19/01/2006
Futebol sempre foi minha prioridade, pelo menos até a 7º do ensino fundamental. Gostar de uma menina não, mas isso é o tipo de coisa que não se escolhe. Acontece assim, de repente. São os raros momentos em que o futebol do recreio podia esperar. Nada sério. Na verdade eu sabia que gostava, só não tinha a consciência, e até hoje não tenho, de como e porque gostava e muito menos como gostar. Que o coração batia forte é clichê dizer. Que minha mão suava não é nenhuma novidade. Eu gostava e ponto. Era uma coisa de dentro para dentro. Minha e de mim mesmo. Nada que me tirasse o sono, pelo contrário. A inocência das mãos dadas nos meus sonhos mais sonhos bastava para mim. E foi assim que eu aprendi a gostar de alguém. Não via o por quê de a pessoa saber se nem eu sabia. Pobre de mim, administrando um sentimento que mais tarde eu iria descobrir que chamamos de amor. Doce ilusão achar que a razão venceria.
Gostar de alguém sempre foi fácil para mim que nunca tinha sido gostado. Nunca até a mesma 7º série do ensino fundamental em que o futebol era o que me movia. Não preciso dizer que o meu sistema administrativo entrou em pane. Recesso indefinido. Meus conceitos precisavam ser revistos. Alguém gostava de mim e tecnicamente eu não gostava desse alguém. Tecnicamente é uma palavra que usamos para as coisas prováveis da vida. Mas desde de quando a vida é provável? Enfim, tecnicamente eu levei mais de 6 meses para saber que era recíproco de minha parte. Sim! Eu gostava de alguém que gostava de mim. Que coisa mais complicada e simples. Por mim, eu seguiria gostando dela e ela de mim para o resto da vida. Nada precisava ser feito. Era cômodo e gostoso sentir aqui dentro explodindo e enxugar minhas mãos na minha calça sempre que uma suposta aproximação se tornava eminente.
Mas por mais que nos gostássemos o silêncio não iria salvar a nossa “relação”. Por isso algumas palavras foram ditas. Horas inteiras conversando sobre a curta vida que havia nos precedido até aquele momento mágico esperando por uma magia. A mão dada era realidade, mas, ao contrário dos sonhos, não bastava. Faltava algo de surreal entre nós dois. Algo que os filmes insistiam em mostrar mas teimavam em não ensinar...
Até que um dia, no final daquela 7º série do ensino fundamental em que o nunca perdeu o trono, uma viagem para Juanópolis, a cidade da lua cheia, começou a figurar como cenário principal para a cena de minha vida. Cobertor nas costas, fogueira acessa, final de noite. O píer era pequeno, mas acomodava todo mundo. Se eu dizendo que quando o coração batia forte era clichê, imagine agora com esse céu estrelado, essa lua prateada refletindo na represa e eu e ela dividindo a mesma coberta inconscientemente. Fogos de artifício do outro lado da margem completavam o alvoroço causado na minha razão. Dois corpos se aproximavam e a respiração que eu sentia já não era só minha. Como em um quebra-cabeça, os rostos se procuraram. Pela primeira vez eu fechava os olhos em câmera lenta e não era para dormir. Algo naquele momento fazia mais sentido e não tinha explicação nenhuma... Bom, o resto da história o titulo lá em cima se encarrega de contar.