01/10/2021
A divulgação e consolidação do ESG ou ASG nas empresas, acrônimo que, para quem está lendo pela primeira vez, significa em inglês Ambiental, Social e Governança, está cada dia mais presente e sendo debatido em diversas plataformas: podcasts, televisão, blogs, sites, rádio etc. Os investidores impulsionaram a temática no meio da pandemia por entender que as empresas precisam entregar valor para eles e, também, para a sociedade, por meio de um desenvolvimento sustentável que leve em consideração as questões não só financeiras, mas também os pilares sociais e ambientais.
O artigo da Harvard Business de 2011, com o título Criação de Valor Compartilhado, assinado por Michael Porter e Mark Kramer, trouxe esse desafio de reinventar o capitalismo e desencadear uma onda de inovação e crescimento. Os autores apresentam esse conceito de valor compartilhado, cujo foco é a relação entre o progresso social e o econômico, e que existem três grandes saídas para as empresas criarem oportunidade de valor como: reconceber produtos e mercados, redefinir a produtividade na cadeia de valor e fomentar o desenvolvimento de clusters locais. Eles afirmam que as necessidades sociais e não só necessidades econômicas convencionais, definem o mercado, e que as mazelas sociais criam custos internos para as empresas.
Pois é, agora com a crise pandêmica, que causou também a crise econômica mundial, podemos perceber que uma década atrás estávamos discutindo essa temática. Vou além, no final dos anos 90 um grupo de empresários e executivos da iniciativa privada no Brasil criou o Instituto Ethos para fomentar e aprofundar o compromisso das empresas com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável. Tive a oportunidade de participar de uma das primeiras conferências e acompanhar, durante a minha carreira, esses visionários na questão da mudança de paradigma de gestão das empresas.
É isso que estamos vivenciando hoje, uma verdadeira disrupção do sistema empresarial. Talvez estejamos voltando aos primórdios das criações dos primeiros produtos e serviços na história da administração, ou seja, repensando em criar em cima das necessidades reais das pessoas, mais do que isso, nas urgências da humanidade. A pandemia mostrou exatamente isso com a corrida das vacinas, empresas de bebidas e remédios fazendo álcool em gel, fábricas de roupas fazendo máscaras, enfim, itens de primeiras necessidades para a proteção de todos e todas. Decerto, seja esse “reconceber” produtos e mercados que Porter e Kramer comentam no seu artigo.
Em 2003, Stuart Hart e Mark Milstein, fizeram um artigo com o título Criando Valor Sustentável, mostrando que naquela época (e talvez ainda nesta) grande parte dos executivos ainda considera o desenvolvimento sustentável uma espécie de mal necessário, uma vez que envolve regulações, custos e responsabilidades onerosas. No artigo é apresentado um modelo com uma estrutura de criação de valor para os acionistas, que insere os desafios globais do desenvolvimento sustentável. Além disso, reafirma que a sustentabilidade não é incompatível com o crescimento econômico, mas que, sim, pode ser uma fundamental fonte de vantagem competitiva e de geração de valor para acionistas e sociedade em geral.
Pois é, muitos visionários já vinham sentindo esse movimento e apresentando as novas tendências do mercado. Voltando para os dias atuais, ainda sobre tendências, e colocando o acrônimo ESG no Google Trends (plataforma on-line que mostra a tendência de buscas por certos termos) mostra que a busca pelo conceito ESG vem aumentando nesses últimos meses, a partir de junho e julho de 2020, e também que pesquisas relacionadas como: o que significa ESG, Agenda ESG, ESG o que é, ESG significado etc., estão em ascensão. Nas buscas ainda como assuntos relacionados estão as ações, o compliance, o relatório, a governança corporativa e a bolsa de valores.
Saindo das teorias e indo para a prática, a geração de valor por meio do ESG tem alguns bons incentivos: linhas de financiamentos especiais como a recém-lançada pelo BNDES, que conta com recursos da ordem de 1 bilhão de reais. Dentre as suas principais premissas deste recurso está o incentivo à mudança para uma economia de baixo carbono, e o fortalecimento de cadeias de fornecedores mais sustentáveis nas regiões menos desenvolvidas do País.
Algumas grandes empresas estão buscando ampliar o gerenciamento desse valor, como a Ypê, empresa de várias categorias no segmento de limpeza no Brasil, que ampliou o seu departamento de sustentabilidade e criou uma área específica que fará a gestão de impacto em ESG.
Outro exemplo, ligado ao envolvimento da liderança nesta geração de valor compartilhado, é o Assaí Atacadista, que colocou uma meta de redução de 30% nas emissões de carbono na sua operação até 2025, e atrelou à remuneração variável da média e alta liderança, incluindo o CEO, e todos os diretores nas suas 186 unidades espalhadas nas cinco regiões do Brasil.
Temos muitos e muitos casos de empresas que estão inserindo as temáticas do ESG no seu dia a dia, na sua operação, na sua estratégia e nos seus objetivos. Precisamos acelerar este movimento cada vez mais, pois depois dessas crises, existem muitas pessoas e locais que estão precisando ter a geração dos valores econômico, social e ambiental o mais rápido possível!