09/09/2005
Colaboração - Maria Rosa de Paula Henrique
Tive o prazer de conhecer recentemente Maria Luiza Kfouri e o belíssimo trabalho que ela vem desenvolvendo em seu site www.discosdobrasil.com.br. Tornei-me, então, admirador de sua pessoa e de seu trabalho.
Nascida em São Paulo, quatro anos antes da Bossa Nova, Maria Luiza é jornalista e musicóloga. Foi coordenadora musical da Rádio Gazeta FM (SP) em 1988 (Prêmio APCA) e diretora da Rádio Cultura AM de São Paulo de 1989 a 1995 (mais detalhes sobre a trajetória profissional no site discosdobrasil).
Maria Luiza não é apenas uma pessoa generosa e delicada. É maravilhosa e uma anfitriã que surpreende (em off: a festa de lançamento do site foi num espaço muito interessante, com show, músicos, cerveja bem gelada... tudo na medida do bom gosto para proporcionar bons momentos aos convidados. Encontrei lá alguns ícones da música como, o “Tio” Laércio de Freitas, Roberto Sion e Luis Roberto Oliveira).
Ao lançar o www.discosdobrasil.com.br, Maria Luiza deu à cultura brasileira uma contribuição excepcional. Não se trata de um site para os profissionais da música ou das artes; trata-se de um “web address” obrigatório para todos os brasileiros.
1- Você é musicóloga? O que exatamente quer dizer isso? Como você navegou do jornalismo para a música?
Sou musicóloga exatamente no sentido de ser uma estudiosa da música. No meu caso, da música brasileira. Não cheguei a “navegar” do jornalismo para a música. Na verdade, nunca atuei como jornalista, na medida em que nunca trabalhei em jornal ou revista. Saí da faculdade e fui direto para o rádio. Minha grande ligação com a música é que foi determinando meus caminhos profissionais.
2- O que a inspirou ou motivou a criar o site DiscosdoBrasil? Qual a proposta do site?
Em 1996, resolvi catalogar no computador a minha discoteca particular, porque, àquela altura, já tinha muita dificuldade para saber em qual disco estava determinada música, o que me fazia perder muito tempo sempre que ia escrever ou produzir um programa de rádio. Tempos depois, mostrando a catalogação a um amigo, ele me fez ver que o trabalho ultrapassava o limite pessoal e que eu tinha a obrigação de “abri-lo” ao público, já que ele contém as discografias completas dos grandes nomes da música brasileira, principalmente dos surgidos a partir dos anos 60. Então, aquele trabalho que eu estava fazendo só pra mim acabou se tornando o site e a “culpa” é desse amigo, o Vilmar Bittencourt, que é produtor e diretor de programas da Rádio Cultura AM de São Paulo.
3- Percebe-se um carinho e atenção muito especiais aos músicos e a toda a ficha técnica de um disco, e não só ao artista “dono” do disco. Por que o site tem essa intenção tão minuciosa?
Essa atitude não faz parte da cultura jornalística brasileira. Estamos cansados de ler entrevistas de página inteira com artistas consagrados para a divulgação de shows ou discos e nunca sabemos quem são os músicos que os acompanham.
Bem, eu acordei para a música aos 11 anos de idade, quando ouvi a Elis Regina pela primeira vez. E, a partir dela, passei a prestar atenção a tudo o que vinha junto e, também, ao que havia acontecido antes. Elis era uma pessoa que valorizava muito os músicos que a acompanhavam e sempre os apresentava e lhes dava os devidos créditos em seus discos. Portanto, também foi com ela que eu aprendi que aquele carinha que fica atrás da grande estrela é de importância fundamental para o sucesso dela. Além disso, sempre fui amante entusiasta da música instrumental brasileira. Então, ao resolver fazer essa catalogação, decidi que ela tinha de ser a mais completa possível e que deveria ter como diferencial o fato de apresentar, além dos discos, um imenso banco de dados de instrumentistas.
