01/12/2005
Aniversário caseiro, feijoada vegetariana, apartamento pequeno e os 30 amigos mais próximos. Sem contar, é claro, os parentes. Gente saindo pela culatra, cadeiras espalhadas pro todos os cômodos. Faixa etária miscelânea, bengalas e engatinhos. A grande ‘família’ reunida mais uma vez...
Eu já fui criança e juro que entendo essa tal de pilha que não acaba nunca, mas que vocação para capeta dos infernos! Oxalá, pai de santo, nem reza brava ajuda! Tentei de tudo, psicologia reversa, pouco caso, falar com cara de mau e até mesmo ser mais criança ainda. Sem acordo. O negócio foi se render e deixar o meu quarto ao Deus dará. Querem brincar de atacar todas minhas canetas no chão? Ótimo, arremessem! Querem ver o estrago que uma bolinha de tênis saltitante pode fazer? Eu vou junto! E por que não uma guerra com todos os meus livros didáticos? Sempre tive vontade também... Fechei os olhos e sem misericórdia ao meu adorado ‘cafofo’ iluminei meu espírito no quesito desapego. Afinal de contas, Super Bonder é para essas coisas mesmo.
Mas não foi só a ala infanto-juvenil que se rebelou nesse cardume comemorativo. Adultos adoram sentar e se lembrar daquilo que já esqueceram. Entre o almoço e a sobremesa lavaram roupa suja na sala, festival de indiretas diretamente do túnel da vida. Cheguei a flagrar o confronto de três gerações de mulheres. A mais anciã, em um semblante abismado, pergunta para a neta: ” –mas você ainda usa calcinha, né? Porque essa mulherada, vou te contar...”. Penso comigo mesmo : “Aonde? Aonde? Aonde jaz tal paraíso?”. Tenho a teoria de que esses programas que florescem na programação da tarde na televisão brasileira deturpam a imagem da juventude.
Enfim, os encontros e reencontros proporcionados são impagáveis. Colegas de infância, antigos namorados, amigos de escola. Gente que nunca se viu e nem se verá novamente. Que, entre uma garfada e outra, se julgaram pelas capas. Um dia eu descubro o que leva as pessoas a contarem sempre as mesmas piadas. E, por incrível que pareça, a graça prevalece. Converso um pouco com um, repito o disco mais um monte de vezes. Podem me chamar de anti-social, mas em reuniões assim eu gosto de ficar em silêncio, só ouvindo. Observando os passos alheios, a inocência das crianças, as barreiras impostas pelas pessoas e a imaginação frenética de alguém que se esforça para levantar dois dedinhos da mão demonstrando a idade.
Festas familiares são o sinal de que o tempo anda passando pela gente e deixando seus recados e marcas. O sorriso da minha mãe continua o mesmo. Colossal, puro e sem probabilidades de chuva. 45 anos nas costas e quase meio século de vida. Sobrevivente de mais uma festa em casa de muitas outras que virão.
E que venham, no melhor estilo espanhol! Mais 45 sorrisos os aguardam...