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Agito Cultural

Silvia de Lucca Silvia de Lucca é mestre em Artes pela ECA-Usp, graduou-se em piano e Psicologia em 1982 e 1983, respectivamente

06/04/2006



Silvia de Lucca é mestre em Artes pela ECA-Usp, graduou-se em piano e Psicologia em 1982 e 1983, respectivamente. Residiu em Zurique e Genebra (1989-1993), onde se especializou em Composição.

Atualmente dedica-se também às atividades de docente em diversas disciplinas musicais. Empenha-se na valorização do humano, das diferentes culturas e do indivíduo por meio de realização de pesquisas, palestras, criação de textos, elaboração de projetos sócio-educativos-culturais e, sobretudo, ao projeto ARTE DOS SONS, por ela idealizado e ministrado desde 1992 e que é destinado ao público leigo. Entre seus maiores objetivos está a conscientização do papel que os meios de comunicação de massa exercem na concepção musical brasileira.

1. Estamos no mesmo barco de música, mas você na horrivelmente chamada "música erudita", e eu, na não menos horrível "música popular". O que você pensa sobre estes "rótulos"?
As classificações podem ter uma função didática, de esclarecimento, para que se reconheçam as especialidades de cada área ou setor. Contudo, a mera classificação - no caso, músicas Erudita e Popular – sem que se tenha familiaridade suficiente com ambas para compará-las com mais profundidade em busca de mais conhecimento, acaba por provocar em grande parte do público uma distinção equivocada. Isto, não raramente leva a preconceitos muito cruéis. E pior, essa falta de informação generalizada acaba sendo usada, inclusive, pelo sistema político vigente, propositalmente ou por ignorância, para fazer valer o que se deseja como "verdade" para a sociedade. Houve épocas e lugares em que "Música Popular" era interpretada como ausente de nobre valor, hoje, no Brasil, por exemplo, o termo "Música Erudita" é tomado como sinônimo de antidemocrática. São termos muito ambíguos, que facilitam essas e outras falsas relações. Poderíamos acrescentar ainda o termo Música Folclórica, para fazer referência às três principais classificações da música ocidental. Entretanto, é bom lembrar que são incontáveis os gêneros fronteiriços, que não se encaixam em uma ou em outra classificação. Assim sendo, podemos questionar se esse modo de conceituar a música ajuda ou atrapalha.

2. Você morou alguns anos na Europa onde se especializou em composição. Como foi esta experiência e em que sentido prático esta vivência acrescentou conteúdo ao seu conhecimento como musicista?
Hoje, refletindo sobre isso, posso afirmar que fui atrás de nossa identidade brasileira e conseqüentemente atrás de minha brasilidade pessoal. Sobre a nossa cultura, ou sobre aS nossaS músicaS brasileiraS, ocorria perguntar-me qual seria entre elas o elo comum. Durante aquele período, ao freqüentar diversos eventos musicais, sentia que a música brasileira caracterizava-se de um modo peculiar mas, qual seria ele? Nada percebia diretamente relacionado à técnica de compositora que fosse significativamente distinto em nosso universo. É sabido, por exemplo, que a música brasileira contém algumas células rítmicas características, mas percebia não estar aí a nossa identidade musical, o que seria de grande simplicidade diante do tudo que ela representa.

Uma tarde, conversando com um compositor suíço sobre as diferentes características dos diferentes povos, creio ter começado a esboçar uma resposta para aquela antiga busca ao citarmos a palavra ENERGIA. Anos depois, já de volta ao Brasil, ao ler o livro de Leopold Stokowski, "Música para todos nosotros" (1954), certifiquei-me tranqüila que a palavra "energia" não era descabida para qualificar nossa música, não importando qual seja sua especialidade. O mitológico regente contribuiu para que eu resolvesse quase que uma charada: a caracterização de nossa música está no CONTEÚDO, e esta consciência me fortifica no sentido de que, agora, eu entendo a função de minha música no mundo.

