários os medicamentos.
Além dessas dicas comportamentais existem as dicas de manejo do animal pré-festas:
Prepare o local no qual ele vai ficar: deve ser um lugar que ele goste, com coisas dele como caminha e brinquedos, sem perigo nas portas e janelas, seguro (prevenindo machucados e fugas) e calmo. Se for possível pode deixar tocando algo calmo como música clássica, comprovadamente benéfica para acalmar os animais.
Distraia-o no momento da queima de fogos, com alguma brincadeira que ele goste ou com algum alimento. Não fique com dó, fazendo muito carinho e reforçando o medo, apenas mostre que está tudo bem, tentando redirecionar a atenção dele para algo divertido e interessante.
Dê alimentos leves em dias de festas ou de jogos, antecipando o estresse que pode ocorrer. Com alimentos leves diminuem as chances de vômitos e torções gástricas.
Não acorrente o animal e tenha cuidado com o tipo de coleira que ele estará usando.
É muito triste que uma tradição dos humanos seja tão prejudicial a um animal, podendo levar ao óbito de um inocente. E não são só eles que sofrem... existem aqueles que se prejudicam muito com a tradição, como os autistas, os idosos, bebês e crianças.
No mercado há fogos de artifício sem som, somente com a beleza das luzes, são mais caros e não se encontram em qualquer cruzamento de estrada, como vemos aos montes no fim de ano.
O que faltam são leis que proíbam esses fogos com barulho nas cidades, além da população mais conscientizada, que não compre esse tipo de artefato para comemorações. Tradições que prejudiquem outros seres vivos não são boas para ensinarmos às próximas gerações.