09/09/2005
Marcelo Brissac, meu amigo há alguns anos, é músico de muito talento e sensibilidade, que também trafega pelos caminhos da produção musical nos seus bastidores.
Tive o prazer de trabalhar com Marcelo em diferentes oportunidades. Conheci-o quando ele trabalhava no Studio MC2, do Cid Campos. Brissac é equilibrado, culto e dono de muito bom senso. Teve uma participação valiosíssima na produção dos CDs do Cid ― No Lago do Olho e Fala da Palavra ―, nos quais gravei violões e guitarras.
Houve um outro momento, curioso e marcante, que foi o lançamento do "álbum" de poesias do nosso amigo Walter Silveira. O evento, chamado "Cabaré Walter", aconteceu numa casa muito gostosa na Rua Augusta ― Panino Giusto. Walter reuniu vários artistas para fazerem as leituras dos poemas de seu álbum. Entre os parceiros e artistas presentes às leituras estavam Arnaldo Antunes, Lenora de Barros, a Tiazinha e, claro, o próprio poeta e muitos outros que iam lendo e interpretando os poemas enquanto eu, Cid e Marcelo Brissac, simultaneamente, íamos fazendo um verdadeiro free, musicando toda aquela energia que rolava. Foi muito bom estar lá, com a casa lotada. Também foi muito divertido curtir aquele momento que por todas as boas razões ficou gravado na memória.
Hoje Marcelo Brissac está no Rio de Janeiro, coordenando toda a programação da rádio MEC e vai nos contar como é seu trabalho por lá.
1- Como surgiu seu interesse em estudar flauta? Geralmente os músicos que tocam um instrumento de sopro também se dedicam a outros instrumentos, como o sax, o clarinete etc. Este é também o seu caso?
Comecei a me interessar pela flauta quando tinha uns 16 para 17 anos, ouvindo discos do Jethro Tull, que tem o flautista Ian Anderson e rock-and-roll na veia. Só estudei flauta.
2- Seus trabalhos, como músico e de uma maneira geral, estiveram ligados à música de vanguarda. Isso não limitou suas oportunidades de trabalho? Você desenvolve seus próprios projetos ou é convidado para tocar em outros?
Sem dúvida, no Brasil, o trabalho com música contemporânea e ligada à experimentação ― ou como diz o poeta Augusto de Campos, à invenção ― torna mais difícil conseguir locais para apresentações, mas sempre me apresentei em espaços como o SESC e fora do Brasil (EUA e Alemanha). Durante vários anos desenvolvi projetos com Livio Tragtenberg e temos um CD ― Bazulaques brasileiros ― que fizemos juntos, nessa época, que durou de 1989 até 1992. Tocamos em vários lugares em São Paulo, Rio, Curitiba e fora do País.
3- Hoje, como coordenador de programação e produção da rádio MEC FM no Rio de Janeiro, você exerce uma função de decisão, o que implica o poder de escolha e, conseqüentemente, o risco do acerto e do erro, do que funciona para um determinado público e o que pode não funcionar. Como você deixa fluir a sensibilidade do músico Marcelo? Seus gostos pessoais estão presentes na função?
Por incrível que pareça, sempre ouvi de tudo na minha vida, desde rock-and-roll até produções mais contemporâneas. Sempre tive em minha cabeça que existe música boa e música ruim, seja ela jazz, instrumental, cantada, popular etc. Aqui na Rádio MEC ― eu vim para cá há 8 meses, ocupando uma função de gerência ― acaba não dando tempo para eu influenciar muito nas músicas que são tocadas. Claro que ouço e comento sempre com os produtores e programadores sobre esta ou aquela música e, sempre que dá tempo, indico uma coisa ou outra. A grade da MEC FM é basicamente música de concerto ― cerca de 85%.
4- Você tem contato direto com o público ou acaba sendo um trabalho de bastidor? Como você recebe o feedback do resultado direto do seu trabalho?
Eu tenho pouco contato com os ouvintes, mas temos pesquisas feitas pela Central de Atendimento ao Ouvinte e pelo IBOPE, pelas quais avalio como vai indo a rádio e também circulo um pouco neste mundo do concerto. E, quando as pessoas sabem, vêm sempre comentar alguma coisa comigo.
5- Um amigo tem uma banda e, como estratégia, o trabalho começou a ser mostrado primeiro em rádios do interior de SP… Qual é o processo que o artista tem que percorrer pra fazer seu trabalho tocar nas rádios? Que dica você daria para uma banda que inicia ou um artista que produz um CD independente, por exemplo?
O trabalho de divulgação chega a ser quase um ato de loucura aqui no Brasil. Se o trabalho é comercial, tudo bem, porque, apesar da pouca durabilidade e consistência, ele vai sendo divulgado pelas gravadoras, que têm interesse comercial, como na venda de carros, sapatos etc. Quando se fala em trabalhos independentes, aí é que as dificuldades aparecem, primeiro porque as rádios comerciais não têm nenhum interesse. Creio que o melhor caminho é procurar rádios com perfil mais cultural. Normalmente isto é feito pelas rádios públicas, como a MEC, a Cultura/SP e outras em estados diversos.
6- Soube, aqui em São Paulo, que você acaba de comprar um iate e um apartamento novinho. Como foi isso? Rsss Falando sério, como foi mudar da grande SAMPA para o Rio... e como você está lidando com uma cidade tão rica e diversa culturalmente?
Puro boato, porque me mudei para cá, mas não recebo malas de dinheiro. Rssss. Olha, como paulistano que sou, nunca havia imaginado morar no Rio. Mas como a vida é cheia de curvas, ou a estrada é muito comprida... essa você conhece. Estou gostando do Rio. É uma cidade muito bonita, mas também cheia de problemas que afetam, claro, seu lado cultural.