28/09/2010
Por Risomar Fasanaro
Pois é... O MINC - Ministério da Cultura - abriu uma enquete para que o público indicasse que filme gostaria que representasse o Brasil no Oscar, e a participação popular foi intensa, apaixonada, talvez tão apaixonada quanto a que seria a de torcedores de futebol pelo seu time em dia de campeonato.
Percebia-se que havia verdadeiras torcidas por alguns filmes e eu visitei o site durante o período de votação todos os dias; acompanhei a votação passo a passo, pois eu também estava torcendo por um filme, fiz até campanha junto aos meus amigos.
Pois é... Mas nem o filme pelo qual torci tanto, nem o que a imensa maioria do público votou, foi escolhido para representar o país. O vencedor foi “Lula, o filho do Brasil” de Fábio Barreto.
Aliás, não sei, mas me parece que precisa ser da família Barreto para representar o Brasil no Oscar. Pois não é que pela terceira vez alguém da família vai colocar seus pezinhos naquele tapete vermelho, onde sonhei por vários dias que seria pisado pelo meu cineasta preferido?
Já imaginou, leitor, o Sílvio Tendler com seus sapatos Crocs (que número mesmo?) e uma de suas batas afro-baianas caminhando até aquele palco, no meio de todas aquelas mulheres lindas, daqueles homens charmosos, e eu aqui vendo tudo pela telinha, e chorando de emoção? Sim, porque fã acompanha o trabalho dos que admira, torce, vibra, e .... Chora.
Mas sonhei em vão.
Inspirada em Thaís Araújo que fez promessa pra conseguir o papel principal em uma novela da Globo e conseguiu o milagre, também fiz uma novena pra Santa Terezinha. Mas foi em vão, parece que minha santinha se vendeu. Agora só atende às atrizes globais...
Fiquei triste, decepcionada. Mais do que isso, fiquei revoltada. Nunca pensei que um filme regular, quase ruim, com um ator pouco talentoso interpretando Lula, realizado em poucas semanas, e que só tem de elogiável a atuação da Glória Pires fosse ganhar de outros ótimos filmes que havia na concorrência, entre eles “Utopia e Barbárie” muitíssimo bem feito, construído ao longo de vinte anos, que traz sonhos e catástrofes de quase todos os povos do mundo, e que portanto representaria, até bem demais, o melhor filme estrangeiro, perdesse para aquele...aquele...
O público que entrava no site, parecia acreditar que seus votos teriam força na indicação, por isso votou em massa em “Nosso Lar”, que obteve 70% dos votos, mas assim como Santa Terezinha, o espírito de André Luiz também não ajudou em nada.
Será que o problema com a camada de ozônio anda impedindo nossas preces de chegarem aos céus?
A meu ver, “Lula” enfoca de forma superficial, a vida do presidente. O dado mais importante na sua história, a fundação do PT, e nem mesmo a estrela do partido aparecem.
A atuação de Glória Pires, impecável, é o ponto alto do filme. Enfim... torço para que o júri de lá o veja com o mesmo “estrabismo” do júri daqui, mas acho difícil.
Será que dessa vez os Barreto trarão serão premiados?
Nada contra o Lula, muito pelo contrário. Minha revolta é contra a escolha desse filme que nada faz para tornar nosso cinema respeitado lá fora, pelo contrário. Parece escolhido apenas para agradar ao presidente. E Lula não precisa disso.
Pernambucana, veio para Osasco com 11 anos. Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de "Eu: primeira pessoa, singular", obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, DeonÃsio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil. |