26/01/2006
Da França segui para Israel e conheci uma pessoa que causaria uma grande polêmica para o tênis e para o esporte em todo o mundo nos anos 70. Foi o fato mais inusitado que já presenciei em toda a minha vida esportiva.
Um tenista que conheci homem e que veio, mais tarde, jogar no Brasil como mulher. Isso mesmo! Em Israel, durante um torneio internacional, em 1972, esse jogador inclusive venceu meu parceiro de viagens, Flávio Arenzon.
Quatro anos depois, esse mesmo tenista jogou, usando um vestidinho, uma competição no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
Se hoje isso ainda soa meio estranho, imagine qual não foi a repercussão em 1977!
O doutor Richard Raskind, um conceituado oftalmologista, virou Renneé Richards após cirurgia. Através de documentos, essa pessoa conseguiu na Suprema Corte Norte-americana permissão para disputar o circuito feminino de tênis. O fato era raro para a sociedade e ganhou ainda mais projeção devido ao personagem ser alguém de uma atividade pública, como a prática do esporte de alto rendimento.
Quando eu o conheci, em 1972, eu tinha 20 anos.
O assunto foi muito polêmico – como não deveria ser diferente. Os Estados Unidos permitiram a sua inclusão em torneios femininos, mas teve países que não aceitaram aquela condição, como a Itália, que impediu sua presença em torneios de mulheres. Ela é a única pessoa, em toda a história do tênis de alto nível, a disputar as chaves masculina e feminina de um Grand Slam. Em 1960, competiu no US Open entre os homens e, em 1977, voltou a disputar a competição entre as mulheres. Em ambas as oportunidades, ela perdeu na primeira rodada. Em sua investida no circuito feminino, não obteve resultados expressivos. Mas, mesmo assim, marcou época.
Reneé tinha 42 anos quando fez a opção pela mudança de sexo. Foi treinadora de Martina Navratilova nos anos 80 e tem essa fase da sua vida registrada no filme “Jogo Perigoso” (Second Serve), estrelado por Vanessa Redgrave.