14/08/2008
A abertura de mais uma Bienal do Livro em São Paulo traz à tona uma já antiga discussão que permanece atual e polêmica: O livro eletrônico – o e-book – vai por fim ao livro em papel?
O primeiro aspecto que desponta, diz respeito ao avanço tecnológico que permeia a cultura, as ciências e as artes, o saber como um todo, no qual o livro impresso encontrou sua máxima expressão e meio de comunicação, imbatível através dos séculos. Se a escrita foi o discutível marco zero da nossa História, o livro certamente foi o carro-chefe de um primordial processo de globalização, de democratização do conhecimento e disseminação da cultura humana. De repente, vemos esse precioso ícone, tão familiar às mãos de muitos, em crise de identidade, perdendo seu perfil histórico para a tecnologia, que toma conta de espaços que antes pareciam invioláveis. Mas será mesmo assim? Não seria o caso de aproveitarmos o avanço científico no sentido de diversificarmos, em vez de substituir, os suportes materiais que dispomos para o conhecimento ou para o lazer?
Já há alguns anos, muito da literatura científica tornou-se disponível em CD-Rom, o que foi nos habituando a ler na tela o que só fazíamos em livros. Hoje, é quase impossível prescindir do conhecimento escrito e também sonoro, sem o uso da Internet, que abrangeu não só a ciência, mas a cultura como um todo. Atualmente, se quisermos ler um livro digitalizado, está cada vez mais fácil de obter acesso a ele. O custo é muito menor, podemos gravá-lo em vários tipos de aparelhos móveis, transportáveis como o livro em papel, e que ainda podem ser ouvidos, além de lidos, o que o torna objeto de inclusão digital, no caso dos deficientes visuais. Uma opção a mais, que não nos força a abrir mão da literatura impressa.
Um detalhe importante nessa transposição do livro impresso para o digitalizado, é a questão do tempo que dedicamos à leitura e do envolvimento com a obra. No caso da leitura científica, técnica, ou seja, a literatura ‘necessária’, a tecnologia proporciona um benefício imenso, pois elimina muitas barreiras, especialmente de tempo, acessibilidade às obras e barateamento de custo. Já quando nosso objetivo é mergulhar na obra, dar asas à nossa imaginação, manusear o livro com carinho, dar o som que quisermos à fala dos personagens ali presentes, soltar a fantasia, perder tempo com ele, aí parece que os recursos digitais não seriam os mais indicados. Guimarães Rosa define o leitor aflito para terminar logo sua leitura como “leitor cavalo”, que come apressadamente tudo, sem tempo para ruminar...
Portanto, vai do gosto do leitor. As possibilidades são muitas, as ofertas estão aí, o que vale mesmo é querer e poder – ler! Termino com uma frase que expressa de alguma forma essa faceta controversa dos avanços tecnológicos:
“Tecnologia é a resposta, mas qual era a questão?” (Cedric Price, 1979).