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Divã na Internet

Invasão de Privacidade Uma questão cada vez mais freqüente com a qual os consultórios de psicologia têm se deparado nesta era digital, que tantas mudanças provocam no relacionamento humano, é a imensa curiosidade despertada pelo uso que é feito da Internet pelos parceiros, pais aflitos e surpresos, filhos, amigos, colegas de trabalho ou outras pessoas das relações de clientes intrigados

04/06/2007



Uma questão cada vez mais freqüente com a qual os consultórios de psicologia têm se deparado nesta era digital, que tantas mudanças provocam no relacionamento humano, é a imensa curiosidade despertada pelo uso que é feito da Internet pelos parceiros, pais aflitos e surpresos, filhos, amigos, colegas de trabalho ou outras pessoas das relações de clientes intrigados. São inúmeras as queixas recebidas decorrentes de descobertas efetuadas em minuciosas pesquisas em caixas postais alheias, e-mails, arquivos, chats, MSNs, Orkuts, blogs, fotologs e por aí afora. Se num primeiro momento, os parceiros figuram como maiores vítimas dessa prática um tanto invasiva, já numa segunda leitura, observamos que quem mais sofre com as descobertas, é o “detetive”.

Seria injusto atribuir exclusivamente ao computador a responsabilidade pelos segredos que oculta em sua alma (!). O buraco da fechadura, bem mais antigo que esse instrumento tão revelador, talvez seja um dos símbolos mais remotos dessa prática (quem nunca olhou num, que atire a primeira pedra). Na infância, uma porta fechada, além de extremamente ofensiva, pois que excludente, desperta na criança as fantasias mais insólitas, principalmente se quem se encontra do outro lado, são os pais, objeto de todo seu afeto. Talvez o fato de estar bem à altura de seus olhos, seja um convite irresistível ao olhar curioso (furioso?) do excluído . Ele olha, não entende o que vê, não gosta do que vê, sente-se traído e não sabe o que fazer com isso, o que em nada difere do nosso pesquisador virtual (aqui estamos falando em internet, mas a prática estende-se a celulares, bolsos, bolsas, carteiras, diários, extratos de contas etc etc.). Não é difícil perceber que a atitude de olhar o que não deve ser visto permanece ao longo da vida, sofisticando-se com o passar do tempo. Não só a atitude, mas também seu efeito.

O que mais perturba aquele que olha o que quer e vê o que não quer, é a mesma sensação de exclusão vivida na infância. É o sentimento de traição, de saber não ser o único objeto de desejo de seu amado. De descobrir que ele é capaz de fazer, falar e sentir coisas que, ou sequer suspeitava, ou que julgava serem exclusivas de sua relação com o parceiro. O que leva alguém a suspeitar dessa possibilidade de encontrar “surpresas”, muitas vezes é sentir-se capaz de fazer o mesmo, de ter curiosidades ou tentações da mesma natureza, ou ainda, saber que boa parte de si não é compartilhada com o parceiro ou talvez com ninguém, e o mesmo deve acontecer com ele. O amor, a paixão, carecem (inevitavelmente) da crença da exclusividade, de ter o outro integralmente para si. Padecemos todos desse mal. Quando constatamos por algum meio, como esse que estamos usando de exemplo, que o outro (assim como nós) tem um lado que não nos pertence, faces que não conhecemos e alcançamos, aspectos que, por mais que nos esforcemos, não podemos satisfazer, a dor é tão inevitável como a expectativa da nossa onipotência. Às vezes, nem é preciso que haja outro alguém na vida de quem se ama; basta saber de facetas insuspeitas da sua personalidade para surgir o sentimento de traição e exclusão.

Cabe colocar também os casos em que não se evidencia a menor preocupação em se esconder nada, pelo contrário; às vezes as senhas são do conhecimento do outro, os arquivos são acessíveis, muitas coisas estão registradas em blogs, enfim, se não devem, pelo menos podem ser acessadas sem dificuldade. Esta pode ser, inclusive, uma forma virtual de se comunicar, de se revelar ou de pedir ajuda, quando o canal de comunicação “real” está comprometido ou há algum constrangimento em se falar abertamente sobre determinados assuntos. Assim, a internet pode ser uma opção criativa de se trocar uma idéia, de escrever sobre esses temas mais delicados, já que falar nem sempre é fácil. É também uma forma de se investir numa intimidade maior, até que o falar presencial se torne mais confortável.

Seria recomendável, já que intimidades já foram violadas, aproveitar a oportunidade para se conversar com aquele que foi objeto da “pesquisa”, não no sentido de cobrar, mas de tentar entender, de procurar conhecer melhor aquele com quem se convive, partilhando as fantasias dele e as suas. Quando se invade a privacidade de alguém, de certa forma o direito de cobrança fica comprometido pela atitude invasiva. Assim, para haver um diálogo, antes é preciso admitir o gesto discutível. Outra coisa importante é observar suas próprias sombras, seu lado obscuro e incompartilhavél, o que pode facilitar a compreensão e indulgência ao outro. “A verdade não pode ser dita toda”, nos ensina Lacan.

O que essas experiências nos mostram de mais significativo, a par de todos os sentimentos que podem desgastar ou restaurar relações, é que ninguém pertence integralmente a ninguém, que sempre teremos facetas que não podemos, ou não desejamos, ou não devemos compartilhar, um lado que não é visto, assim como a lua, que mesmo quando cheia, mantém oculta a outra metade de si. Que conservamos necessariamente um lado que é só nosso, para que, em caso de perda do outro, possamos sobreviver e recuperar nossa individualidade. Se a depositarmos integralmente no outro e o perdermos, o que restará de nós?


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Maluh Duprat

Maluh Duprat é psicóloga clínica, orientadora vocacional e membro do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI), da PUC/SP.

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