09/09/2005
O tênis brasileiro criou um calendário caça-níquel de torneios que é
maior e mais intenso que o da ATP. São inúmeros torneios durante uma
temporada.
As minhas perguntas são as seguintes: Como é que, com tantos compromissos
dentro das quadras, um garoto ainda consegue tempo para ir à
escola? Em que horário ele terá a oportunidade de aprender uma outra língua?
Quando é que ele poderá treinar? Como é que poderá fazer um condicionamento
físico? De onde o pai vai tirar tanto dinheiro para que ele possa
participar de todos os torneios?
Os mais afortunados participam de todas as provas, acabam, mesmo
sem ter nenhuma qualidade técnica, conseguindo boa posição no ranking
nacional e, conseqüentemente, são convocados para eventos mais importantes. O resultado de tudo isso é que, quando completa 17 anos, o garoto
percebe que o saque é ruim, a direita é deficiente, a esquerda precisa de
potência e ele ainda não aprendeu a volear. Ele já está cansado de viajar e o
pai está atolado em dívida, porque bancou a carreira infanto-juvenil e não
recebeu nenhum centavo de retorno.
Como desenvolver o tênis brasileiro, se o nosso processo é errado?
Qual a diferença do tênis argentino em relação ao brasileiro? Vai dizer que
lá tem mais quadras, que os técnicos são melhores, que as bolas são mais
redondas, que a raquete de lá é melhor do que a daqui... Não, nada disso.
O que acontece é que lá o garoto com 17, 18 anos está preparado para
viajar sozinho. Ele põe a mochila nas costas e dorme em banco de estação
de trem para economizar uma noitada de hotel. E ele só volta ao seu país
no dia em que ele conseguiu alguma premiação. Isso quando não resolve
aproveitar aquele dinheiro para dar uma esticada ainda maior.
Em nível de desenvolvimento tenístico, nós, brasileiros, estamos andando
um caminho na contramão.
Devido ao processo equivocado, o Brasil já perdeu vários jogadores que
poderiam brilhar. Cansei de ver garotos com potencial e qualidade parar no
meio do caminho por nunca conseguir uma convocação importante, por falta
de oportunidades.