23/07/2008
Quando, em um encontro, o tema é o diálogo, sempre acaba aparecendo a pergunta: mas o diálogo funciona mesmo?
Se você está conversando com uma pessoa de “cabeça aberta”, que não funciona só na “mente pequena”, não há dificuldade em entrar no diálogo. Mas há algumas situações em que pode ser mais difícil entrar em uma conversa em que é possível “compartilhar significados”, que é o significado etimológico da palavra diálogo.
Uma delas é quando você tem pela frente alguém cujos sentimentos mais difíceis estão sendo tocados pelo tema da conversa. Nesse momento é preciso percepção e delicadeza para poder abordar o assunto de maneira a não disparar as molas internas do outro, não fazer soar os alarmes de perigo dentro dele — ou desligá-los, através de uma atitude de acolhimento. Outra é quando você conversa com uma pessoa cheia de certezas, que se sente a própria dona da verdade... Jung dizia que ao observarmos uma característica que se sobressai em alguém, sempre é preciso perguntar: isso é o que parece ou é exatamente o contrário? Pessoas cheias de verdades prontas quase sempre ocultam através dessa exibição de potência uma grande insegurança. Assim, dialogar com alguém que procura desesperadamente provar que está certo, que não pode estar errado, necessita de um pouco mais de habilidade, e bastante paciência.
O físico David Bohm, que criou uma das metodologias modernas do diálogo, dizia: “se uma opinião é válida, por que defendê-la emocionalmente? e se não é, por que deveríamos defendê-la?”
O mundo não seria muito mais fácil se as pessoas agissem dessa maneira? É exatamente o contrário que ocorre no dia a dia. Quanto mais inseguros nos sentimos, mais buscamos defender nossas opiniões de maneira mais contundente... é tudo uma questão de buscar segurança. Nada assusta mais do que aquilo que se esconde no escuro, aquilo que ainda não conhecemos. Para dialogar com alguém, é preciso correr o risco de entrar em uma região desconhecida de nós mesmos. Abrir mão da verdade a priori com que queremos que nossas opiniões sejam vistas, para examinar onde nos baseamos realmente para pensar como pensamos. Quem sabe o que pode acontecer nessas regiões desconhecidas? Há aquele lengalenga que não leva a nada, mas há conversas que podem mudar toda uma vida.
Mas quando se estabelece, que o diálogo funciona, funciona!