09/09/2005
No começo dos anos 80, Francesco de Gregori, um compositor-cantor italiano de grande talento, lançou o disco Burattini senza
fili, cuja tradução literal nos dá o título da coluna desta semana.
Havia um componente político e crítico em todas as músicas, referindo-se às massas, aos controladores das massas e aos controladores dos
controladores. O teatrinho de marionetes, obedecendo a comandos que provinham
de condicionamentos incutidos ao longo de pelo menos dois mil anos de
equívocos e obedecendo a uma lógica que não pode ser terrestre.
Fazendo um zoom sobre o nosso planeta, chegamos às terras do Pau-Brasil, onde o Partido dos Trabalhadores reúne-se todos os dias, em intermináveis discussões que não chegam a nada, mostrando que a verdadeira vocação dos revolucionários locais é fazer reuniões, nada mais que isso: falam, falam e não chegam a lugar algum. Todos os outros partidos, com pequenas mudanças de vírgula, fazem o mesmo, dentro de seu hermético feudo.
Os controladores das massas também falam à exaustão sobre economia, mercados, arrecadação, como se tudo isso tivesse a ver com os controlados e fosse importante.
E os controladores de controladores parecem viver em algum lugar inacessível, agindo secretamente em uma missão desconhecida dos pobres mortais, que seria insuportável para as mentes da humanidade saber.
As pessoas ― e aqui me incluo ― endividam-se para pagar impostos, mantendo uma estrutura que vive de privilégios e usa tudo o que é arrecadado em benefício próprio e continua enganando e destruindo qualquer possibilidade de vidas melhores e mais iluminadas. Pagamos para ser machucados. Se isso não é masoquismo, não sei o que é. Sempre detestei dar ordens e por isso mesmo odeio recebê-las. As massas, por sentimentos de culpa, medo e poltronaria, pensam o contrário. Então, quando a placa de
aplausos sobe, aplaudem, vaiam, choram, puxam o saco ou repetem algum clichê estúpido e desnecessário.
A expansão de nossas fronteiras agrícolas obedece ao modelo arcaico e bruto introduzido pelos bandeirantes três séculos atrás e ainda as escolas os tratam como heróis. E estradas, vias e praças são nomeadas em homenagem a carniceiros ignorantes. Com a sofisticação do marketing baseado em estudos psiquiátricos, tudo isso prossegue imutável.
Nestes confusos e atormentados dias de nossa colônia, fala-se muito em uma reforma política, e o que foi proposto até agora é uma obra-prima do vácuo cerebral. Duas coisas são fundamentais agora: o fim do voto obrigatório e o fim da reeleição.
E acima de tudo, pessoas públicas são cidadãs que diferenciam-se das outras somente pela capacidade e carga de responsabilidade, portanto estão sujeitas a absolutamente as mesmas leis estúpidas que o restante da população. Fim dos privilégios e foros especiais. Se se quiser servir ao País e a seu povo, que seja por vocação e grandeza, nada mais que isso. Sem esquecer o belo salário. Não sendo assim, o que você, cidadão, ganha com isso?
Se isso não acontecer, vote em branco nas próximas eleições ou anule seu voto. Já que se fala tanto em democracia e cidadania, que elas sejam praticadas.