Quanto à cultura jornalística brasileira a que você se refere, faço questão absoluta de não ter nada a ver com ela e, embora já tenha sido exaustivamente convidada, tenho o orgulho de dizer que NUNCA escrevi uma crítica musical.
4- Quem foram seus parceiros e qual o papel deles nesta história? O “DiscosdoBrasil” tem patrocinadores? Como é subsidiado?
Desde 1996, quando comecei a catalogação, tive a constante assessoria de um especialista em software ― o nome dele é Ludgero Galvinas ― que foi modificando o programa original (o Access) para que ele apresentasse as respostas que eu queria. Então, eu dizia para ele, por exemplo, que queria que a obra de um determinado compositor pudesse ser acessada de diversas maneiras: pelas músicas que ele compôs sem parceiros, pelas músicas que ele compôs em parceria e também de forma total (com as feitas sozinho e com parceiros). O Ludgero, então, entrava nas “entranhas” do programa e viabilizava a consulta e as respostas da forma como eu havia imaginado. Eu costumo brincar que ele é a única pessoa da minha vida que nunca me disse um “não”. Foi ele quem criou a estrutura lógica do site e é ele quem o administra. O design do site é do Eric Erói Messa, professor da FAAP e especialista em marketing interativo. É na empresa dele ― a High Performance ― que as capas dos discos estão sendo escaneadas para o site. As gravações dos trechos de 30 segundos das músicas que o site apresenta estão sendo feitas por João Antônio Baptista, produtor da Rádio Cultura AM. Tanto o trabalho de escaneamento das capas quanto o de gravação das músicas ainda estão sendo feitos e levará muito tempo até que tudo o que já está no site tenha capas e trechos de músicas. O trabalho é lento, porque somos poucos. Ainda não tenho patrocinador e meu subsídio são os outros trabalhos que faço.
5- Como você faz para manter o site atualizado? Qual o critério que você usa para decidir o que entra na sua discografia? Você continua fazendo a seleção pessoalmente?
Bem, como já disse, esse site é a catalogação de uma discoteca particular. Portanto, há um recorte extremamente pessoal nesse trabalho. O que acontece é que sou capaz de perceber a qualidade e a importância de um trabalho musical independentemente do meu gosto pessoal. Então, tenho muitas coisas que ouço como estudiosa, mas não ouço para o meu deleite. O critério, portanto, é o da qualidade. E qualidade é uma coisa objetiva. Por isso, você nunca verá no site um disco da Kelly Key ou do Latino.
Eu continuo fazendo a seleção e também a catalogação dos discos. Esse trabalho é meu. Noventa e nove por cento daquilo que está no site foi comprado por mim. E sou eu quem faz a catalogação exatamente em função dos músicos instrumentistas que, muitas vezes, têm que ser “buscados” nos discos, porque as fichas técnicas nem sempre identificam as faixas em que estão tocando. E só um ouvido muito treinado consegue fazer esse trabalho sem muitos erros.
6- A música brasileira é muito apreciada e estudada no exterior. Pra quem já navegou no seu site é natural imaginar a importância de torná-lo um site de amplitude internacional, tanto na divulgação como no acesso. Já existe um trabalho neste sentido?
Desde o momento em que comecei a construir o site tenho a firme intenção de traduzi-lo, ao menos para o inglês. Esse é um trabalho enorme e muito caro. Enquanto eu não conseguir um patrocínio, os estrangeiros que quiserem navegar nele vão ter que se esforçar para entendê-lo. Quem sabe assim eu não difundo, também, a língua portuguesa?
7- Se alguém tiver um CD pra te indicar, como deve proceder?
É só entrar em contato comigo através do site e eu oriento como fazer.
Não deixem de navegar por este site maravilhoso da música brasileira.
Um abraço,
© SITE DA GRANJA. TELEFONE E WHATSAPP 9 8266 8541 INFO@GRANJAVIANA.COM.BR
