18/01/2007
Ah (!), as mulheres, dentre todos seus feitos e feitiços, também nos fazem suspirar e utilizar, quase sempre, o clichê da interjeição “ah” acompanhada de seus nomes. Para enxergá-las é preciso uma apurada técnica de método braile e um certo grau de esquizofrenia mesclado com uma pitada de lucidez (a gosto).
Revelam-se relevos e planaltos, ameaças selvagens e indícios de civilização, não necessariamente nessa ordem. Mulheres são como estradas inteiras, ruas nuas e avenidas congestionadas; são curvas perigosas e um constante risco de desabamento. Vielas, passarelas, becos sem saída; a contra mão, a fila dupla e a ultrapassagem pela esquerda. São a insanidade e a razão em perfeita harmonia, sinfonias completas entorpecidas pelo silêncio de não haver silêncio, o ato de monologar em pleno diálogo. Mulheres são deliciosamente indecifráveis, anjos sem asas, tumores benignos. Nos põe entre vírgulas na boa gramática da vida.
São adjetivos substanciais; predicados sujeitos ao verbo e artigos indefinidos mais-que-perfeitos, a redenção da sintaxe ao monumento mulher. Obra máxima daquele que nos criou, a brisa da manhã em um composto de orvalho com uma fina seresta. O vento que nos traz, o sopro que nos leva. A pecadora original e o motivo de todos os pecados. A inspiração, a transpiração e a respiração ofegante. Mulheres são noite e dia, noite e dia, noite e dia: incontestáveis dúvidas.
Procuro nelas algo de triste, algo de real, algo que possamos chamar de algo sem parecer um profano clandestino. Mas é isso que somos: forasteiros, foras da lei e eternos peregrinos. Habitantes de Marte a caminho de Vênus com a única certeza ambígua de que as mulheres são tudo isso e muitas outras coisas. Só o que a gente nunca sabe é que coisas são essas.