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Odair Santos, planejado para as conquistas Com a experiência que tive de treinamento com infanto-juvenis e conhecendo o perfil desses jogadores, algumas questões ficaram claras na minha cabeça

13/04/2006



Com a experiência que tive de treinamento com infanto-juvenis e conhecendo o perfil desses jogadores, algumas questões ficaram claras na minha cabeça. Era um contraste que persiste até hoje: o tenista sem dinheiro dificilmente conseguia ser bem sucedido numa carreira de performance, tanto juvenil como profissional. Chegava determinado momento que era necessário
dinheiro para viagens, hospedagens, bons equipamentos.
Contraditoriamente, o garoto sem dinheiro era o que mais se esforçava, o que mais lutava. Quem tinha condições financeiras, pela facilidade natural que a vida lhe proporcionava, não tinha tanta determinação.
O que fazer então?
A essa altura, em 1982, o tênis já havia proporcionado muito para mim e toda a minha família. Eu me senti na obrigação de fazer algo pelo tênis.
Tive, então, a idéia de selecionar um pegador de bola ou um jovem carente e colocá-lo no tênis. Eu me contentaria ao devolver parte do que o esporte trouxe para a minha vida ao dar a chance para alguém que tinha o perfil batalhador, porém, sem condições financeiras. Era uma verdadeira ação social, um ideal que, apesar da minha vontade, sabia que seria difícil viabilizar.
Vinha com esse pensamento até o dia em que levei o José Mauro Wasserfirer, que era um dos melhores juvenis do Brasil na época, para treinar no A Hebraica. As duas quadras da Meyer Tênis, no Brooklin, eram rápidas e precisávamos usar o piso de saibro como preparação para o Banana Bowl.
Numa tarde, passando por uma das quadras do A Hebraica, vi um garotinho da altura da rede batendo na bola com uma raquete de madeira toda torta, jogando com uma alegria especial. Aquela cena me contagiou. Busquei detalhes.
Era uma criança que acompanhava o irmão mais velho, o Amadeu, professor de tênis no clube. Na hora veio na memória meu plano pessoal.
Aquele era meu personagem!
A primeira apresentação ficou marcada para dois dias depois em determinado horário na minha academia e... nada do garoto aparecer.
Depois de muito tempo, naquele mesmo dia, surge um senhor acompanhado de uma criança de oito anos, com cara de choro, que havia se perdido na avenida Santo Amaro. Começava ali toda uma história encantadora com Odair dos Santos.
O primeiro passo foi levá-lo ao médico. Conheci, a partir dali, um lado muito bonito do povo brasileiro: todos que conheceram o projeto voltado para o Odair abriram suas portas sem nenhuma restrição e colaboraram com a maior boa vontade do planeta. O pediatra de meus filhos, doutor Vagner Lapati, prontificou-se a ajudar, colocando toda sua clínica à disposição.
O Odair tinha dentes defeituosos e foi atendido pelo doutor José Bruhns.
Também começou a fazer natação. Uma amiga, a Vera, tinha uma loja de confecção infantil e vestiu o Odair como um autêntico príncipe. Fizemos mecânica, funilaria e pintura e ele virou um zero quilômetro, motor de Ferrari.
Visitei, então, a família do Odair na Vila Flórida, perto do Embu das Artes (SP). Local de difícil acesso, precisei deixar o carro bem longe da casa.
Na mesma casa moravam o pai, a mãe e oito irmãos.
Começamos todo um trabalho de desenvolvimento com o Odair.
Ele teve respaldo técnico, clínico, psicológico, nutricional, odontológico.
O doutor Vitor Matsudo e a psicóloga Regina Brandão, gentilmente, cuidavam dele.
Certa vez, fui buscar minha filha, Tatiana, na festa de aniversário de um amiguinho dela. O pai desse amiguinho, Sérgio Guerreiro, pediu para eu entrar.
Conversamos bastante e falei sobre o Odair. Então presidente da Leo Burnett, o Sérgio, um publicitário, disse que sua agência teria um cliente que se interessaria pelo projeto. O cliente era a Alpargatas, através da marca Rainha.
Dois dias depois eu estava reunido com toda a diretoria da Alpargatas.
Na semana seguinte a diretoria da empresa estava na Meyer Tênis acompanhando aos treinos do crioulinho. Eles se encantaram...
Dos 8 aos 18 anos, o Odair teve tudo o que se possa imaginar. Alimentação para ele e a família inteira, roupa, viagens, as minhas despesas de viagens com ele... Através de um dos diretores de marketing da Rainha, o saudoso Paulo Nalon, fui apresentado ao diretor de marketing das Casas Pernambucanas, que também entrou como patrocinadora no projeto. O Odair ia comigo para todos os lugares, passava a maior parte do tempo mais em minha casa do que na casa dele e se transformou no meu filho colorido.
