11/07/2008
Me cansa escrever sobre a Granja Viana. O motivo é simples: Isso aqui não tem solução.
Mas muita gente me pede para escrever sobre o que está acontecendo. Sobre as maravilhas da Granja, sobre o Assai inaugurado, sobre a praça e a banca de jornais, sobre o poste que não foi mudado de lugar, sobre o outdoor que tem imagens em movimento.
Só que é um pouco desgastante ficar bolando mil planos teóricos que não chegam a lugar nenhum. Sempre que escrevo qualquer coisa crítica, prometo para mim mesmo que é a última. Prefiro falar sobre amor e liberdade do que uma cidade em des-progresso.
Mas dessa vez preciso. E é a última. Essa semana inauguraram um atacadista de renome na estrada do Capuava. Muita gente reclamando da falta de planejamento, do impacto de vizinhança, do fetichismo a mercadoria, de qualquer coisa coisa que o valha.
Sim, é uma grande bobagem, não traz benefícios sociais-educativos-culturais nenhum pra população, poderia ser num lugar mais afastado, poderia ter estacionamento maior, bla bla bla. Poderia um monte de todas essas coisas que estamos cansados de saber.
Só que o culpado não é o atacadista. Somos nós, é óbvio. Esse papo de sermos politicamente corretos está acabando com a Granja, esse papo de responsabilidade social está acabando com a gente.
Um condomínio com fiação subterrânea é tão prejudicial quanto um atacadista sem estacionamento. Acreditar que fiação subterrânea, célula de segurança blindada, monitoramento 24h vai trazer qualquer coisa de bom para uma sociedade é pura hipocrisia. Da guarita pra fora, continua tudo a mesma coisa. A segurança está trancada dentro de um condomínio de alto padrão e continua lá.
Colocar faixa culpando a Eletropaulo pela não-transposição de um poste é uma falta de vergonha na cara gigantesca. A Eletropaulo faz a instalação de postes segundo um planejamento, e se há um crescimento exponencial desordenado, a culpa não é dela, somos de todos nós, que continuamos, ridiculamente, a acreditar que “o verde é a maior maravilha da granja”.
Não há maravilhas. Mil árvores caindo por dia não é maravilha. As que sobram só tem um destino, e esse papo careta e covarde não vai nos levar a lugar algum.
Enquanto isso ainda temos coragem de criticar um projeto de revitalização de espaço público, indagando questões insaciáveis, falando sobre aproveitamento de patrimônio público, de que vão ganhar dinheiro. Oras, quem é que fica rico com uma revistaria? Um condomínio de luxo dá muito mais dinheiro e destrói muito mais do que uma banca numa praça.
Chega de achar que aqui tudo é diferente, pois não é. Chega de achar que somos abençoados por Deus, por que não somos – e se Deus existe, ele tá puto da vida com a gente. Chega de acreditar que o panfleto na lombada é culpa dos empreendedores, pois não é. Chega de ser politicamente correto, pois não somos.