3. O que um estudo de composição abrange, especificamente? Trata do estudo das grandes obras de ótimos compositores ou, simplesmente, aprende-se a fazer música?
Não é possível aprender a fazer música ou, melhor dizendo, não é possível aprender a ter idéias sonoras ou criar sons que não existem. Podemos sim aprender como melhor materializar tecnicamente a nossa fantasia, seja para redigi-la, quando necessário; seja para interpretá-la em um instrumento ou voz, de modo a ser fiel ao que se desejou expressar quando ainda no mundo da imaginação. Costumo dizer aos alunos que, ao desejarmos escrever uma carta, sabemos de início o que queremos transmitir, ao menos superficialmente, tanto os assuntos em si como o modo de fazê-lo. Ou seja, ser mais ou menos formal, mais ou menos objetivo, mais ou menos emocional, mais ou menos extenso, etc. Contudo, não basta ter essa consciência, nós precisamos saber escrever para redigir uma carta, ou ao menos saber ditá-la, e aí está o aprendizado. E quanto a conhecer as obras dos compositores consagrados, observamos justamente COMO, na prática, eles organizaram os sons para transmitir as suas mensagens. Interessa saber a estrutura de suas músicas assim como o seu funcionamento interno: que sons ele usou, em que ordem, como os combinou, etc.

4. Você também é formada em psicologia e, neste aspecto, como você avalia o material que é imposto pelas rádios, TVs e pela mídia impressa, incluindo revistas especializadas e de entretenimento, para o jovem consumidor da música?
Entendo que não somente os jovens, mas o ouvinte (e leitor) em geral, está envolvido quase que somente com uma prática musical simplificada, repetitiva e padronizada. Limitada exclusivamente a alguns poucos estilos e gêneros. O que está em contradição com a multiplicidade da produção musical do planeta e mesmo brasileira. Além do que, essa restrita amostra do que é difundido, comumente não tem compromisso com a informação, amplitude e conteúdo, e menos ainda com o papel educativo desse material musical, que é visto sobremaneira pelos responsáveis como "produto de mercado". Trata-se de uma realidade que propicia a formação de hábito e gosto restrito, limitando o ouvinte à inexperiência sonora, à falta de parâmetros, à conseqüente desinformação musical generalizada. Esta situação, por sua vez, é absolutamente favorável à criação e desenvolvimento de mecanismos que procuram direcionar o ouvinte para o interesse que mais convém à indústria cultural e ao sistema capitalista: à compra compulsiva sem exigência. Eu poderia resumir dizendo que todo esse processo faz com que a personalidade de cada um, suas reais necessidades e interesses, e o direito à liberdade, sejam ignorados.

5. Você tem uma atividade política-social significativa, seja escrevendo matérias, ensinando música e etc. Na sua opinião, o que de mais urgente deve mudar na nossa sociedade em benefício da verdadeira e boa música?
Proporcionar a todos, mas principalmente às crianças e adolescentes, o desenvolvimento de uma atividade musical com finalidade sócio-educativa-cultural, para que esse fazer possa despertar neles, e em quem com eles convive, a não-submissão aos problemas existentes, tanto pessoais como sociais. O envolvimento artístico gera novas referências e conseqüente interesse e confiança em buscar alternativas para a melhoria geral da qualidade de vida. Compreende-se aqui o papel fundamental que uma (boa) escola pode exercer na comunidade e no desenvolvimento geral do ser humano, que não se limita a (mal) ensinar a ler, escrever e fazer algumas operações matemáticas, para se saber o quanto é necessário trabalhar ou produzir a mais para pagar as próprias despesas.

No entanto, esse trabalho educativo deve vir de várias frentes, e não somente da escola. E é preciso que passe necessariamente pela consciência e envolvimento do ouvinte - via difusão musical democrática -, a possibilidade infinita de conhecimento da música existente para o nosso proveito. Isso propiciará maior liberdade para a descoberta do que verdadeiramente atrai e interessa a cada um como música, inclusive como cultura, ideologicamente falando.

6. Fale um pouco dos seus projetos atuais e futuros.
Depois de 40 dias de estadia em Buenos Aires, acabo de chegar. Na verdade, eu não suportava mais este cotidiano brasileiro-paulistano (2005 foi um ano de muitos conflitos e incertezas sobre a nossa rota), e resolvi "dar um tempo" da Terrinha. Ali pude trabalhar, estudar, caminhar e refletir muito. Dei uma entrevista na rádio Palermo sobre minhas pesquisas musicais e sobre o meu trabalho como compositora. Agora há o desafio de tentar mais uma vez adaptar-me ao que compreende um profissional autônomo em um país tão instável que desconhece as áreas de Educação, Cultura e Arte e todo o seu potencial. É preciso respirar fundo e seguir.

Na prática dedico-me a terminar um trabalho que deverá tornar-se um livro em breve, destinado ao grande público que diz aquela frase "eu adoro música, mas não entendo nada"; também inicio a composição de uma série de obras para várias formações instrumentais; continuo a envolver-me com projetos que visam o acesso dos ouvintes à diversidade musical não disponibilizada pela grande mídia, e mantenho continuamente a minha atuação como docente.


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