12/06/2008
Morro de curiosidade mas não desfaço a vontade de saber por que as pessoas insistem em tentar ser cada vez mais eruditas, cada vez mais difíceis, cada vez mais inacessíveis.
Numa carta intitulada “Depoimento sobre a poesia”, Paulo Leminski – poeta curitibano dos anos 70/80 diz:
Tenho um horror pop a qualquer palavra que obrigue o leitor normal a ir ao dicionário. O resultado deve ser raro, os ingredientes têm de ser simples. Tem um difícil que é fácil. E um fácil que é muito difícil. Prefiro esse. Contra os aparatos persas, diria Horácio.
O que Leminski queria dizer é que a poesia está a serviço do povo, e para isso deve estar mais perto do povo. Essa ostentação erudita também me enche o saco!
Na música
Na literatura
Na sociologia
Na vida!
Esse blá blá blá que não quer dizer nada, cheio de palavras difíceis, de metáforas que nem mesmo a própria metáfora sabe o que quer dizer aquela metáfora. De palavras que o dicionário nunca ouviu falar. Isso me cansa os ouvidos.
Então, faço o que posso...
Uma música acessível, em que as pessoas ouçam e digam: “gostei”.
Uma literatura simples, em que faça rir e sorrir.
Uma sociologia mais direta, mais perto da sociedade
MAS ISSO É DIFÍCIL!
Fazer ciência está BEM longe de fazer poesia. A ciência ainda não acreditou que o povo pode entender o que ela tá falando. A ciência não se leva a sério, não sabe o poder imenso que ela tem...
A ciência não percebeu que ela é maior que a publicidade, que o direito, que o investimento econômico. Porque, quando a ciência perceber, vai usar a publicidade para falar dela, vai usar o direito para defendê-la, vai usar os investidores para colocar mais água nesse caldo.
Mas não. Nós – cientistas e sociedade, insistimos em deixar ela bem longe, lá dentro da academia. E aí, quem sobra pra população?
A publicidade banal – e toda sua indústria do consumo descartável,
O direito ilegal – e suas penas incumpríveis,
O investimento desproporcional – e o desmatamento irracional.
E a poesia fica bem do lado, rindo de tudo que vê, pois só ela está salva de tudo isso. Só a poesia sobrevive a tanta loucura.
Por isso proponho que tente ser mais acessível. Mas sem banalizar a língua! Use menos imperativos, deixe o sujeito mais livre, coloque o predicado onde quiser... Converse com o ponto final, faça ele virar vírgula. Não faça apenas poemas, faça poesia.
O dia todo.
Só a poesia é quem vê,
Só a poesia vê o que é.