17/08/2020
Mudanças que a
COVID-19 trouxe para o seu cotidiano
por Viviane Horesh
A pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID 19) tem
trazido mudanças na vida cotidiana das crianças. Embora a taxa de mortalidade e
infectados nesta faixa etária seja muito menor, elas estão suscetíveis às
repercussões psicossociais da pandemia.
Observa-se maior vulnerabilidade do contágio em função das
desigualdades sociais, crianças com deficiências, refugiadas e indígenas.
Entre as medidas adotadas pela Organização Mundial de Saúde, está o distanciamento social e a consequente dificuldade em lidar com diversos
aspectos da criança em casa. Afastadas da escola, do convívio com outras
crianças, do espaço lúdico da própria escola, parques e de outros locais de
sociabilização, acabam ficando com toda a energia represada e os pais,
perdidos, sem saber como lidar. Além disso, muitas vezes são afetadas pelas
dificuldades financeiras enfrentadas pelas famílias e adoecimento ou morte de
pessoas próximas, levando, certamente, a um aumento dos níveis de estresse e
ansiedade.
Nesse cenário vemos de um lado aspectos positivos, como o
fato de poderem estar mais próximos e em contato com os pais, reforçando
vínculos, além de ficar menos cansadas em razão da redução de atividades, de
estímulos e de saídas no trânsito, por exemplo. Mas, é inegável que muitos pais
e mães se sentem sobrecarregados por precisar conciliar seu próprio trabalho,
muitas vezes desenvolvido remotamente, com as tarefas domésticas. Em casa, cabe
ainda aos pais auxiliar os filhos na organização das aulas à distância e nos
cuidados com a higiene e lazer deles, além da ansiedade causada pelo temor da
infecção pelo vírus atingi-los ou à sua família. Toda essa tensão e estresse é
absorvida pelas crianças, refletindo negativamente em seu comportamento, já que
não conseguem, como o adulto, processar e expressar seus sentimentos, até por
uma questão de desenvolvimento cognitivo. O sofrimento psíquico pode ser
percebido por alteração no padrão de sono e alimentação, dificuldade de
concentração, agitação, tristeza, isolamento. Já não brinca mais da mesma
maneira que brincava antes e pode apresentar quadros de enurese e encoprese (quando
a criança volta a urinar ou defecar involuntariamente na calça ou na cama).
De certa forma, algumas alterações são esperadas frente às adversidades
do atual cenário. Por isso, é necessário cuidado para não encarar sempre como
patologia qualquer dessas alterações, mas jamais negligenciá-las. Estar sempre
atento deve ser a regra para os pais.
Como ocorre com os adultos, para as crianças é necessário se
readaptar à nova rotina, mantendo-a próxima da habitual, com horários para
acordar, fazer as refeições, dormir e outras atividades, além de permitir
espaços de expressão, como desenhos, contação de histórias, teatro, jogos,
brincadeiras. Os pais podem (e devem) sentar no chão e brincar junto,
ajudando-os a simbolizar seus sentimentos e traduzir suas emoções. O uso de
recursos eletrônicos (com supervisão) também tem sido importante, para que
possam ter contato com pessoas próximas e queridas que não estão podendo ver. Mesmo
as aulas à distância assumem maior importância pelo contato com os colegas e
professores do que pelo aprendizado em si.
É fundamental o diálogo com os filhos para que eles compreendam que há momentos difíceis que envolvem sofrimento, mas que podemos enfrentá-los. Conversar com a criança sobre a epidemia, sobre as medidas de cuidado e proteção e até falar sobre a perda de familiares, quando ocorrer. Permitindo e validando a preocupação, a tristeza, o medo da morte e as emoções das crianças. Para auxiliar essa comunicação há materiais que sintetizam, de forma lúdica, informações sobre o Coronavírus: “Série Pequenos Cientistas” e a Cartilha do Ministério da Saúde, “Coronavírus: vamos nos proteger”.
Referência Bibliográfica
Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19- FIOCRUZ- Fundação Osvaldo Cruz
Viviane Horesh (vivihoresh@uol.com.br) é psicóloga pela USP, com
formação em Psicologia Junguiana e Gestão em Saúde Pública. Tem larga
experiência no atendimento clínico e na rede pública.