Aos 9 anos, ele conquistou o título do Campeonato Brasileiro infantil. Aos 10, ele chegou à semifinal do Mundialito, na Venezuela.
O grande adversário dele era um menino que se chamava Marcelo Saliola, um ano e pouco mais velho. Seu treinador era o Sérgio Ferreira, primo do Paulo Ferreira e irmão de um dos meus parceiros de duplas, Carlos Alberto Ferreira, o Botina. Muito precoce e inesperadamente, o Serginho faleceu. Teve uma crise de bronquite fulminante. A partir daí, em concordância com os pais do Saliola, passei a ser seu treinador.
Aquela união entre dois garotos rivais das quadras, na minha cabeça, poderia resultar em dois benefícios. O primeiro era que o Saliola, loirinho, de classe média, ficaria mais “malandro” convivendo com um menino de vila, de periferia. Seria interessante para ele aquela experiência. Mas aconteceu o contrário:
o Saliola era o “malandro” e o Odair, o príncipe, daquele que escovava os dentes quatro vezes, usava desodorante, trocava várias vezes de camisa e tomava no mínimo três banhos por dia.
O tênis proporcionou ao Odair oportunidades que poucos têm em nosso país. Aos 10 anos ia para a Venezuela, aos 11 viajava para os Estados Unidos, disputava campeonatos sul-americanos, já era escolado em nível cultural para a vida em função de todas essas atividades. Sempre foi bom aluno na escola e querido por todos. A administração do dia a dia era bem difícil, principalmente para a Sonia, porque tínhamos uma verba dos patrocinadores, inclusive para alimentação. Não podia existir distinção de ter alguém, sob o mesmo teto, tomando iogurte e o outro comendo farinha. Precisávamos fazer compras no supermercado toda semana para termos a garantia de que o Odair se alimentava bem na casa de seus familiares.
O doutor Vagner Lapati revelou um diagnóstico preocupante na primeira consulta do Odair. Disse que ele era uma criança saudável, forte fisicamente, mas que tinha um problema: sem saber como havia sido sua alimentação do zero aos três anos, não podia fazer uma previsão para o seu futuro. O médico revelou que se a alimentação nessa fase não tivesse sido saudável, o desenvolvimento
cerebral do Odair poderia estar comprometido e ficar desproporcional ao desenvolvimento físico.
Não deu outra...
Nos meus 30 anos lecionando tênis, treinando jogadores, eu não tive nenhum atleta que mereceu ter o sucesso que o Odair merecia ter. Era descomunal o que ele agüentava treinar e jogar. Mas o diagnóstico que o médico fez no início de tudo foi materializado, quando o Odair chegou aos 17 anos de idade.
Ele disputou seus primeiros torneios profissionais, furou alguns qualifyings, marcou pontos no ranking mundial da ATP. Era a fase da carreira onde ele precisava de uma agilidade de raciocínio muito apurada, reflexo e leitura dos golpes dos adversários bem aguçados... Isso, lamentavelmente, o Odair não conseguiu desenvolver.
Como percebi que para o tênis profissional ele não teria futuro, comecei a prepará-lo para ser um cidadão saudável e poder viver de toda aquela experiência que viveu dentro das quadras. O Odair é casado, tem um filho, vive em sua casa própria e é braço direito do Ricardo Leite, que trabalhou
comigo por dez anos e para meu orgulho coordena já há muitos anos o Departamento de Tênis do Alphaville Tênis Clube, em São Paulo, um dos principais do país.

É por isso que eu digo que o tênis é muito mais que um jogo.
Um menino de periferia, sem recursos, conseguiu, através do esporte, se transformar num cidadão respeitado, pai de família exemplar e bem sucedido profissionalmente. Ele teve a oportunidade de bater bola com alguns dos melhores tenistas do mundo, como Bjorn Borg e Arthur Ashe, entre tantos outros. Em sua experiência com o Borg, no ginásio do Ibirapuera, o Odair foi matéria especial do Jornal Nacional, da Rede Globo. Imagine o orgulho para ele e toda a sua família?


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Marcelo Meyer

Acompanhe aqui a reprodução de capítulo por capítulo do livro "Tênis - muito mais que um jogo" de Marcelo Meyer

Marcelo Meyer é um dos mais importantes técnicos do país, tanto na formação de jogadores como no plano profissional. Treinou, entre outros, Marcelo Saliola, Fernando Meligeni, Andrea Vieira

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