TELEFONE E WHATSAPP 9 8266 8541 | Quem Somos | Anuncie Já | Fale Conosco              
sitedagranja
| Newsletter

ASSINE NOSSA
NEWSLETTER

Receba nosso informativo semanal


Aceito os termos do site.


| Anuncie | Notificações

Modo de Ver

Vacas Paradas A “Cow Parade”, que poderia ser traduzida por “Desfile das Vacas” ou “Parada das Vacas”, talvez tenha alguma tradução mais adequada, mas não conheço

20/10/2005



A “Cow Parade”, que poderia ser traduzida por “Desfile das Vacas” ou “Parada das Vacas”, talvez tenha alguma tradução mais adequada, mas não conheço.
Para quem não sabe, este é um evento que pretende ser artístico e ocorre já há muitos anos em várias cidades do mundo. Mas, por já ter ocorrido tantas vezes em tantos lugares, tornou-se repetitivo; e muito, mas muito raramente surge uma vaca interessante. São vacas em tamanho natural, feitas de material sintético e trabalhadas por artistas diversos, com colagens, pinturas, adereços e intervenções.
Quando surgiu, anos atrás, tinha o sabor da novidade, de formato e de situações, que obviamente foram se esgotando e tornando-se mais um produto. Um produto chato e medíocre.
Funciona assim: convidam-se artistas para apresentarem projetos para uma vaca. O projeto será aceito se vier acompanhado do patrocínio de uma empresa, pois ele tem um custo que varia de 20 mil a 60 mil reais, para mais ou para menos a depender de uma série de circunstâncias. Como tudo que envolve arte nos dias de hoje, todo o processo está atrelado a alguma causa social, com parte da verba destinada a alguma instituição, ONG ou fundação, fazendo com que os patrocinadores possam dormir melhor à noite ou se vangloriar de estarem contribuindo para um mundo melhor. Não importa se suas empresas, na verdade, não contribuem em nada para um mundo melhor, seja por suas atitudes, sua estrutura ou ganância.
A São Paulo dos dias de hoje, que é uma cidade sem personalidade, que copia e recebe tudo que já está velho lá fora, ou que não deu certo, ou que tem outro formato, adapta-se alegremente no nosso já famoso triunvirato “marketing, Governo e corporações”. Neste caso específico, mas também em muitos outros, a arte e o artista ficam diminutos, virando produto no sentido terminal da palavra, não tendo a menor importância. Tipo, tanto faz. Não estou dizendo que o artista não receba por esse trabalho. Não sei quanto e provavelmente deva variar em função de uma série de fatores. Mas seguramente privilegia-se o marketing, esquecendo-se da arte.
Relato um caso de uma amiga artista que no começo deste ano solicitou um patrocínio para uma determinada empresa. Motivo: exposição individual que deveria fazer. O valor pedido era algo em torno de 8 mil reais para cobrir as despesas de sempre: cromos, transporte, montagem, convites, correio, vernissage. Valor até baixo. Muito bem, não conseguiu o patrocínio. Mil desculpas: falta de verba, falta de inteligência, falta de decência, etc., etc., etc. Quatro meses depois, qual não foi a sua surpresa por saber que esta mesma empresa tinha patrocinado uma dessas vacas e pago 55 mil reais. Procuramos a vaca por São Paulo e descobrimos que este exemplar, assim como 90% de suas companheiras, estaria melhor no pasto junto com os presidentes dessas empresas patrocinadoras, alegremente ao lado do secretário de Cultura do município. Por serem todos seres artificiais, não corriam o risco da aftosa, e assim distantes contribuiriam realmente para um mundo melhor e mais agradável.
Relato ainda um outro caso. Alguns anos atrás, fui levado por uma galerista amiga minha à residência de uma colecionadora de arte. Ela havia adquirido uma dessas vacas e havia chamado dois grandes artistas brasileiros para trabalhar e pintar, cada um em seu estilo e com total liberdade criativa, um dos lados da vaca. O que vi era belo, muito belo. Um dos artistas, depois de dois meses de trabalho, já havia terminado sua parte. O outro estava quase terminando. Acompanhei por horas e me senti honrado pela deferência do artista para comigo, ao permitir que ali ficasse até o final. Ambos foram pagos pelo valor pedido. Todos os dias eles eram choferados para a casa da cliente, almoçavam divinamente e tinham seu espaço próprio para trabalhar. O resultado está em uma de suas salas e posso dizer que é extraordinário. Reparem na diferença de formato do trabalho proposto e de excelência, em ambas as situações.
Ouvi muita gente do meio artístico, principalmente outros artistas, e eu mesmo no início, sugerindo ações de intervenção, como arrastar uma vaca pelas ruas, quebrá-la, serrá-la, enforcá-la e outras atitudes de protesto. Sempre argumentei que em todas as vacas existe uma placa que diz o nome do artista e a empresa patrocinadora e, portanto, qualquer ato neste sentido estaria desrespeitando o ARTISTA, não interessa qual. Acredito que os artistas devam ser respeitados e não seria justo agredir um trabalho, mesmo quando o próprio evento os desrespeita.
Quero dizer que fui convidado a participar da “Cow Parade”, mas não fui atrás, principalmente por não me sentir capaz de fazer ou participar de algo de que não pudesse me orgulhar.
Como toda a cultura deste país, essas vacas estão paradas, e os artistas estão sendo transformados pelo sistema corporativo em GADO.


Veja mais

País de Iluminados
Sumpalo
Bushada
Pantomina Brasileira
Sem Adversários
Lesma Lerda
O País do Tudo Bem
Corrupção virulenta
Infindável Desperdício
Estratégias de Manipulação
Patricia Kaufmann
Dívida Externa
Ressaca Eleitoral
GUCCI - O império do novo luxo completa 85 anos
Fernando Ribeiro
Isabelle Ribot
Elaine Gomes
Artistas em uma civilização de consumo e desperdício
Canalhices
Você Escolhe

 




Pesquisar




X

































© SITE DA GRANJA. TELEFONE E WHATSAPP 9 8266 8541 INFO@GRANJAVIANA.COM.BR