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Resiliência - Cirulink indica o caminho da superação Esta semana, Boris Cirulnik, neuropsiquiatra e etólogo francês, cujo tema Resiliência tem pautado toda sua obra, esteve no Brasil e proferiu palestra sobre o assunto na Casa do Saber em São Paulo, e tivemos o privilégio de ouvi-lo

27/08/2009



Esta semana, Boris Cirulnik, neuropsiquiatra e etólogo francês, cujo tema Resiliência tem pautado toda sua obra, esteve no Brasil e proferiu palestra sobre o assunto na Casa do Saber em São Paulo, e tivemos o privilégio de ouvi-lo. Muito nos esclareceu e acrescentou ao esboço de idéias que rascunhamos nesta coluna dias atrás, onde, em linhas gerais, definimos resiliência como o potencial humano de não apenas recuperar-se de um trauma ou adversidade, mas de aprender com isso, superar a dor e reconstruir-se, mais apto e fortalecido para a vida. No rastro dessa reflexão, gostaríamos de trazer um pouco do que nos ensina o mestre.

O primeiro aspecto que o Prof. Cirulnik enfatiza é a fala, o uso da palavra falada como expressão primordial e inerente ao ser humano. Falar presume a existência de um outro que nos ouça, a quem elaboramos um relato que dê significado à nossa experiência e existência, com quem estabelecemos uma relação afetiva, de acolhimento. Quando sofremos um trauma ou uma significativa perda afetiva, a fala é quase sempre prejudicada, não no sentido fonético, mas na sua expressão. O trauma representa uma morte psíquica, sobre a qual, por muito tempo, as pessoas negam-se a falar, tal a dificuldade de expressa-la. Recobrar o discurso seria o primeiro passo para a superação da dor. E para se falar, é preciso alguém que escute, que ajude a trazer à tona, a transformar o sofrimento em experiência. Resiliência, nesse contexto, seria o momento em que o trauma passa a ser traduzido em palavras, em que encontro em alguém afeto suficiente para permitir a vazão da dor.

Um segundo aspecto apontado é a questão da vergonha, muitas vezes derivada da humilhação. Aquele que se sente envergonhado diante do olhar do outro, geralmente é calado, esconde-se, prefere não ser visto ou reconhecido. Esconde-se de si e do mundo e evita ao máximo o uso da palavra. Cirulnik chama essa condição de antirresiliência, que pode ser tão grave quanto à privação afetiva. A vergonha impede o indivíduo de experienciar, de relatar sua vivência e falar sobre seus constrangimentos. A falta do uso da palavra em qualquer caso, inibe atividades cerebrais importantes, especialmente ligadas à memória, bem como o desenvolvimento afetivo. É bastante comum o baixo rendimento escolar entre pessoas envergonhadas. Talvez seja uma forma de não lembrar da própria história. No entanto, quando se encontra alguém que acolha suas limitações e o falar é possível, o desenvolvimento retoma sua marcha, tanto o afetivo, quanto o neurológico. Assim se dá a resiliência.

Dois momentos ainda são apontados como especiais desencadeadores da resposta resiliente: o primeiro amor e a psicoterapia. São verdadeiras revoluções em nossos afetos e grandes alavancas para a releitura das nossas dores e também desejos mais encobertos.

Tanto a se falar e cogitar sobre essa instigante leitura das oportunidades que a vida nos oferece de dar a volta por cima - precisaríamos de muitas e muitas colunas, sem esgotar o assunto! Mas uma conclusão, a priori, podemos arriscar sem medo de errar: a presença ou ausência do outro, do vínculo afetivo em nossa história, certamente é causa e conseqüência do quanto podemos e queremos fazer pelo nosso destino.


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Maluh Duprat

Maluh Duprat é psicóloga clínica, orientadora vocacional e membro do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI), da PUC/SP.

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