15/01/2009
Em recente entrevista, o suplente de vereador Zeca Pamplona, eleito no último pleito por Cotia e morador da Granja, sugeriu entre outras coisas, um sistema de monitoramento por câmeras nos principais acessos ao bairro, no sentido de reforçar a proteção aos moradores.
Sem entrar no mérito da proposta, vem o pensamento do quanto as novas tecnologias, a despeito de suas inquestionáveis qualidades, têm também sido uma afronta à nossa privacidade, em nome da segurança que o Estado não garante mais. O privado, diante dessa falência, está se tornando público. Aliado a esse aspecto, a exposição voluntária e involuntária que a internet proporciona, o big brother televisível, retrato da ânsia de ver e ser visto, nossa disponibilidade permanente para o mundo via satélite, parecem estar decretando o fim da intimidade, da liberdade de estar sozinho ou com quem quiser sem ter que sorrir para as câmeras, ou ainda do desejo legítimo de não querer ser acessado, sem que isso constitua ofensa ou falta grave.
Tudo parece contribuir para a vitrine que a vida se tornou: celulares pegam na maior parte da superfície do planeta, a internet sem fio nos mantêm atados e informados até do que ainda não aconteceu, IPods que comportam milhares de músicas, caso sejamos abduzidos para alguma outra galáxia que não conheça essa arte, bolsas e bolsos são detectáveis e revistáveis em bancos, lojas e aeroportos, há câmeras em toda parte, inclusive elevadores, inibindo aquela checada inevitável no espelho.
O pior disso é que todo esse conjunto persecutório foi amplamente incorporado à nossa rotina, já não a concebemos mais sem todo esse aparato. Até na praia é possível observar as pessoas em férias, descansando, mas conectadas ao mundo ativo, cansativo; seminuas, mas cobertas de aconchegantes tecnologias.
O conceito de aldeia global, tão alardeado nos anos 70, certamente não previu o quanto a individualidade, o particular, o privativo viria a ser tão comprometido em nome de uma vida em rede.